Política Titulo
'PMDB deveria entregar os cargos', diz Pedro Simon
Sergio Kapustan
Do Diário do Grande ABC
26/06/2005 | 07:46
Compartilhar notícia


Em vez de aumentar a participação no ministério do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o PMDB deveria entregar os cargos que já ocupa no governo e preparar um nome para a eleição presidencial de 2006. A posição é defendida pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS), liderança histórica do partido. Simon diz que o PT mostra-se inexperiente ao não administrar as disputas internas no governo - que rotula de "fuxicos" - e por ter indicado, no início do governo, José Dirceu para chefiar a Casa Civil. "O melhor seria ele ter assumido a presidência da Câmara ou o Ministério da Justiça", afirma Simon, que vê na indicação de Dilma Rousseff a reparação do erro, por seu perfil de gerente. Em entrevista ao Diário, Simon analisa a figura política do presidente Lula, as denúncias de corrupção no Congresso e o papel da oposição na crise.

DIÁRIO - O PT no governo é uma decepção?
PEDRO SIMON - Eu vibrei com a vitória do Lula. Pelo que se viu na campanha eleitoral, teríamos um governo de redenção nacional. O Brasil inteiro era Lula. Porém, comecei a me preocupar já antes de sua posse. Me recordo de um jantar em que sugeri a ele montar um ministério de gabarito. Para minha surpresa, ele não só aumentou o número de ministérios como nomeou diversos ministros do PT derrotados nas eleições de 2002. Aí conclui que o meu conceito estava equivocado. Em vez de o presidente levar ao governo aquela alma do PT - de debates e discussão de grandes teses -, o que levou foi o fuxico. É o fuxico do A com B e do B com C.

DIÁRIO - Como sr. avalia o Lula?
SIMON - O presidente tem grandes qualidades, mas não é um tocador de obras. O Lula não é um Juscelino Kubitstcheck (presidente da República e construtor de Brasília), por exemplo. O presidente Lula é um líder que gosta de andar pelo mundo e debater. O PT tinha, então, que se preparar e montar um esquema de sustentação para ele. Quem tocaria esse esquema seria o ministro-chefe da Casa Civil. O presidente até criou o Ministério da Articulação Política (ministro Aldo Rebello,que está demissionário) para que a chefia da Casa Civil pudesse tocar os grandes projetos do governo. Só que o ministro José Dirceu nunca fez isso.

DIÁRIO - Falta experiência de governo ao PT?
SIMON - Os dirigentes do PT não perceberam que o presidente Lula é um homem que gosta de discursar, debater e viajar. O PT deveria, então, formar um petit comitê para tocar o governo. O José Dirceu tem qualidades para trabalhar, mas ele não gosta de tocar projetos. Ele no governo queria fazer política, só que no lugar errado. O melhor seria ter assumido a presidência da Câmara ou o Ministério da Justiça.

DIÁRIO - Dilma Roussef resolve o problema da Casa Civil?
SIMON - A Dilma é o contrário de José Dirceu: ela só pensa em tocar obra. A ministra vem com essa disposição, vai levantar os principais projetos e cobrar dos ministros. Ela vai pedir, por exemplo, dinheiro no Ministério da Fazenda e não vai sossegar até conseguir. Acho que ela vai dar o que falar.

DIÁRIO - Como o sr. vê as denúncias de corrupção envolvendo petistas históricos e aliados do governo no Congresso?
SIMON - O presidente Lula nomeou no início do governo o ex-deputado federal Waldir Pires para a Corregedoria Geral da União. Só que a corregedoria não funcionou até o momento. Não funciona por falta de comando. As nomeações no governo foram feitas sem nenhum tipo de fiscalização. Quando fui ministro da Agricultura no governo Sarney (1985-1989) e governador do Rio Grande do Sul (1987-1990) recebia as indicações e pedia as biografias dos indicados. Não é o que está acontecendo. Veja o caso do ministro da Previdência, Romero Jucá, que é do meu partido (ele responde a inquérito no STF acusado de desvio de recursos públicos). O presidente fez a nomeação e só depois tomou conhecimento das denúncias contra o ministro Jucá.

DIÁRIO - Vale a pena obter maioria no Congresso em troca de cargos? Como obter maioria sem comprometer a ética e o governo?
SIMON - Com toda a certeza não vale a pena dar cargos em troca de votos. A forma de evitar o "é dando que se recebe" (frase do deputado federal Roberto Cardoso Alves para justificar o apoio ao presidente Sarney no Congresso) é chamando o país para um grande entendimento. O presidente deve mostrar que quer um entendimento geral e mostrar um projeto de levar o governo até o fim. Por outro lado, nós do Congresso temos de demonstrar que estamos ao lado do governo nessas questões.

DIÁRIO - O sr. já demonstrou um desconforto em relação ao ministro Jucá. Como vê a possibilidade de o PMDB aumentar a participação no governo?
SIMON - O ministro Romero Jucá está sendo processado por corrupção. A questão não é ser contra ou a favor do PMDB. Eu, inclusive, defendo a demissão dele e a do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles (responde a inquérito no STF acusado de esconder patrimônio por operações financeiras irregulares). Na minha opinião, o melhor é o PMDB deixar o governo e preparar sua candidatura à presidência em 2006.

DIÁRIO - Há tempo de Lula recuperar o seu governo?
SIMON - Acho que há tempo e o presidente tem demonstrado isso. Vou dar um exemplo: a escolha do novo procurador-geral da República. Tem gente que pretendia colocar um engavetador de denúncias. O presidente indicou o vice-procurador Antônio Fernando de Souza ,que é da equipe do procurador-geral Cláudio Fonteles. Na gestão do Fonteles, tudo o que foi denunciado ele mandou investigar. O presidente fez a escolha certa.

DIÁRIO - O presidente está sinalizando para o entendimento?
SIMON - O PT está assustado, mas o governo está sinalizando entendimento. Seria um gesto de grandeza e sobrevivência, porque se ele entornar o quadro a situação ficará difícil. Nós temos a CPI dos Correios em andamento e a do Mensalão está para começar. Deveremos ter um volume de informações de grande proporções e até insustentáveis.

DIÁRIO - As principais lideranças do governo e do PT falam em clima de golpe. Qual é a sua avaliação?
SIMON - Isso não é verdade. Os problemas do PT foram criados dentro do próprio PT. O caso Waldomiro Diniz (ex-assessor da Casa Civil flagrado pedindo propina para facilitar  negociação entre uma empresa de tecnologia e a Caixa Econômica Federal) e a CPI dos Correios (suposto esquema de propina que beneficiaria o presidente licenciado do PTB Roberto Jefferson) mostraram o que aconteceu. Qual foi a grande denúncia que o PSDB e o PFL fizeram? O que apareceu não é resultado de investigação dos dois partidos. As coisas aconteceram por brigas internas no PT. O que pode acontecer de melhor para o Brasil é o Lula chegar ao fim do seu governo. Isso é unânime no Congresso Nacional e nos partidos de oposição.

DIÁRIO - Lideranças do PT e militantes históricos estão sendo acusados. Como o sr. vê a permanência deles no partido?
SIMON - Acho que o diretório nacional deveria afastar o Silvio Pereira (secretário-geral) e o Delúbio Soares (tesoureiro). O diretório, ao contrário, deu até um voto de confiança aos dois. Para quem tem a ética do PT o melhor seria aprovar um pedido de licença. Se o denunciado fosse o meu irmão eu não daria o voto de confiança.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;