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Vietnamita busca pai americano em Uma Nova Vida
09/06/2006 | 07:59
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Havia, no Festival de Berlim de 2004, diversos filmes na competição que tratavam da complicada relação entre pais e filhos, como se o tema da paternidade fosse uma chave para se entender, mesmo que metaforicamente, os conflitos do mundo atual. Você já viu Minha Terra, porque o filme de John Boorman sobre os esqueletos do apartheid, baseado no romance de Antjie Krog, estreou antes. Chega agora Uma Vida Nova, de Hans Peter Moland, que pode ser desequilibrado, mas é melhor.

A história trata de refugiados, por meio desse rapaz vietnamita, filho de um soldado americano, que parte em busca do pai, numa viagem que o leva de Ho Chi Mihn, ex-Saigon, a Nova York e ao interior do Texas. Moland é sincero – ele sabia que tinha de transmitir ao espectador todas as dificuldades da viagem de Binh, mas o que o interessou foi a etapa final dessa trajetória, o encontro com o pai e a necessidade de perdoar.

A sexualidade de Binh é reprimida na maior parte do tempo, na verdade, durante todo o tempo, embora ele seja acompanhado por uma prostituta (Bia Ling).

Na abertura de Uma Vida Nova, Binh é esse vietnamita alto e de olhos claros, sinal de que é mestiço, filho de uma nativa com um americano, concebido durante a guerra. Ele conheceu todo tipo de discriminação e humilhação por ser diferente. Quando encontra a mãe, de vergonha não consegue encará-la. Binh vê o mundo do ângulo da sua inferioridade – e, na casa de seus patrícios ricos, só consegue visualizar o sapato da patroa e do filho dela. Toda a história de Uma Vida Nova é uma metáfora da elevação do olhar, nas múltiplas etapas que marcam o desenraizamento de Binh – sua fuga com o irmão, o internamento no campo de refugiados, a odisséia no navio, as condições de vida desumanas em Nova York. Não é suficiente elevar o olhar. é preciso ver e, por isso, há um cego na história.

Várias cenas são fortes, mas uma, em especial, cala fundo – é quando Binh descobre que, como filho de soldado americano, sua viagem poderia ter sido outra. O sentimento do que foi perdido bate forte. São 125 minutos de drama e o pai, interpretado por Nick Nolte, aparece só nos 30 ou 40 minutos finais. A descoberta que Binh faz não é de um pai arrogante nem hostil, mas a de um sujeito vulnerável e mais fragilizado do que ele.

Os cínicos poderão achar essa história bem-intencionada demais, o que é um problema deles. A fala crucial, a mais reveladora do filme, é dita pelo capitão (Tim Roth), quando observa que Binh será sempre um estrangeiro, pobre e saudoso de sua terra.

Existem muitos Binhs, aqui mesmo, sem os olhos repuxados dos orientais. é o que faz a universalidade deste filme com defeitos, mas bonito até pela honestidade com que o diretor o termina – de forma pouco conclusiva. Qualquer final feliz para a trajetória de Binh seria falso e Moland sabe disso.

UMA VIDA NOVA (The Beautiful Country, EUA/ Noruega, 2004). Dir.: Hans Petter Moland. Com Bia Ling, Nick Nolte, Tim Roth. Estréia nesta sexta-feira no Cine Bombril 2. Censura: 14 anos. Duração: 128 minutos.



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