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S.Caetano prestigia mestre impressor Alemão
Por Everaldo Fioravante
Do Diário do Grande ABC
17/03/2005 | 12:08
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O mestre impressor Roberto Gyarfi, o Alemão, guarda em seu ateliê em Santo André centenas de gravuras, muitas assinadas por artistas plásticos que figuram entre os mais importantes da arte brasileira das últimas décadas. A maioria da coleção é formada por trabalhos realizados pelo próprio Alemão, considerado um dos mais competentes litógrafos do Brasil, técnico em impressão de obras de arte a partir de matrizes de pedra. Saídas do arquivo pessoal, 46 destas composições ganham exibição a partir das 19h de quinta-feira na Pinacoteca de São Caetano com a mostra Gravura: Arte e Técnica. A exposição, em cartaz com entrada franca até 11 de junho, conta ainda com outras 18 gravuras, estas do acervo do museu.

Alemão tirou da manga preciosidades como um conjunto de dez gravuras de Carlos Oswald (1882-1971), pioneiro da técnica no país. São obras adquiridas pelo mestre impressor, reeditadas em 1979 a partir de matrizes de metal originais dos anos 1930.

Outro precursor da linguagem no Brasil, Livio Abramo (1903-1992) também é bem representado por meio de 16 litogravuras impressas por Alemão em São Paulo. Estão na mostra os primeiros trabalhos de Livio no gênero, de 1979, e os últimos, de 1985. Os mais recentes são da série não finalizada Pré-História para Crianças – Os Mamutes – o artista morreu antes de terminá-la.

Maria Bonomi (que no próximo dia 9 faz palestra que integra o evento) e Aldemir Martins, figurões da arte brasileira da atualidade, marcam presença cada qual com seis litogravuras, todas feitas por Alemão no Grande ABC. O mestre impressor veio para a região em 1998: primeiro montou ateliê em São Bernardo e desde 2002 está em Santo André.

Gravurista de São Bernardo, Henrique Camargo, 24 anos, diferentemente dos artistas já mencionados, não teve nem tempo ainda de cravar seu nome na história da arte brasileira, mas crava espaço na mostra. “Cria” de Alemão, Henrique exibe xilos, gravuras feitas a partir de matrizes de madeira. O jovem usa o processo artesanal da xilogravura: em vez de usar prensa para obter a imagem, ele usa colher de bambu. Com o objeto, esfrega o papel sobre a matriz e cria a obra.

Grandes artistas também são representados por meio das composições do acervo da Pinacoteca, Evandro Carlos Jardim e Hannah Brandt entre eles. Há também gente da região: Antonio Vitor, de Diadema, e Hans Grudzinski (1921-1986), que foi morador de Mauá. As obras deste conjunto foram premiadas nos salões de arte contemporânea da cidade, realizados entre 1967 e 1981.

A exibição de matrizes de madeira, de pedra e de metal, além de múltiplos feitos nessas técnicas, justificam o termo Técnica do título da mostra. Há ainda uma série de materiais utilizados na criação de gravuras, como rolos, tintas, pincéis e goivas. A curadoria é de Alemão e da equipe da Pinacoteca, instituição coordenada pela Fundação Pró-Memória de São Caetano. Escolas e grupos organizados podem agendar visitas monitoradas.

A exposição deixa a desejar em um aspecto: poderia ser exibida também uma prensa (Alemão tem várias), equipamento que imprime as gravuras. Oficinas para mostrar como nasce uma gravura seriam bem-vindas também. No entanto, em meio ao deserto cultural que é São Caetano no que diz respeito à oferta de atrações promovidas pelo poder público, situação detalhada pelo Diário em recente série de reportagens, Gravura: Arte e Técnica é um exemplo a ser seguido.



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