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Rios da região dependem de saneamento para sobreviver

Relatório da SOS Mata Atlântica indica que seis corpos d’água têm índices regular e péssimo

Por Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
31/03/2019 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


 Relatório do instituto SOS Mata Atlântica denominado Observando os Rios 2019 mostra que os seis corpos hídricos analisados na região têm a qualidade da água classificada entre regular e péssima. Foram realizadas medições nos rios Comprido (Santo André), Ribeirão dos Meninos (São Bernardo e São Caetano), Tamanduateí (Mauá), Taiaçupeba Mirim e Ribeirão Pires (Ribeirão Pires), além da Represa Rio Grande, em Rio Grande da Serra. O cenário se mostra praticamente inalterado desde as ações de 2017 (veja a tabela). Para especialistas, é necessário ampliar investimentos em saneamento para retirar os córregos da ‘UTI’ (Unidade de Terapia Intensiva) em que se encontram.

O IQA (Índice de Qualidade da Água) é obtido por meio da soma de parâmetros físicos, químicos e biológicos encontrados nas amostras de água. A totalização dos indicadores medidos resulta na classificação da qualidade da água, em uma escala que varia entre: ótima, boa, regular, ruim e péssima.

No Estado de São Paulo, foram realizados 92 pontos de coletas e a água imprópria para uso foi registrada em 27 pontos, sendo 26,1% ruim e 3,3% péssima. Em todo o País, foram feitas 2.066 análises da qualidade da água, em 278 pontos de coleta, distribuídos em 220 corpos d’água, em 103 municípios de 17 Estados. Em 207 pontos (74,5%) a qualidade é regular. Em 49 (17,6%) é ruim e em quatro pontos (1,4%) é péssima. Somente 18 pontos (6,5%) apresentam qualidade boa na média do ciclo (de março de 2018 a fevereiro de 2019 ) e nenhum dos rios e corpos d’água tem qualidade ótima.

Para a bióloga especialista em recursos hídricos, professora da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) e coordenadora do Projeto IPH (Índice de Poluentes Hídricos), Marta Marcondes, os dados mostram que os rios da região estão na UTI (Unidade de Terapia Intensiva). “Se não fizermos alguma coisa urgente, vão ficar cada vez pior”, completou. A pesquisadora destacou que é preciso que cada cidade cuide dos seus córregos, para que a água que chega aos rios maiores (como Tamanduateí, por exemplo) seja de melhor qualidade. “Manter seus planos municipais de saneamento atualizados e em vigência, manter os córregos limpos, para que as pessoas também se sintam incentivadas a preservar”, pontuou.

A professora do bacharelado em ciência e tecnologia e de engenharia ambiental e urbana da UFABC (Universidade Federal do ABC), Roseli Benassi, afirmou que se as legislações que visam cuidar dos corpos d''água não tem sido suficientes para garantir a proteção. “É preciso investir mais em saneamento, para que os rios não recebam a atual carga de esgoto. Tratar a água depois de suja é muito mais caro do que preservar”, apontou. Na região, Santo André, São Bernardo, São Caetano e Diadema informaram que contam com o plano, em vigor, ou em fase de atualização. Ribeirão Pires informou que conta com lei aprovada e que o documento está em fase final de revisão. Mauá e Rio Grande da Serra não responderam.

Mudança em classificação é pleiteada
Mudar a classificação que é utilizada pelo Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) para indicar a saúde dos rios pode ser uma das medidas para auxiliar na recuperação dos corpos d''água da região. A avaliação é da bióloga especialista em recursos hídricos, professora da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) e coordenadora do Projeto IPH (Índice de Poluentes Hídricos), Marta Marcondes.

Segundo docente, nas atuais classificações – especial e de 1 a 4; sendo a especial mandatória em áreas de preservação ambiental, até 4, apenas para paisagismo e navegação. No Grande ABC, todos os rios são classificação 4. “Sem profundidade para navegação, sobraria apenas paisagismo, mas nem isso é possível atualmente”, destacou. Marta explicou que a categoria determina que todo afluente jogado no rio precisa estar na mesma classificação.

“Dessa forma, nos rios de categoria 4, a indústria, a cidade, pode jogar a água poluída, e nunca haverá a recuperação”, completou. Marta afirmou que a mudança na classificação será uma bandeira levada ao sub-comitê de bacias Billings-Tamanduateí por ambientalistas e instituições de ensino. “Precisamos articular politicamente junto às Prefeituras, às Câmaras, para que a mudança aconteça”, defendeu.

Segundo a norma legal, o enquadramento nas classes não significa a qualidade da água que o rio apresenta, mas sim aquela que se busca alcançar ou manter ao longo do tempo. “Além da mudança, precisamos de políticas públicas pela despoluição dos rios, pela preservação dos ecossistemas como um todo. Os rios nos dão abastecimento, é um serviço que eles prestam”, pontuou a professora do bacharelado em ciência e tecnologia e de engenharia ambiental e urbana da UFABC (Universidade Federal do ABC), Roseli Benassi.

Companhias destacam trabalho feito
Apesar do alto nível de poluição dos corpos d’água do Grande ABC, administrações municipais e empresas de saneamento destacam ações em curso para recuperação de rios e córregos.

O Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André) afirmou que fiscaliza ligações clandestinas de esgoto (fora da rede coletora) e notificou 1.840 moradores para regularização neste ano, sob pena de multa e interrupção no fornecimento de água. A cidade coleta 98% e trata 46% do esgoto, com meta de chegar a 100% de tratamento em 2021. Basicamente, os investimentos para despoluição na cidade têm sido feito para implantação de redes de esgoto e coletores troncos. <EM>Em Ribeirão Pires, termo de compromisso assinado em 2015 junto à Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), que segue em vigência, implantou no município o Programa Córrego Limpo para melhoria na qualidade das águas nos córregos situados na Rua Anita Garibaldi e na Avenida Capitão José Gallo. A Secretaria de Meio Ambiente efetua levantamento dos pontos onde já existem redes coletoras de esgotos e, que por algum motivo, tenham residências que ainda não estejam conectadas. Os moradores são notificados com prazo para que a devida ligação seja realizada.

Diadema tem em curso a canalização dos córregos Grota Funda e Olaria, e aguarda recursos para canalizar o Córrego dos Monteiros. A cidade não conta com programa de despoluição em vigência.

A Sabesp informou que dentre exemplos de rios despoluídos e monitorados pela companhia, estão os córregos João Gerbelli (Sâo Bernardo Campo), Santa Teresa e Cambuci (Rio Grande) e Anita Garibaldi e José Gallo (Ribeirão Pires).




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