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O sagrado sono
Antonio Carlos do Nascimento
23/05/2022 | 08:58
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O hábito diurno é uma característica dos seres humanos, somos condicionados pelo ciclo claro/escuro, a claridade provoca o despertar, enquanto a escuridão impulsiona o contrário. Apresentamos claras mudanças sistemáticas de comportamento, somos emotivamente mais sensíveis no lapso noturno que antecede o sono e mais austeros pela manhã.

A fisiologia rege essa periodicidade comportamental, assim como, explica as variações funcionais de nossos sistemas em relação a períodos do dia. São ações desencadeadas sistematicamente em intervalos específicos e, por se repetir a cada 24 horas, nomeamos ritmo circadiano, termo etimologicamente derivado do latim (circa: cerca de/diem: dia).

O ritmo circadiano do sono/vigília é conduzido pela luz e escuridão, gerenciado substancialmente pela melatonina, hormônio cuja produção é deflagrada pela ausência de luz e se relaciona ao adormecimento. Esta substância parece ser agente modulador para a ciclicidade da produção de outros hormônios e substâncias, tal qual o cortisol, que possui flutuação característica durante as 24 horas, com concentração sanguínea máxima pela manhã e mínima na primeira parte da noite.

Sabe-se que não dormir na obediência desse ciclo natural compromete a saúde sob vários aspectos, o que justifica a maior prevalência de doenças em trabalhadores noturnos, quando comparada com outros grupos, notadamente obesidade, diabetes, hipertensão e alguns tipos de cânceres.

Um dos caminhos para o sofrimento orgânico, daqueles que não dormem, é que a falta de repouso propicia níveis elevados de cortisol durante a noite, período que deveria estabelecer sua menor concentração. Entre outras adversidades, ocorre interferência na ação da insulina, dificultando o recebimento de glicose pelas células.

O pâncreas aumenta a produção insulínica para compensar a dificuldade imposta, enquanto este binômio insulina/cortisol elevado, cria uma constelação de mudanças metabólicas e hormonais, geradoras de incontáveis doenças. 

Para aqueles que por forças das circunstâncias não possuam o privilégio do pleno repouso noturno, faz-se necessário estreito acompanhamento médico, nutricional e de condicionamento físico, orientações extensivas aos portadores de insônia.

É isso, o sono é sagrado, e ainda mais divino à noite!


Antonio Carlos do Nascimento é doutor em endocrinologia pela Faculdade de Medicina da USP e membro da Sociedade de Endocrinologia e Metabologia 




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