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Morte de peixes na Billings preocupa pescadores e ambientalistas

Prestes a completar 94 anos, represa amanhece forrada por espécies mortas, em São Bernardo

Flávia Fernandes
Especial para o Diário
26/03/2019 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


 Dois dias antes de completar 94 anos de existência, a Represa Billings amanheceu coberta com camada composta por milhares de peixes de diversos tamanhos e espécies, inclusive rara, mortos. O incidente, na altura do km 28 da Rodovia dos Imigrantes, em São Bernardo, chamou a atenção de pescadores, ambientalistas e da Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) ontem. O problema ocorre no corpo central do reservatório, onde foi observada presença de substância marrom, ainda não identificada, mas que pode ser a causadora da mortandade.

A cena foi constatada na noite do domingo pela pescadora Vanderléia Rochumback Dias, 51, líder da Capatazia São Bernardo, colônia de pescadores instalada no Riacho Grande. “A mortandade ficou centralizada em três grotas (encostas da represa) em ponto centralizado. Estranhamos o ocorrido, pois foi uma área pequena para mortandade grande.” Segundo ela, pelo menos sete espécies de peixes foram atingidas: tilápia, traíra, dois tipos de lambaris, carpas, manjuba de água doce, acará e bagre, desde filhotes até peixes adultos. Dentre eles está o lambari-do-rabo vermelho, ameaçado de extinção e cuja pesca é proibida na região.

Vanderléia explica que o cenário certamente trará impacto para a pesca profissional, atividade que gera renda a pelo menos 400 pessoas. “Também afeta a pesca esportiva e as lojas dos comércios do Riacho Grande, que vendem produtos de pescaria. É um impacto para a região toda. O que nós queremos não é buscar culpado, mas solução para que isso não aconteça novamente. Estamos com um advogado, que está se voluntariando para nos ajudar e vamos protocolar documento no Ministério Público denunciando o problema.”

Na manhã de ontem, profissionais do laboratório de análises ambientais IPH (Índices de Poluentes Hídricos) da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) colheram amostras do reservatório para análise. A bióloga e especialista em recursos hídricos Marta Marcondes destaca que, entre os peixes mortos, há desde filhotes a adultos. Segundo informações preliminares, a água do corpo central da Billings apresenta baixo índice de oxigênio (taxa 1,7, quando o adequado é 5), além de presença de amônia, fosfato e turbidez acima do recomendado por resolução do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente). Os resultados não têm prazo para serem divulgados.

O advogado ambiental e presidente do MDV (Movimento em Defesa da Vida do Grande ABCD), Virgilio Farias, considera que o cenário é resultado da falta de fiscalização do uso do solo dos mananciais. “As determinações dos artigos 99 a 108 da Lei Específica da Billings (13.579/09) não foram implantadas para evitar a ocorrência de mortandade de peixes por resíduos poluentes nas águas.”

Conforme a Cetesb, técnicos da agência ambiental vistoriam o trecho da Represa Billings onde foram constatados os peixes mortos. As causas do problema serão apuradas pela companhia.

 

Sabesp garante que ‘incidente’ não interfere no abastecimento

 

A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) esclareceu, por meio de nota, que o incidente registrado no corpo central da Represa Billings, onde diversos peixes foram encontrados mortos, não afetará a captação realizada pela empresa, “pois não é utilizada água diretamente da Represa Billings para abastecer a população”.

Conforme a companhia, a captação de água para o abastecimento é feita no braço Rio Grande, que é separado por barragem do corpo central da Billings. Posteriormente à sua retirada do reservatório, a água é tratada e “só então distribuída à população, seguindo padrões de qualidade e potabilidade estabelecidos pelo Ministério da Saúde”.

O manancial é responsável por gerar água para pelo menos 2,3 milhões de pessoas da Região Metropolitana do Estado, sendo 1,2 milhão no Grande ABC.  




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