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FMABC traça perfil de pacientes com esclerose múltipla

Objetivo do estudo inédito é identificar características dos portadores da doença para buscar maneiras de melhorar a qualidade de vida

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
25/07/2018 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


 A disciplina de Neurologia da FMABC (Faculdade de Medicina do ABC) deu início neste ano ao primeiro estudo epidemiológico em esclerose múltipla do Grande ABC. De acordo com a professora de Neurologia e coordenadora do Ambulatório de Distúrbios de Movimento da instituição, Margarete de Jesus Carvalho, o objetivo é identificar o perfil dos pacientes da região e pensar em novas abordagens e protocolos para melhorar a qualidade de vida.

“Já existem pesquisas semelhantes em São Paulo, no Rio de Janeiro e em outras cidades”, citou. “Vamos verificar se a faixa etária dessas pessoas é compatível com a de moradores de outras regiões, a etnia, as necessidades, as sequelas, tudo que possa nos ajudar a montar um perfil desse público e pensar em melhorias para a qualidade de vida”, explicou.

A esclerose múltipla é uma doença degenerativa com causa ainda desconhecida. É também doença autoimune, quando o organismo do paciente produz anticorpos que atacam o próprio organismo, no caso específico, uma proteína que reveste os neurônios. Em alguns casos, já foi identificado fator genético, ou seja, pode ser transmitido entre as gerações. A doença tem prevalência em mulheres e normalmente se manifesta entre os 20 e 35 anos.

“Nem sempre é possível fazer um diagnóstico precoce. Os surtos das doenças são quadros inflamatórios que podem atingir diferentes áreas do corpo, seja a visão, seja a locomoção, sem um padrão definido”, detalhou a médica. Para o diagnóstico, são levados em conta o histórico clínico do paciente, os sintomas e são realizados exames laboratoriais, coleta de líquido da medula e testes de respostas neurológicas.

A aposentada Ana Paula Tardelli, 36 anos, recebeu o diagnóstico em 2011, mas já apresentava os sintomas há pelo menos cinco anos. “Ficava com a vista turva, com fraqueza nas pernas, caía muito. Passava um tempo assim, ia ao médico, melhorava. Até que fui acompanhar minha mãe ao pronto-socorro e não conseguia ficar em pé. Fui internada e após alguns exames identificaram que era esclerose múltipla”, relembrou.

À época, Ana Paula trabalhava como cuidadora de idosos. “Foi um choque porque já sabia mais ou menos quais seriam as consequências”, completou. Moradora de São Bernardo, a munícipe já passou por cinco internações desde que recebeu o diagnóstico e conseguiu se aposentar por invalidez.

“Sempre que tenho um surto preciso permanecer internada para tomar antibióticos”, esclareceu. Paciente do ambulatório e do estudo, Ana Paula elogiou o atendimento que vem recebendo.

“Essa facilidade de passar por diversos médicos, o atendimento psicológico, tudo isso ajuda a gente a lidar melhor com a doença”, comentou. A paciente mudou há cerca de três meses de medicação e relatou melhora geral nos sintomas. “Apesar de não ter cura, o tratamento medicamentoso é bastante eficaz”, destacou a médica Margarete de Jesus.

O estudo vai entrevistar os 200 pacientes cadastrados no Ambulatório de Distúrbios de Movimento da FMABC. Segundo a instituição, trata-se de trabalho multidisciplinar e abrangente, a partir de avaliações com médicos neurologistas, dermatologistas e otorrinolaringologistas, psicólogos e fonoaudiólogos – estes últimos, responsáveis pelas áreas de disfagia (dificuldade de engolir), voz e olfato. Até meados de 2019 serão diversos mutirões para avaliação. O primeiro ocorreu em 12 de maio e recebeu 20 pacientes.

 

Doença afeta mais mulheres do que homens

 

A esclerose múltipla é considerada a doença neurológica mais prevalente entre jovens na Europa e na América do Norte, e atinge aproximadamente 2 milhões de pessoas em todo o mundo. É mais comum em países de clima temperado e acomete com maior frequência o público feminino, na proporção de duas mulheres para cada homem. O problema tem maior prevalência em adultos entre 20 e 40 anos, raramente atingindo crianças e idosos. A prevalência da doença é de dois casos a cada 100 mil indivíduos nos países tropicais e de até 150 casos a cada 100 mil indivíduos nos países nórdicos.

De causa desconhecida, a doença inflamatória crônica afeta o sistema nervoso central. Assim como lúpus e diabetes, é autoimune, caracterizada quando o sistema imunológico deixa de reconhecer o organismo e passa a combater não apenas inimigos, como bactérias e vírus, mas também tecidos e células saudáveis.

Na esclerose múltipla, o sistema imunológico agride a bainha de mielina – camada que envolve estruturas dos neurônios denominadas axônios. Quando ocorre a lesão inflamatória da bainha de mielina do axônio, acontece o chamado surto, cujos sintomas duram pelo menos 24 horas.

A doença acomete diferentes partes do cérebro e da medula espinhal. A ocorrência dos surtos é imprevisível. Entre os principais sintomas estão visão dupla (diplopia) ou perda súbita da visão, fadiga, tontura, perda total ou parcial da força muscular, tremores, falta de coordenação motora, dificuldade para andar, alterações de fala, de memória e de sensibilidade.

Apesar de não ter cura, o tratamento medicamentoso é eficaz. Os objetivos são reduzir o número e a gravidade dos surtos, assim como a quantidade e a dimensão das lesões, além de retardar a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida do paciente.

Além do acompanhamento com neurologista, o tratamento deve ser multidisciplinar, com o apoio de áreas como fisioterapia, terapia ocupacional, psicologia e fonoaudiologia, além de orientação nutricional e de outras especialidades médicas como urologia, psiquiatria e fisiatria.

 

 




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