Muito papel já foi preenchido, muito palco já foi pisoteado e ainda assim são raríssimos os que conseguiram, tal qual William Shakespeare (1564-1616), permanecer mais de 400 anos como um autor contemporâneo. Verona, Veneza e Dinamarca são as cidades natais de sua fauna humana. Mas, como diria aquela música dos Beatles, bem poderia ser "here, there and everywhere" (aqui, acolá e em qualquer lugar) tamanha a perspicácia do dramaturgo/poeta na exploração da alma e dos atos humanos. Não à toa, é sempre acima da média a presença de adaptações de seus textos no circuito paulista.

Neste domingo, por exemplo, é o último dia da temporada de Otelo da Mangueira no Teatro Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, São Paulo. Tel.: 3234-3000). O dramaturgo Gustavo Gasparini conta a história da Estação Primeira de Mangueira nos anos 40, a partir da tragédia shakespeariana, destilada principalmente do veneno e da desconfiança na relação de Otelo, Desdêmona e Iago. Para narrar uma guerra pelo topo no ranking do Carnaval (na verdade, uma adaptação ambiental e contextual do conflito entre Veneza e os turcos do texto original), a Cia. Atores de Laura é "assessorada" por canções como As Rosas Não Falam e Alvorada, de Cartola e Nelson Cavaquinho.

Encerramento para uns, estréia para outros. Este fim de semana marca o início de temporada de Ricardo III, no Ágora Teatro (r. Rui Barbosa, 672, São Paulo. Tel.: 3284-0290). No papel-título desta montagem, Celso Frateschi. A direção cabe a Roberto Lage. E o enredo, uma variante menos mística de Macbeth e de sua escalada rumo ao poder sem escrúpulos, na qual o disforme Ricardo III mata irmão, sobrinhos e meio mundo para concluir seu plano absolutista sobre o trono da Inglaterra.

Provavelmente a tragédia mais famosa (e menos compreendida) de Shakespeare, Romeu e Julieta fornece tecido dramatúrgico para a montagem da Cia. da M.A.T.I.L.D.E. em cartaz na Faculdade Paulista de Serviço Social (av. Paraíso, 600, São Caetano). Intitulada Romeu e Julieta segundo a Matilde e apresentada às 20h de hoje, descreve o romance entre os ilustres filhos das casas dos Montéquio e dos Capuletto, famílias rivais.

O mesmo texto é o manancial ao qual recorre a ópera em dois atos I Capuleti ed i Montecchi, de Vincenzo Bellini, que ocupará o Theatro São Pedro (r. Barra Funda, 171, São Paulo. Tel.: 3667-0499) nos próximos dias 25, 27 e 28. É apenas a segunda vez que a obra será apresentada no Brasil, 166 anos depois da primeira e única, no Rio.