Setecidades Titulo
Máfia domina APMs de São Bernardo
Por Artur Rodrigues e Illenia Negrin
Do Diário do Grande ABC
03/06/2007 | 07:00
Compartilhar notícia


Uma máfia tomou conta das APMs (Associações de Pais e Mestres) da Diretoria de Ensino de São Bernardo, responsáveis pelas 72 escolas estaduais do município e por outras nove de São Caetano. Parte dos repasses às entidades, usados para contratação de funcionários, é desviada. Cooperativas, utilizadas pelas escolas nas contratações de funcionários, e escritórios de contabilidade, contratados pelas unidades de ensino para calcular e pagar tributos e encargos trabalhistas, falsificam autenticações bancárias e se apropriam do dinheiro. Pelo menos metade do mercado das cooperativas seria dominado pelo vice-diretor Ariomar Chaurais, da EE Reverendo Omar Daibert, na região do bairro dos Casa.

Ele é apontado por vários diretores como o homem que está por trás da Cootraserg (Cooperativa de Trabalho de Serviços Gerais da Grande São Paulo). Também presta serviços de contabilidade às escolas. Sua influência é enorme. O Diário ligou para todas as escolas pedindo indicações de cooperativas e, na maioria das vezes, a resposta era a mesma. “Aqui em São Bernardo, quase todo mundo trabalha com o Ariomar, da Cootraserg.” Após contato da reportagem na sexta-feira, a Secretaria Estadual da Educação informou que Chaurais seria afastado por determinação da chefia de gabinete da Pasta. “Será instaurada apuração preliminar/sindicância sobre o ocorrido”, diz a nota.

As APMs de São Bernardo e de São Caetano, juntas, gastam cerca de R$ 160 mil mensais só com funcionários, em geral, serventes. Cooperados são a maioria absoluta. O uso da APM foi o meio encontrado pelo Estado para suprir o déficit de mão-de-obra. Há cerca de uma década não é realizado um concurso público pela secretaria.

O Diário conseguiu guias da Cootraserg com autenticações falsas. Todas têm a numeração da agência 4037, da Caixa Econômica Federal, na Praça Giovani Breda, em São Bernardo. Segundo a assessoria da Caixa, a autenticação eletrônica da rede é padronizada. As guias entregues pela Cootraserg a diretores de escola, no entanto, não seguem o padrão do banco. Aparentemente sem qualquer ligação com Ariomar, a contadora Marinalva Ferreira do Amaral é suspeita de cometer o mesmo tipo de fraude por meio de seu escritório de contabilidade, o Cyber Cont. A diferença é que, além do dinheiro destinado a tributos federais, a verba desviada também incluía montantes vinculados aos salários dos trabalhadores, como INSS e FGTS.

Marinalva foi pivô das primeiras denúncias de irregularidades envolvendo verbas das APMs. No mês passado, uma funcionária da EE Senador Robert Kennedy não teve sua rescisão contratual depositada. Com um documento com autenticação falsa da mesma agência 4037 em mãos, fez um boletim de ocorrência.

Segundo a Secretaria da Educação, o caso chegou ao conhecimento da diretora de ensino Suzana Dechechi. Um mês após o boletim de ocorrência, ela mandou que os diretores verificassem suas guias e, caso comprovadas irregularidades, que a polícia fosse comunicada. A informação dada por funcionários da Caixa a diretores é que 22 laudos foram solicitados para apurar possível fraude.

A reportagem teve acesso a três guias de escolas diferentes com a mesma autenticação, todas supostamente feitas por Marinalva. A data de pagamento na boca do caixa registrada nos documentos é 20 de agosto, um domingo, quando os bancos não abrem. O delegado titular do 3ºDP de São Bernardo, Paul Henry Verduraz, informou que, caso laudo comprove a fraude de Marinalva, ela será indiciada por estelionato.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;