Setecidades Titulo Violência
Denúncia de crime
contra idosos sobe 20%

Delegados e especialista afirmam que, apesar do aumento,
o número de casos é maior; muitos não procuram a polícia

Natália Fernandjes
Do Diário do Grande ABC
26/02/2012 | 07:00
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Maus-tratos, abandono, agressão, humilhação e apropriação de bens. Esses são os casos mais comuns de crimes praticados contra os idosos no Grande ABC. Segundo levantamento do Diário junto às três delegacias especializadas da região - Santo André, São Bernardo e Diadema -, o número de boletins de ocorrência relacionados a esses casos teve alta de 20% entre 2010 e 2011. No ano passado, os três distritos policiais contabilizaram 625 registros, contra 523 de 2010.

A maior parte dos casos é observada em Santo André. Em 2011, foram registrados 251 boletins de ocorrência, 11 a mais do que em 2010. Já São Bernardo contabilizou 287 registros no ano passado, 79 casos a mais do que nos 12 meses anteriores. No mesmo período, a Delegacia do Idoso de Diadema emitiu 87 e 75 boletins, respectivamente.

Apesar do aumento, o número de registros não demonstra a realidade. Muitos idosos não procuram seus direitos, com medo de mais conflito familiar ou vergonha. Segundo o delegado titular da Delegacia do Idoso de Santo André João Batista Lemos dos Santos, a denúncia geralmente ocorre quando a situação está crítica. "O idoso geralmente passa noites em claro até tomar coragem e decidir vir até a delegacia. Ainda assim, alguém da família precisa trazer", diz.

O delegado titular da Delegacia do Idoso de São Bernardo, Gilberto Peranovich, destaca que, muitas vezes, o idoso tem receio de falar sobre o que está acontecendo. "Normalmente o acompanhante detalha o problema e o idoso confirma", comenta.

Para o chefe dos investigadores da Delegacia do Idoso de Diadema, Lívio Henrique Botti, muitos casos nem chegam ao conhecimento da Polícia Civil. "A procura deveria ser maior, mas o pessoal costuma deixar para lá", comenta.

Na visão da advogada especializada em direito do consumidor e professora do curso de Direito do Idoso Heleni Paiva, na maior parte dos casos, o idoso é maltratado pela própria família e, por ser dependente dela, não denuncia seus agressores. "O retardamento governamental em não perceber o crescimento da população idosa demonstra que as pessoas e instituições não estão preparadas para lidar com as questões sociais e psíquicas típicas do envelhecimento."

 

Recuo - A quantidade de inquéritos instaurados a partir de boletins de ocorrência registrados nas delegacias também aumentou. O número passou de 220, em 2010, para 266, em 2011. Porém, é grande a quantidade de pessoas que recua e não representa o procedimento administrativo, segundo os delegados. "O idoso às vezes recua porque envolve a família e ele não quer se indispor", diz Lemos.

 

Experiência - Eles estão há 27 anos à frente de uma delegacia e, por isso, se sentem preparados para lidar com os idosos e conflitos familiares que lhes são encaminhados diariamente com paciência. Os delegados de Santo André, João Batista Lemos dos Santos, e São Bernardo, Gilberto Peranovich, têm 44 e 35 anos de profissão, respectivamente. Para eles, a experiência é fundamental para deixar as vítimas à vontade durante o depoimento.

"Um delegado jovem ainda não tem essa serenidade necessária", comenta Peranovich, que deverá deixar o DP em cerca de sete meses, quando se aposentará. Em Santo André, a situação é parecida, Lemos acredita que encerrará a carreira até junho. "A gente tem um pouco de assistente social, advogado e delegado."




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