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Fidel e europeus: muitas dificuldades a superar na cúpula do Rio
Do Diário do Grande ABC
23/06/1999 | 11:40
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Fidel Castro terá de usar toda sua força de seduçao para tentar abrandar os europeus caso o presidente cubano participe na Reuniao de Cúpula da Uniao Européia, América Latina e Caribe, a Cimeira do Rio, que será realizada nos dias 28 e 29 de junho.

Desde o início da década, a UE faz parte dos sócios a nível econômico e diplomático da ilha, cuja economia ainda nao se recuperou depois do desaparecimento dos países socialistas do Leste europeu, mas as relaçoes entre Havana e os países europeus sofreram um esfriamento desde o início deste ano: o ``líder máximo cubano' nao apenas provocou a reprovaçao dos Quinze pelas violaçoes aos direitos humanos, como também atacou o secretário geral da Otan, Javier Solana, que foi nomeado desde entao para a liderança da diplomacia européia.

Depois de hesitar muito tempo, fontes diplomáticas prognosticam que o chefe de Estado cubano deverá ir ao Rio para confrontar seus colegas da América Latina, Caribe e Europa.

A publicaçao na imprensa oficial cubana de artigos particularmente favoráveis a esta primeira cúpula entre a UE e os países latino-americanos, apresentada em Havana como ``o embriao de uma ordem global melhor', têm tendência a confirmar que Fidel participará da cúpula.

No entanto, no Rio, o presidente cubano deverá recorrer a todo seu carisma e talento de comunicador: várias semanas de espetacular endurecimento do regime castrista no início do ano foram suficientes para fazer desaparecer os êxitos colhidos durante anos por sua diplomacia.

A volta a uma atitude abertamente repressiva manisfestou-se com a presença constante de forças policiais nas ruas de Havana, com as várias execuçoes de penas capitais, com a condenaçao de quatro dissidentes emblemáticos a vários anos de prisao e a aprovaçao de uma lei que permite reprimir qualquer manifestaçao opositora com penas que podem chegar aos 20 anos de prisao.

A puniçao internacional nao demorou a chegar e Cuba foi condenada, em 23 de abril passado, em Genebra, pela Comissao de Direitos Humanos da ONU.

Por sua parte, os 15 países da UE reafirmaram esta semana ``sua posiçao comum' que condiciona o desenvolvimento da cooperaçao com Cuba a progressos a nível democrático e de direitos humanos em Havana.

Desde o mês de março passado pediram, em vao, a ``rápida libertaçao' dos dissidentes condenados e expressaram sua ``profunda preocupaçao' pela aprovaçao de ``uma legislaçao pena que restringe ainda mais o exercício dos direitos cívicos'.

A desilusao foi amarga nas chancelarias, já que a visita do Papa Joao Paulo II à ilha, em janeiro de 1998, havia permitido a abertura de um período de tolerância relativa, deixando entrever a possibilidade de uma evoluçao controlada do regime para maiores liberdades.

Roberto Robaina, que se esforçou durante seis anos para dar uma cara mais amável ao regime de Havana e tirar a ilha do isolamento internacional, foi surpreendentemente ``liberado de seu cargo' de ministro das Relaçoes Exteriores, em 28 de maio passado.

No Rio de Janeiro, os chanceleres latino-americanos terao de esquecer da figura de Robaina e começar a dialogar com Felipe Pérez Roque, um jovem de 34 anos, escolhido por sua inquebrantável fidelidade ao regime.

Em sua primeira apariçao pública, o novo chanceler leu uma declaraçao de 12 págians que mais parecia uma ata de acusaçao contra Solana por crimes de guerra em Kosovo.

Menos de uma semana depois, o secretário geral da Otan foi nomeado à frente da política exterior e da segurança comum da UE, transformando-se no principal interlocutor de Havana em suas relaçoes com Bruxelas.




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