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FHC: 'estou tão indignado como todo mundo'
Por Do Diário OnLine
07/02/2006 | 01:24
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O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, responsável pela mais recente 'guerra' entre PT e PSDB, declarou nesta segunda-feira, em entrevista ao Programa Roda Viva (TV Cultura), estar "tão indignado quanto todo mundo" com os escândalos de envolvem o governo Luiz Inácio Lula da Silva, como os casos do chamado 'mensalão' e do 'caixa 2' petista que financiou diversas campanhas eleitorais em 2002.

Para ele, essa é uma situação que não deve ser simplificada, como parte do atual primeiro escalão faz questão de mostrar para a sociedade. "Não se trata de um fato isolado. Toda a cúpula do PT caiu", disse FHC, sempre deixando claro que as críticas que faz a Lula e a seu partido (PT) são fruto de uma indignação na figura de "cidadão brasileiro".

Fernando Henrique não quis afirmar categoricamente se Lula sabia ou não das irregularidades tanto dentro do partido quanto no Congresso Nacional, pois admitiu não ter provas para tal confirmação. No entanto, exaltou que o presidente errou. "Ou Lula é muito ingênuo para ser presidente ou ele sabia (irregularidades)", disse. "Em vários momentos (da crise), Lula perdeu o pé", completou.

"A corrupção das instituições é mais grave do que as das pessoas", disse FHC, que imediatamente lembrou que nos Estados Unidos, funcionários no primeiro escalão suspeitos de envolvimento com qualquer tipo de esquema de corrupção é imediatamente demitido. "Aqui no Brasil você pode ser acusado, indiciado e não acontece absolutamente nada."

Com estas declarações, o líder tucano ratificou todos os ataques feitos na entrevista concedida à revista IstoÉ desta semana, na qual acusa Lula de ter sido "omisso" diante dos escândalos e afirma que "a ética do PT é roubar". As palavras de Fernando Henrique provocaram a indignação da área governista, como era esperado. O presidente petista, deputado Ricardo Berzoini (SP), prometeu entrar com uma ação contra FHC.

Candidatura – No decorrer da entrevista, Fernando Henrique afirmou que não é pré-candidato do PSDB para a concorrer à Presidência da República. Para ele, os dois nomes que vão brigar para representar o partido no pleito deste ano são os do prefeito de São Paulo, José Serra, e do governador do Estado de São Paulo, Gerando Alckmin. No entanto, em nenhum momento FHC 'escancarou' apoio a um deles, nem revelou se um é mais preparado que o outro. "Política muitas vezes é uma aposta."

Ele deixou claro que ambos são concorrentes fortes, principalmente por apresentarem, segundo ele próprio, baixíssimos índices de rejeição – virtude que o atual presidente não desfruta. Entretanto, na visão de Fernando Henrique, o PSDB deve "saber trabalhar com o tempo", esperar alguns adversários serem definidos (casos do PMDB e do próprio PT) e somente depois fechar questão sobre um nome. "O PSDB não é um partido de uma nota só. O PT é."

Especificamente sobre Serra, FHC entende que o fato de ele ter se comprometido, na época da campanha, não largar a Prefeitura da capital para se candidatar à Presidência, não é um verdadeiro obstáculo. "Não é uma barreira política (deixar a Prefeitura), mas com certeza ele vai ter que se explicar", declarou o ex-presidente, para depois criticar as palavras de José Serra. "Acho que não deve haver promessas desse tipo."

FHC aproveitou para deixar claro que não vai se candidatar por alguns motivos básicos. Um deles é que ser presidente, na opinião do líder tucano, precisa ter uma energia imensa para trabalhar despachando junto com ministros, no Palácio do Planalto. "Eu já tenho 74 anos." Outra é a necessidade que ele enxerga de haver uma renovação no comando da nação. Por fim, Fernando Henrique acredita que o PSDB "dispõe de bons nomes" para ocupar tal função. "Não é por bondade que não vou ser candidato."

Nessa discussão de candidatos tucanos à Presidência da República, FHC fez questão de dar um destaque especial ao governador de Minas Gerais, Aécio Neves, que juntamente com Serra e Alckmin figurou no início como um dos pré-candidatos do PSDB. Ele explicou que aos poucos, Aécio se afastou da briga interna por entender que este não era seu momento. "Tenho a sensação de que ele (Aécio) um dia será presidente", profetizou o ex-presidente, que aproveitou para cravar que Aécio neves será reeleito governador de Minas.

Reeleição – Um dos temas abordados por Fernando Henrique Cardoso logo no início da entrevista ao Programa Roda Viva (TV Cultura), foi a questão da Emenda Constitucional da reeleição, aprovada no seu primeiro mandato e que lhe possibilitou mais quatro anos no poder. FHC rechaçou de forma direta as acusações vindas da base aliada, em especial dos petistas, de que tal emenda foi comprada pelo PSDB mais ou menos nos moldes do hoje famoso 'mensalão'.

O ex-presidente lembrou que durante o debate sobre a aprovação ou não da reeleição, todos eram favoráveis – prefeitos, governadores e parlamentares, independentemente de partido. Ele destacou que a matéria foi aprovada com ampla maioria na Câmara dos Deputados e no Senado o apoio "era de 80%". "Agora eu pergunto: pra que comprar?", disse. "Não digo que não aconteceu (a compra), mas nós (tucanos) não fizemos."

Nelson Jobim – Fernando Henrique Cardoso também falou da veiculada possibilidade de Nelson Jobim deixar a presidência do STF (Supremo Tribunal Federal) para se filiar ao PMDB e se candidatar. FHC revelou não ver tal atitude de maneira positiva. "Não acho bom e já disse isso para ele", revelou o entrevistado, que logo em seguida revelou as razões pelas quais nomeou Jobim. "Ele tinha uma extraordinária capacidade de trabalho e vinha com idéias da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil)."

Com relação às recentes decisões de Nelson Jobim em casos ligados às CPIs (Comissões Parlamentares de Inquérito), Fernando Henrique disse estar "irritado", mas não acredita que tais determinações estejam ligadas a essa possível candidatura. "Ele tem os argumentos políticos dele para isso", disse FHC. "Quem é político não é 'formalista' como os juristas", completou.




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