Setecidades Titulo
Profissão de feirante está acabando
Por Caroline Vaz*
06/12/2009 | 07:05
Compartilhar notícia


Faça chuva ou faça sol, toda quinta-feira, Lourival Araújo, 52 anos, monta sua barraca de bananas na feira livre do bairro Assunção, em São Bernardo. A rua João Batista Bianchini torna-se um mercado a céu aberto uma vez por semana há mais de 30 anos. Araújo já a considera uma extensão de sua casa. Ele trabalha nessa rua desde os 40 anos, mas iniciou cedo na profissão de feirante.

Assim que completou o Ensino Médio começou a acompanhar seu pai em feiras da região. Ele não se mostra arrependido por não ter cursado ensino superior. "Essas bananas pagam todas as minhas contas", diz. Hoje, ele tem carro próprio e paga as prestações de seu apartamento no Centro da cidade. A barraca aumentou. Mas, sem o pai, o feirante conta com a ajuda de seu filho mais velho, Jonas, 21.

A tradição da venda de bananas já está na terceira geração. Diferente de Araújo, Jonas faz faculdade de Administração e fala que não quer continuar com as bananas da família Araújo. "Hoje em dia não dá mais para viver disso. As feiras estão cada vez mais vazias", contou Jonas.

Araújo, apesar de tirar o sustento dali, concorda com o filho e acredita que as feiras viveram seu auge nos anos 1980. Não fica por aí. Ele chega até a prever um possível fim para a profissão de feirante nos próximos anos. Tem lá sua razão. Hoje, as feiras não são extensas como antigamente, nem tão cheias, e algumas até sumiram do mapa. Quando Araújo trabalhava com seu pai, Antônio Araújo, a feira da rua Bianchini ocupava quase dez quarteirões. Atualmente, atinge apenas três.

E não foram só os feirantes que sentiram essa diferença. Uma das fiéis clientes da barraca de bananas dos Araújo, a dona de casa Marlene Ricci, 61, não encontra mais todas as suas colegas nas compras de quinta-feira. Além disso, ela não pode mais comprar roupas na antiga barraca que ficava no fim da rua ou as panelas da banca da Araci. "As freguesas foram embora. E as barracas também. Daqui a pouco só tem eu aqui", disse Marlene.

Mesmo sozinha, ela não abre mão de ir à feira toda semana. Junto com seu carrinho de ferro, passa por todas as barracas e cultiva amizade com os feirantes mais antigos. "O ‘seu' Pedro das verduras sempre guarda a alface mais bonita para mim", contou Marlene.

Ela frequenta a feira na rua Bianchini desde a primeira quinta-feira, e revela uma das vantagens que a mantém fiel por todo esse tempo. "Os ovos daqui são maiores e mais baratos que os do mercado, são bem melhores e mais fresquinhos."

Já a filha de Marlene, Edilene Fatigati, professora, 42, não segue os conselhos da mãe e só faz compras no sacolão do bairro. Ela mora uma rua atrás da feira, mas faz questão de pegar o carro e dirigir por dez minutos até o Sacolão Saúde.

"Menos gente, mais higiene. Posso ir qualquer dia da semana. E não preciso acordar cedo", enumerou a professora quando questionada sobre os motivos para trocar a algazarra da feira pelo ar-condicionado do mercado.

Edilene não só prefere o sacolão como odeia as feiras. Já tentou por muitas vezes convencer sua mãe, Marlene, a acompanhá-la. "Já falei para ela que o sacolão é como uma feira com teto. Mas não dá. Acho que ela gosta é das cantadas dos feirantes", brincou Edilene. Ao ouvir isso, Marlene retruca e conta um segredo da filha. "Ela fala que odeia feira, mas toda quinta pede para eu trazer um pastel de queijo de lá para ela."

Nesta briga de família, as duas têm suas razões, porque, apesar de a feira ser uma tradição popular e exercer o papel de uma importante forma de convívio entre a vizinhança, esse sistema de vendas traz alguns desconfortos para os moradores.

As barracas começam a ser montadas muito cedo, o barulho atrapalha o sono. Vários tipos de mercadorias são escolhidas, experimentadas e vendidas durante o dia, ou seja, a sujeira depois da xepa é inevitável.

Para quem mora na rua onde a feira acontece, o transtorno é imenso. É o caso de João dos Santos, 29, que mora na rua João Batista Bianchini, exatamente no segundo quarteirão da feira livre das quintas-feiras.

"É o mesmo o inferno! Tenho que levantar às 4h da manhã para tirar o carro da garagem. Depois, quem dorme?", reclamou. Se ele esquece de tirar o carro de madrugada, só tira depois que a feira acabar.

Santos entra às 7h no trabalho. À noite, frequenta o terceiro ano de um curso de Economia. "Sempre chego atrasado no serviço às sextas porque não aguento levantar."

Vendas nos supermercados aumentam pela baixa inflação

Gislaine Chagas

Ainda não é unanimidade. Mas as vendas de frutas, legumes e verduras nos supermercados têm aumentado nas últimas décadas. Isso se deve, entre outros fatores, à estabilidade da inflação. Mas há outras razões para esse crescimento.

O número cada vez maior de pessoas comprando hortaliças nas redes varejistas tem contribuído para a redução no tamanho das feiras e no consumo dos hortifrutis nas feiras livres, conforme as pesquisas mais recentes apontam.

O faturamento do setor supermercadista com as frutas e verduras gira em torno de 8% a 10% do total. O que explica esse aumento é, entre outras razões, o fato de os donos dos estabelecimentos possuírem várias estratégias para atrair o consumidor, como o uso de novas tecnologias de conservação dos alimentos.

Os consumidores hoje, além das feiras livres, têm mais opções de compra. São supermercados, hipermercados, lojas de conveniência, sacolões e quitandas.

Um dos argumentos para quem vai ao supermercado é a procura por produtos com qualidade. Esse é o caso da administradora de empresas Sandra Regina Palhares, 35. Ela faz compra de hortifrutis no supermercado por ter pouco tempo livre e pela qualidade dos produtos.

Há cinco anos, Sandra parou de comprar produtos agrícolas na feira. Ela só podia comprar frutas e verduras no horário de encerramento da feira. Mas a qualidade tanto da alface quanto do coentro não era a mesma do horário de início. Naquela época, ela frequentava a feira na Vila Lucinda, bairro próximo ao Centro de Santo André.

"Quando a feira começa às 7h, os produtos são mais frescos. As pessoas escolhem os alimentos com melhor qualidade. Mas como aos sábados eu trabalho no período da manhã, não tinha tempo de ir à feira. Quando terminava meu expediente, eu ia para a feira mais próxima do meu trabalho. Um dia tive uma surpresa desagradável", disse Sandra.

O que a desagradou foi o estado em que as frutas se encontravam naquele dia. "Quando fui comprar coentro e alface naquele dia, as duas verduras estavam muito murchas. Não comprei. Precisava também comprar laranja e mexerica, mas não fiz. Estavam muito moles e com as cascas, como diria minha irmã, machucadas, além do cheiro ruim de fruta estragada", explicou.

A partir desse dia, a consumidora passou a comprar hortaliças no supermercado. A administradora afirma que lá os produtos são mais frescos e que, se pudesse dar um conselho para os amigos, "diria para eles comprarem somente nos supermercados". "Quando comprei frutas e verduras pela primeira vez no mercado, gostei da qualidade. Os produtos são mais frescos", diz.

*O conteúdo editorial desta página é de responsabilidade da Universidade Metodista de São Paulo, com supervisão editorial da jornalista Margarete Vieira Pedro. 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;