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Aqui, paga-se 50% mais
Por William Glauber
Do Diário do Grande ABC
26/08/2006 | 19:44
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A fábrica Anchieta da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo, apresenta gastos com trabalho mais elevados do que plantas da companhia na Europa. Enquanto na Polônia, no Leste Europeu, um empregado especializado custa, em média, US$ 10 por hora, um metalúrgico do Grande ABC, na função de operador especialista, dispende em torno de US$ 15 da companhia – uma variação de 50%.

A projeção, com base em anuários da indústria automobilística, é traçada pelo professor de Relações do Trabalho da USP (Universidade de São Paulo) José Pastore. “A Volks diz que precisa fazer reestruturação na fábrica de São Bernardo e, certamente, o trabalho é um grande fator. No entanto, não é o único”, explica o sociólogo.

Segundo Pastore, burocracia e elevadas despesas na contratação de mão-de-obra prejudicam a indústria. “Com custos altos, o Brasil perde competitividade para países onde é mais fácil contratar”, diz. A tributação sobre salários no Brasil corresponde a 103%. Na Polônia, o índice estaciona em 50%.

Diante desse cenário, o professor Pastore ressalta que, ao cogitar o fechamento da fábrica Anchieta, a Volks não blefa. “Infelizmente, as empresas são frias e a responsabilidade social vai até o ponto em que a companhia não fecha”, diagnostica.

O sociólogo recorre a exemplos na Europa para provar que a ameça da Volkswagen tem fundamento. “Espanha e Portugal, do ponto de vista do trabalho, era mais competitiva do que a Alemanha, mas hoje passaram a não dar tanta lucratividade se comparadas às fábricas do Leste.” Nesses países citados, a empresa também ameaça fechar unidades.

A produção da Volks deixou de migrar da Alemanha para o Leste quando os trabalhadores cederam em algumas negociações, conta Pastore. “Volks, Mercedes-Benz e Bosch, por exemplo, consideram a parada de deslocamento da produção e a preservação de unidades na Alemanha em troca de competitividade oferecida pelos trabalhadores, que, dessa forma, garantem seus empregos.”

Pastore diz que é plenamente justificável o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (filiado à CUT) “lutar” pela manutenção das condições atuais. “Os dados precisam ser colocados sobre a mesa de negociação, com muita clareza. O sindicato é muito amadurecido, aguerrido e lutador, no entanto sensato. O que é pior? Perder todos os empregos ou reduzir os ganhos?”, indaga o sociólogo.




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