A primeira viagem internacional do papa Francisco não poderia ter lugar mais apropriado. Amanhã, o santo padre desembarca no Brasil, onde passará quase sete dias realizando eventos religiosos, sociais e políticos. Com perfil carismático – diferentemente de seu antecessor Bento XVI –, o pontífice promete quebrar as formalidades tradicionais do catolicismo. Fiéis, sacerdotes e especialistas em religião esperam que Francisco proporcione momentos inéditos para a Igreja.

“Esse é um papa diferente, do olho no olho. O Bento XVI era cerebral, professor. Francisco é visceral. Ele é o fazer, não o dizer”, comenta o professor da Faculdade de Ciências da Religião da PUC (Pontífica Universidade Católica) de São Paulo.

O lado humilde do pontífice também chama atenção. Antes mesmo de chegar no País, ele tomou atitudes inéditas. Francisco enviou carta à companhia área que fará o translado dele de Roma (Itália) ao Brasil dizendo que não quer nenhum luxo especial durante o voo. Ele viajará sentado na primeira classe, mas não quer a cama que era preparada para os pontífices anteriores durante as longas viagens internacionais. Além disso, o santo padre não terá blindagem no papamóvel, algo comum nas últimas visitas papais.

Na sexta-feira, a pedido do próprio pontífice, as atividades de Francisco na chegada ao Rio de Janeiro foram alteradas. Inicialmente, estava prevista apenas recepção do papa pela presidente Dilma Rousseff (PT). Agora, o santo padre desembarca na base área do aeroporto Galeão, às 16h, e segue de carro fechado até a Catedral Metropolitana. Lá, o líder da Igreja Católica embarcará no papamóvel, no qual circulará por ruas do centro da cidade em direção ao Teatro Municipal, de onde seguirá em carro fechado até o ponto onde embarcará no helicóptero que o levará até o Palácio Guanabara, local onde ficará hospedado.

O bispo diocesano de Santo André, que responde pelas paróquias das sete cidades da região, dom Nelson Westrupp, também acredita que o perfil do novo papa está gerando expectativa muito grande nos fiéis e na própria Igreja. “O lado jovial atrai. Ele se aproxima de todos, sobretudo das crianças, jovens e deficientes. A gente percebe isso nas audiências que participamos em Roma (na Itália). Ele sempre dá atenção muito especial a todas as pessoas, principalmente as excluídas.”

APARECIDA
A oração que o papa fará diante da imagem de Nossa Senhora Aparecida, na quarta-feira, é considerada exemplo do perfil humilde de Francisco. “Vós, ó Mãe, não hesitastes, e eu não posso hesitar”, diz parte do texto que será lido pelo santo padre na catedral localizada no Vale do Paraíba.

“Nunca entrou no missal romano carga tão grande de afetividade. Essa é mais uma das provas que ele é diferente e fará coisas inesperadas no Brasil”, disse o diretor da Faculdade de Teologia da PUC-SP Valeriano dos Santos Costa.
A visita à basílica foi um pedido pessoal de Francisco, que, em 2007, ainda como arcebispo de Buenos Aires e cardeal Jorge Mario Bergoglio, presidiu a comissão da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho, que ocorreu na cidade de Aparecida. O evento contou com a presença do então papa Bento XVI.

MANGUINHOS
Depois de 33 anos, um Papa volta a visitar uma comunidade carente. Desta vez, ao invés do Vidigal, na Zona Sul do Rio, onde passou João Paulo II, em 1980, a visita será a uma favela da Zona Norte. A comunidade escolhida foi a de Varginha, dentro do Complexo de Manguinhos, recentemente pacificada pelo governo do Estado do Rio de Janeiro. Francisco terá contato direto com a população local, passará em campo de futebol e terminará rezando a oração do Pai Nosso.

Objetivo da JMJ é divulgar dogmas católicos entre a população jovem
“Ide e fazei discípulos entre todas as nações!” Esse é o tema da JMJ (Jornada Mundial da Juventude), que ocorre no Rio de Janeiro, de terça-feira a domingo. O objetivo do evento religioso é fazer com que os jovens católicos se aproximem da Igreja e, com isso, ploriferem as experiências recebidas durante as atividades nas sociedades onde vivem. A previsão é que aproximadamente 500 mil jovens de 190 países, além de sacerdotes e bispos do mundo inteiro, participem do ato. O Grande ABC estará representado com cerca de 2.200 fiéis.

A programação da JMJ contará com encontros catequéticos, momentos de preces e confissões, música e shows, caminhadas, via sacra, troca de experiências, momentos ecumênicos, vigília noturna e compromissos com as comunidades cariocas e famílias hospedeiras.

Como o evento acolhe peregrinos de vários pontos do mundo, as catequeses serão realizadas em 26 idiomas diferentes (entre eles o português). As línguas oficiais da JMJ serão espanhol, italiano, francês, inglês, alemão, polonês e português.

Essa será a 14ª edição internacional da jornada e 28ª edição computando os encontros internacionais, nacionais e regionais. O evento no Brasil é promovido por três organizadores: a Arquidiocese do Rio de Janeiro, setor juventude da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e o Pontifício Conselho de Leigos, do Vaticano. Dez edições da JMJ foram realizadas com a presença do papa João Paulo II, três com o papa Bento XVI. No Rio de Janeiro, será a primeira com o papa Francisco.

Especialistas preveem que os pontos altos da JMJ sejam a grande vigília de jovens com o papa Francisco no sábado e a missa no ‘Campo da fé’ — localizado em Guaratiba — no domingo pela manhã. O palco para esses eventos principais está em fase final de acabamento.

O bispo diocesano de Santo André, que representa as paróquias das sete cidades da região, dom Nelson Westrupp afirmou que não irá participar diretamente da jornada. “Mas vou à Aparecida cumprimentar o papa Francisco e celebrar a missa com ele”, prometeu o líder da Igreja Católica no Grande ABC.

Organização do evento orienta cuidados aos jovens peregrinos
A organização da JMJ (Jornada Mundial da Juventude) recomenda vários cuidados aos milhares de pelegrinos que vão ao Rio de Janeiro participar do evento. O básico é não esquecer documento de identidade (e cópias autenticadas), passaporte, dinheiro e seguro pessoal de saúde (se tiver).

Outras dicas importantes dadas pela coordenação são levar filtro solar, óculos de sol, chapéu, repelente e roupa de praia, além de itens extras como chinelo para o banho (caso seja necessário banhar-se em colégios e paróquias), lanterna, adaptador para tomadas e saco de dormir, já que durante a vigíla de sábado os peregrinos passarão a noite ao ar livre. Não será permitida a entrada com barracas no ‘Campo da Fé’.

Durante a vigília e missa de Encerramento, o conselho é usar calçados baixos, fechados e confortáveis. Não use sandálias, pois será necessário andar bastante em local de terra e grama. É aconselhável também beber muita água.