Setecidades Titulo Criação na crise
No meio da pandemia ‘nasce’ um livro

Cláudio Feldman usa confinamento para tirar do papel obra em homenagem ao seu pai, Aron Feldman

Por Bia Moço
Do Diário do Grande ABC
21/06/2021 | 00:01
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Claudinei Plaza/Dgabc


A pandemia obrigou a população a mudar hábitos e a se adaptar, por exemplo, ao trabalho home office e a aulas remotas, em razão do isolamento físico imposto como uma das formas de conter o avanço da doença. Houve quem fez da residência espaço para a prática de exercícios. Outros se voltaram à jardinagem. As opções são as mais variadas. No caso do escritor Cláudio Feldman, 76 anos, o tempo preso dentro de casa foi usado para escrever livro em homenagem ao pai, o cineasta andreense Aron Feldman, que neste ano completaria 102 anos.

A obra Aron Feldman – Cinema nas Veias (R$ 35, mais o valor do frete) foi lançada ontem, no evento on-line da 4ª Sact (Semana de Arte, Cultura e Tecnologia) da UFABC (Universidade Federal do ABC), como parte do calendário comemorativo dos 15 anos da instituição.

A ideia da obra surgiu em conversa com o cineasta regional e assessor do projeto Diaulas Ullysses, ainda em 2019, no centenário de Aron. “Quando meu pai completaria 100 anos, além de todas as homenagens feitas para ele, o Diaulas me sugeriu escrever livro com a história de sua vida. O Fundo Municipal de Cultura de Santo André financiou o livro, já que teve o projeto premiado”, contou Cláudio, orgulhoso.

Segundo o escritor, quando a confirmação da aprovação do projeto saiu, na sequência a pandemia assolou o Grande ABC. “Foi época difícil da minha vida. Nesta pandemia perdi meu cunhado, amigos e vizinhos. Então usei a escrita do livro como terapia. Decidi que ia me isolar de tudo, inclusive de tanta notícia de desgraça, usando esse tempo para fazer o livro do meu pai”, relembrou.

Cláudio passou um ano focado no projeto, resgatando memórias e realizando pesquisas sobre o passado de Aron. O local escolhido para inspiração foi sua “pequena grande biblioteca”, montada na sua garagem, na Vila Assunção, em Santo André. “Foi maneira de me abrigar e esquecer do que acontecia à minha volta. Acredito que foi uma forma de não sofrer tanto durante esta pandemia.”

Cercado de livros dos mais variados estilos, o escritor deu vida ao que caracterizou como “a eternização de uma história”. “A trajetória do meu pai sobreviveu. Ele deixou grande legado ao cinema brasileiro, e esse alcance, agora, está nas páginas do livro que fiz em sua homenagem”, garantiu o filho, explicando que visa enaltecer também a obra de Aron que, de modo geral, em sua visão é deixada de lado “pela precariedade”, já que eram filmes feitos com poucos recursos. “Projetos feitos com mais recursos, que têm artistas famosos, são colocados mais em primeiro plano. A criatividade às vezes não é tão importante como esse luxo”, criticou.

Cláudio Feldman nasceu em Bauru, mas vive em Santo André desde 1959. O professor aposentado de língua e literatura, ao longo da vida, se aventurou em projetos que envolviam cinema, teatro, jornalismo e comerciais de TV e, apesar de ainda atuar como artista plástico, a verdadeira paixão sempre foi pela escrita, que surgiu quando tinha apenas 14 anos.

Cláudio começou a escrever motivado pelo amor aos livros, mas também por incentivo de seu pai. Dos 57 livros publicados, dois tiveram impacto na carreira e o motivaram a dar sequência nos projetos. O grande incentivador foi a sua segunda obra, Caixões Eldorado, que trazia poemas em prosa prefaciados pelo literário Mario Quintana e, depois, o haicais Navio na Garrafa, que foi traduzido em italiano, francês, inglês, espanhol, grego, hebraico e japonês.

ARON
Nascido no Interior do Rio Grande do Sul, em 15 de dezembro de 1919, Aron Feldman se destacou no cinema levando consigo o nome do Grande ABC, já que viveu em Santo André – com breve passagem por Minas Gerais – de 1959 até o dia 20 de junho de 1993, quando partiu, aos 74 anos.

Começou a carreira com 15 anos, como fotógrafo, mas o amor pela cinegrafia ganhou seu coração e, em 1958, lançou seu primeiro filme, Pinceladas.

Judeu e descendente de ucranianos, Aron teve destaque no mundo dos filmes por se preocupar, sobretudo, em tratar temas coletivos e mostrar a realidade da população.

O livro Aron Feldman – Cinema nas Veias retrata a trajetória do cineasta em três partes, contando sua biografia, filmografia e bibliografia com a ficha técnica de seus 22 filmes, além de reunir críticas e artigos que saíram sobre sua carreira ao longo de sua vida.  




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