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Treinador muda vida de crianças carentes no Pq.do Pedroso

Ao todo, 148 pessoas de baixa renda fazem aulas de futebol de graça no bairro andreense

Daniel Macário
Especial para o Diário
14/03/2015 | 07:00
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André Henriques/DGABC


Fanático por futebol desde criança, José Carlos Timóteo da Silva, 35 anos, mais conhecido como Carlinhos, deixou de lado emprego como ajudante geral e, desde 2010, troca passes e dá chutes para ajudar crianças e adolescentes carentes do Parque do Pedroso, bairro de Santo André. Treinador da escolinha de futebol EC Família, Carlinhos, que também reside na região, hoje é responsável por levar diversão e aprendizado a 148 crianças e adolescentes de 7 a 16 anos que vivem na área.

Localizado em ponto estratégico do bairro, no fim da Rua Pintassilva, o campo de futebol da escola, que é utilizado como sede do time, não tem condições ideais para a prática esportiva. No local, o verde da grama só existe mesmo ao redor da mata que contorna a estrutura. Onde a bola rola de verdade, a cor predominante é o marrom do barro. Entretanto, Carlinhos diz não se importar tanto com isso. “Hoje é o que temos. E é isso o que importa. Aos poucos chegamos lá.”

Afinal, o futebol é uma paixão no Parque do Pedroso. Basta um passeio pelas ruas do bairro para perceber a relação dos moradores com a bola. Com poucas opções de lazer, o esporte é praticamente a única diversão de muitas crianças.

“O projeto ganha cada vez mais adeptos. Damos três aulas por semana. Nos dias em que o treino acontece às 14h, é só vir aqui meia hora antes que esse campo está repleto de crianças e jovens, todos já animados para treinar. Isso é uma alegria imensa para todos.”

Assim vão crescendo, pelas vielas e becos do Pedroso, os filhos da bola. Mas para quem nasceu no local, só gostar de futebol é pouco. Com ajuda de Carlinhos, a vontade de ganhar títulos cresceu, e eles vieram. Aliás, são motivo de orgulho na comunidade. O time foi campeão do Torneio Início 2015 e conquistou o segundo lugar da Copa da Amizade Santo André em 2009. “Tivemos muitas conquistas. Isso mostra o esforço e paixão dessas crianças. Muitas vezes pedimos ajuda da comunidade para conseguir transporte para as viagens. No fim de março vamos jogar em Rio Grande da Serra. Estamos buscando transporte para levar a meninada. Mesmo assim, não perdemos o ânimo.”

Apesar das dificuldades enfrentadas para manter o espaço, que não tem patrocinador, Carlinhos relata que o projeto é um dos maiores orgulhos em sua vida. “Com certeza sou mais feliz agora ajudando essas crianças. Em dia de treino, o campo que temos no bairro fica lotado. É uma forma de diversão para eles. Infelizmente, estamos distantes do Centro da cidade, o que acaba dificultando o acesso para áreas de lazer. Com isso, o espaço do campo de futebol vira a única opção para tirá-los da rua.”

Associação busca melhorias para a comunidade local

Desde 1993, a Associação Amigos de Moradores do Núcleo Pintassilva auxilia moradores do Parque do Pedroso que buscam melhorias para a comunidade. Distante dos grandes centros urbanos de Santo André, quem vive no local ainda sofre com a precariedade de infraestrutura. Falta de equipamentos de Saúde próximos e tratamento de esgoto são apenas alguns dos problemas encontrados na região. Entretanto, o trabalho da associação tem ajudado na conquista de benfeitorias.

“Estamos conseguindo, aos poucos, estruturar nossa região. Como tudo é longe, na maioria das vezes somos a primeira opção dos moradores quando precisam de algo. Por isso, a associação é considerada por muitos como uma grande ‘mãezona’. Tudo que a comunidade precisa, procura aqui e acha, seja uma cesta básica, carona para levar ao médico, entre outros auxílios”, afirma o presidente da entidade sem fins lucrativos, Joelson Souza dos Santos, 43 anos.

De acordo com Santos, com o apoio de ONGs (Organizações Não Governamentais), a associação conseguiu fechar parcerias para garantir doações. “A cada dois meses recebemos 30 cestas básicas, que são distribuídas na comunidade. Além disso, sempre que alguém precisa buscar emprego, nos prontificamos a levar essas pessoas até o CPETR (Centro Público de Emprego, Trabalho e Renda) do município.”

Além disso, a associação conseguiu nos últimos meses que a AES Eletropaulo levasse iluminação para todas as vielas, inclusão de 268 famílias no Banco de Alimentos municipal e asfalto ecológico em três vias. Tudo isso por meio de solicitações encaminhadas por representantes da entidade para os órgãos responsáveis pelos serviços.

Com aproximadamente 1.700 famílias vivendo na região, Santos acredita que a força da comunidade é sua principal arma. “Quando o esgoto vaza por aqui, reúno os moradores e todos limpam. Este é só um exemplo que torna o bairro mais organizado.”

Para 2015, a associação estabeleceu algumas prioridades, entre elas o projeto de urbanização do núcleo, buscar parceria junto a outras empresas e ONGs para auxiliar as famílias mais carentes, ampliar as aulas de capoeira e a escolinha de futebol da comunidade.

Idosa se dedica a trabalho com gestantes

Inspirada na história de vida da médica Zilda Arns Neumann – que morreu em 2010 no terremoto que devastou o Haiti e conhecida pelo seu empenho em promover e defender crianças, gestantes e idosos –, Maria Izabel Paulino, 63 anos, trilha o caminho de ajudar ao próximo. Quem passa pelas ruas do Parque do Pedroso reconhece a antiga moradora de longe.

Voluntária da Pastoral da Criança, que tem por objetivo capacitar líderes comunitários para assumir o papel de orientar e acompanhar as famílias vizinhas, Maria Izabel ajuda cerca de 25 mães durante o período de gestação e crescimento da criança. “Nosso objetivo é dar todo o aparato para essas jovens mães. Visitamos as famílias e verificamos se a criança está crescendo de acordo com sua idade, avaliando seu peso. Tudo isso para dar suporte para essas mulheres, que são muito carentes”, explica Maria Izabel, que nas horas vagas atua como revendedora de cosméticos.

De acordo com a voluntária, a vontade de atuar nesse projeto surgiu da necessidade de querer ajudar as pessoas da comunidade. “Sempre que o próximo precisa de algo, me prontifico a prestar auxílio. Não tenho vergonha. Se é para fazer o bem, não tem por que deixar de atuar.”

Maria Izabel relata que os encontros com as mães acontecem toda última quarta-feira do mês. Na ocasião, são verificadas as necessidades de cada uma para que seja possível auxiliá-las da melhor maneira. “Um dia antes recebemos mantimentos da Prefeitura. No encontro, distribuímos os saquinhos com frutas e outros alimentos e acompanhamos as solicitações das mães. Se elas precisarem de consulta, pegamos os dados e buscamos o melhor encaminhamento.”

A voluntária, que reside em uma casa de três cômodos, relata que o principal benefício do trabalho é a comunidade estar bem. “É uma alegria ver essas crianças felizes. Sempre que passo com meu carrinho pelas ruas do bairro, os moradores já me chamam e dizem que têm roupas para doar. Pego tudo e, quando chego em casa, busco alguém que está precisando. Essa é a minha maior satisfação.” 




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