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FHC busca bons fluidos em arranjos florais
Por Do Diário do Grande ABC
26/02/2000 | 14:27
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O presidente Fernando Henrique Cardoso recusa-se a permitir que os cortes no Orçamento da Uniao atinjam a harmonia de seu gabinete.

Na intençao de evitar que os fluidos negativos imperem sobre os positivos, Fernando Henrique se dispôs a tirar do bolso cerca de R$ 100 por mês para comprar flores e folhas de vários tipos, utilizadas na confecçao da chamada ikebana sanguetsu (arranjos de origem japonesa que buscam o equilíbrio).

Todos os dias, o presidente é cercado por quatro desses arranjos, que seguem o gosto do cliente, discretos e sem perfume.

No ano passado, quando aumentou o rigor na contençao de gastos públicos, os arranjos foram suspensos. Fernando Henrique reagiu: "Onde foi parar a ikebana que ficava aqui?``, perguntou, apontando para o móvel localizado ao fundo do gabinete, próximo à mesa. Uma das secretárias respondeu que, devido aos cortes, os arranjos tinham sido eliminados. "Nao, eles devem ser mantidos. Se é para manter o positivo, como dizem, que fiquem", determinou, afirmando que passaria a pagar pelas flores.

O trabalho de confecçao dos arranjos, feito há dois anos, está a cargo de Moema Delmondez de Castro, professora da Academia Ikebana Sanguetsu de Brasília.

As segundas-feiras, ela passa duas horas no terceiro andar do Palácio do Planalto elaborando as ikebanas - ike significa dar vida; e bana quer dizer flor. Moema revela que escolhe ``lírios, flores do campo, antúrios, astromélias, estrelizias, jibóias e harans' - tudo isso atendendo a pedido do próprio presidente.

Preferência - "Ele prefere flores silvestres, coloridas, discretas, com pouco perfume", conta a professora. "Preparo as flores mentalizando que ele terá harmonia para conduzir o país. Pensaria da mesma forma se fosse outra a pessoa ocupando o posto, porque o trabalho que realizo nao tem relaçao alguma com política", diz Moema.

A idéia de colocar ikebanas na Presidência da República vem da gestao de José Sarney (1985-89), mas, na falta de dinheiro, o projeto nao foi adiante. Em 1990, época de Fernando Collor, houve outra tentativa de levar os arranjos japoneses para o Palácio do Planalto, mas alguém explicou ao entao presidente que as flores estavam associadas a uma seita oriental. Collor nao gostou e suspendeu a novidade.

Oito anos depois, já com Fernando Henrique, as flores e folhas dos arranjos passaram a ter lugar permanente na sala íntima, no gabinete, na sala de estar e até no banheiro do presidente. A produçao segue a orientaçao do mestre japonês Mokiti Okada, que criou o estilo ikebana sanguetsu, no qual o objetivo é resgatar a sensibilidade humana por meio da beleza do arranjo.

Admiraçao - Fernando Henrique conheceu a arte milenar japonesa por intermédio de sua mulher, Ruth Cardoso, que freqüentou aulas de ikebana em Sao Paulo.

Apesar de pouco familiarizado com arranjos de flores, o presidente gosta de mantê-los por perto, principalmente quando tem visitas. Em geral, autoridades e diplomatas estrangeiros se encantam com a beleza dos arranjos, como ocorreu na visita do presidente sul-africano, Nelson Mandela. Na ocasiao, as mesas do Palácio da Alvorada (residência oficial) foram enfeitadas com pequenos arranjos, confeccionados com cores diferentes de lírios.

O objetivo da Academia Sanguetsu de Ikebana, criada em 1972, é divulgar a arte a partir de um princípio: uma flor para um mundo melhor. O idealizador do estilo, Mokiti Okada, costumava dizer que "o mal nao gosta de flores". Por isso, sugeria que casas, hospitais e penitenciárias fossem enfeitadas com arranjos florais.




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