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Professor de Diadema trabalhou como gari para pagar faculdade
Vanessa Fajardo
Do Diário do Grande ABC
12/05/2008 | 07:03
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Fernando Nonato /DGABC


Quem vê o professor João Ailton Santos, 29 anos, lecionar língua portuguesa na escola estadual Professor José Fernando Abbud, em Diadema, nem imagina o quanto ele batalhou para chegar lá. Nasceu em família pobre, tem pais analfabetos, sofreu o preconceito por ser negro, e nunca teve dinheiro para estudar. Nada disso, porém, foi obstáculo para que realizasse seu grande sonho: se formar em Letras. Mesmo que para isso precisasse trabalhar como gari e varrer as ruas de Diadema, cidade onde mora há dez anos.

E foi o que Santos fez por um ano e três meses, logo que passou no vestibular na faculdade UniABC, no ano de 2000, e se viu sem dinheiro para pagar as mensalidades.

"Passei em frente à uma empresa e vi que estavam contratando garis. Não tive dúvidas. Entrei e me candidatei", diz. A determinação e a coragem para realizar seus sonhos, Santos acredita que tenha aprendido com a experiência desta época. "Não era um trabalho fácil.

No início eu ficava constrangido, porque me sentia invisível. As pessoas esbarram em você e não te pedem desculpas, outras jogam papéis no chão na sua frente. Era como se eu não existisse." Na faculdade, o universitário que varria a rua Sete de Setembro, no Centro de Diadema, também sentia o preconceito dos colegas de classe.

Apesar das dificuldades, nada o abalava. Por nenhum momento pensou em desistir. Tinha o apoio contínuo dos pais que o incentivavam na carreira de professor. Na adolescência, lia as obras de Machado de Assis e Franz Kafka, e esforçava-se para retribuir o amor da família. "Eles se dedicaram e fizeram muito por mim, por isso me sentia obrigado a fazer sempre mais."

SALA DE AULA
O então gari só substituiu as vassouras pelos gizes, nas salas de aulas, quando conseguiu um estágio na escola Salvador Moya, em São Paulo, onde ficou até se formar. Em 2004, foi aprovado no concurso público do Estado e passou a compor o corpo docente da escola José Fernando Abbud. Neste ano, outra vitória marcou sua vida: foi um dos 15 selecionados entre 1.000 inscritos, em um concurso realizado pela Prefeitura de Diadema cujo o prêmio era uma viagem de 45 dias pela França. Mesmo depois de quatro anos, ele vibra ao contar a experiência de conhecer Paris."Às vezes até sonho com isso", ri.

Formado, casado com a vendedora Selma Ferreira Gomes, 35 anos, e pai de André Ferreira, 3, hoje Santos se diz um homem completo e orgulhoso de suas conquistas. O prazer em lecionar é latente. "Fico feliz quando vejo os alunos aprendendo. Tenho um carinho especial por eles. Há classes que nos motivam." O passado sofrido do garoto o tornou um professor carismático, querido pelos alunos. "Muitos são meus amigos e tenho prazer em ensiná-los para que um dia eles tenham uma boa profissão."

Daqui para frente, os planos do ex-gari incluem um mestrado e aulas em universidades.




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