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Autor de ‘Belíssima’ decepciona ao desvendar enigmas
Mariana Trigo
Da TV Press
06/06/2006 | 08:36
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Silvio de Abreu não consegue dissimular seu fascínio por tramas de mistério. Mas só o fascínio não é suficiente para convencer. Tanto que Belíssima se parece muito com um jogo bastante popular nos anos 80, Detetive: interessante, mas previsível.

Os elementos são todos óbvios e criam um antiquado tom de suspense. Seja através da voz rouca de Medeiros, advogado interpretado por Ítalo Rossi, seja nas pausas na fala da misteriosa Bia, de Fernanda Montenegro – sempre acompanhadas por um fundo musical de suspense, presente no final de cada cena. E nesse prosaico jogo do autor, cabe de tudo. Muitas vezes, Silvio mistura todos e nunca abre mão do "resta um", aquele em que somem todas as peças e apenas um sobrevive.

Mas o autor se cansou deste jogo no início da trama, quando matou personagens em série. Agora, nesta reta final, prefere dar as cartas solucionando pequenos enigmas ao inserir novas peças, como o delegado Gilberto, personagem de Marcos Palmeira. O personagem, além de ser o provável par romântico para o final feliz de Vitória, de Cláudia Abreu, entra na trama para buscar o fio que costura todos os crimes, desde a morte de Valdete, de Leona Cavalli, no início da novela.

Outros pequenos jogos que chegam ao fim contam com peças que deixam a desejar. A bela Letícia Birkheuer, por exemplo, não conseguiu dizer a que veio nem no desfecho do mistério de seu pai Ciro, vivido pelo monocórdio italiano Nicola Siri. Em compensação, Glória Pires provou que coloca todos no bolso – como na cena em que sua personagem, Júlia, revela que o sujeito é pai da modelo.

Outra carta na manga do autor é Tosca, de Jussara Freire. A personagem, que não passava de coadjuvante fofoqueira da trama, é a que guarda um dos maiores segredos da novela: a identidade secreta do filho bastardo da poderosa Bia. Ou seja, mais uma vez, o astuto Silvio usa atalhos – mesmo que isso signifique desprezar a destreza mental do público.

Algumas cartadas do autor, no entanto, poderiam literalmente ser dispensadas. Mostrar Rebeca, personagem de Carolina Ferraz, menosprezando a modelo Giovana, de Paola Ribeiro, e criticando sua moral de classe média, faz com que o autor corra o risco de ofender seu público. Aliás, o mesmo público que ele tenta manter quando simplifica o mistério a níveis primários ou levanta bandeiras homofóbicas – como na cena em que Giovana pergunta se vai se dar bem como modelo se fizer “coisas erradas”, como “se deitar com outras mulheres”.



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