Setecidades Titulo
Orfanato maltratava crianças em SP
Bruno Ribeiro
Do Diário do Grande ABC
15/11/2006 | 22:10
Compartilhar notícia


Todas as denúncias apuradas pelo Conselho Tutelar de São Bernardo e pelo Ministério Público contra a Casa Esperança e Vida, orfanato clandestino que explorava crianças no bairro Estoril, são reincidentes. Um processo da Vara Central da Infância e Juventude do Fórum João Mendes Júnior, no Centro da Capital, comprova que desde 1999 a entidade maltratava crianças, desviava doações destinadas a elas e divulgava panfletos de meninos e meninas sadios como se eles fossem portadores de Aids. Em 2 de agosto de 2002, o juiz daquela Vara, Reinaldo Cintra Torres de Carvalho, ordenou a lacração da entidade. A organização fechou as portas no Brás, Centro de São Paulo, e reabriu em São Bernardo.

A sentença proferida em 2002, à qual o Diário teve acesso, relata uma situação pior ainda na Capital do que a denunciada pelos órgãos de defesa da criança de São Bernardo. O orfanato, na época, abrigou crianças – todas em situação irregular e sem a documentação adequada, uma vez que a entidade nunca chegou a ter licença dos órgãos competentes. Havia falta de cuidados com a higiene e vestimenta das crianças e do local onde elas viviam, segundo a apuração da promotoria.

O fato mais grave relatado na sentença foi a morte de um recém-nascido de 3 meses. Ele tinha Aids e nem chegou a ter um prontuário médico, o que impediu o MP de concluir qual foi a causa da morte. A falta de prontuário é outro indicativo de que as crianças não recebiam atendimento adequado.

No Brás, médicos a serviço do Ministério Público comprovaram que as crianças eram mantidas sem condições adequadas de saúde e eram vítimas de maus-tratos, descritos como “castigos imoderados” na sentença. A promotoria acusou a entidade de negligência médica, alegando que as crianças não recebiam o tipo de atendimento clínico adequado para crianças.

O uso de crianças sadias em campanhas para Aids, pelo que indica a sentença, é velha estratégia usada pelo orfanato. “A entidade divulgava atender crianças com o vírus HIV, para despertar a compaixão de doadores, o que não correspondia à verdade”, diz o processo.

O modo como a entidade arrecadava donativos nas duas cidades também era parecido. “Brinquedos e roupas doados não ficavam para as crianças, pois eram retirados pela presidente (Maria Aparecida Cordeiro)”, segundo o MP paulistano. Em São Bernardo, a conclusão da promotoria foi a mesma.

O inquérito que a Casa Esperança e Vida respondeu na Capital durou de 1999 a 2002. Nesse tempo, segundo a Promotoria paulistana, a entidade foi convocada inúmeras vezes para regularizar sua situação e continuar operando. Entretanto, os pedidos junto ao Conselho Municipal de Defesa da Criança e do Adolescentes nunca foram feitos.

Por conta de tantas irregularidades, a decisão da Justiça foi pela lacração da entidade, o que de fato ocorreu em dezembro de 2002. A primeira sede da Casa Esperança e Vida de São Bernardo foi aberta cerca de um ano depois, mantendo, de acordo com os levantamentos do Conselho Tutelar de São Bernardo e do MP, as mesmas irregularidades. A Justiça decidiu pela dissolução da entidade na região também, mas os diretores ainda não foram notificados. Os responsáveis pela entidade foram procurados, mas não quiseram se pronunciar. 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;