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Assistência, enfim, chega ao Macuco

Comunidade mais carente de Mauá terá centro integrado
de serviços sociais; expectativa é de 1.300 pessoas por dia

Por Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
07/11/2011 | 07:00
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Palco da maior tragédia do último verão no Grande ABC, quando cinco pessoas morreram vítimas de deslizamentos de terra, o morro do Macuco, no Jardim Zaíra, em Mauá, passará a contar com complexo integrado de serviços sociais a partir de amanhã. O espaço englobará o Cras (Centro de Referência de Assistência Social), o Creas (Centro de Ações Socioeducativas) e a Unidade de Saúde da Família. A expectativa é atender 1.300 pessoas por dia.

O alto grau de vulnerabilidade e risco social a que cerca de 40 mil moradores do Jardim Zaíra - instalados em áreas de ocupação irregular - estão expostos foi determinante para a construção do complexo no bairro, de acordo com a coordenadora de Proteção Social Básica de Mauá, Xênia Pedrosa de Sousa. "É a comunidade mais carente de serviços sociais do município", comenta.

O Cras é a porta de entrada do sistema, que identifica as necessidades de cada morador e encaminha aos programas existentes na cidade. O atendimento de psicólogos e assistentes sociais será oferecido.

Já o Case terá espaço para oficinas destinadas a crianças e adolescentes, com atividades como pintura, dança e teatro, além de oportunidade para jovens e adultos aprenderem a desenvolver habilidades, como informática, costura industrial, bordado, tricô e crochê. "Este é o serviço responsável pelo fortalecimento de vínculos familiares e comunitários com a busca da autonomia dos moradores", salienta Xênia.

Para a faxineira e moradora do bairro há cinco anos, Cristina Oliveira Brito, 31, o complexo será oportunidade de finalmente conseguir ingressar em um curso de costura. "Sempre tive vontade de aprender a costurar, mas não tinha oportunidade. Quem sabe agora", comemora.

Outro que poderá aproveitar o espaço para investir no aprendizado de informática é o gesseiro Carlos Daniel, 19. O morador do morro do Macuco desde que nasceu só espera que os serviços oferecidos não caiam de qualidade. "Tomara que não comece bom e aos poucos fique abandonado como a gente costuma ver por aí."

O prédio de 1.100 m² oferecerá atendimento de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h, na rua Remo Luiz Corradini, 256. O espaço possui cinco salas para cursos e anfiteatro para 150 lugares com acessibilidade para pessoas com deficiência. Para o Cras e Case estão disponibilizados 600 m² e 25 funcionários que acompanharão as famílias.

 

Deslizamentos causaram morte de cinco pessoas

Janeiro foi um mês trágico para as famílias que habitam o Morro do Macuco, no Jardim Zaíra. Em apenas uma semana, o local registrou cinco mortes em consequência de deslizamentos de terra.

Cerca de 1.200 pessoas foram prejudicadas diretamente pelos temporais. Cerca de 200 demolições de barracos e casas foram realizadas pela Prefeitura, para conter novas ocupações. Setecentas moradias foram interditadas, parcial, temporária (onde os riscos puderam ser minimizados ou mitigados) ou totalmente.

A necroterista Joice Marcolino dos Santos, 35 anos, mora no local há 14 e, no último verão, precisou retirar os filhos de casa pela janela após deslizamentos no topo do morro, onde está sua residência. "A gente sabe que é perigoso, mas infelizmente não temos para onde ir", comenta a mãe de três filhos, de 8, 9 e 12 anos.

A proximidade do período das fortes chuvas já tira o sono de Joice. "A gente tem muito medo de as casas deslizarem morro abaixo, mas a maioria das pessoas é carente e não tem como abandonar suas casas", comenta.

Grávida de oito meses, Vera Lucia Silva, 29, também teme pelos próximos meses. "A gente está nas mãos de Deus, porque o risco é enorme", destaca.

Segundo a Prefeitura de Mauá, o loteamento Chafik, que abriga o morro do Macuco, é uma ocupação irregular com 1 km² e que demanda muito cuidado por ser uma área de risco com declividade de 45 graus, a maior declividade do município.




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