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'A Favorita' precisa de ajustes com urgência
Por Da TV Press
26/06/2008 | 07:01
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Graças ao sucesso que conseguiu no horário das sete da Globo com Cobras & Lagartos, em 2006, João Emanuel Carneiro conseguiu adentrar o restrito grupo de autores de novelas das oito da emissora. Na época, o folhetim alcançou média de 38 pontos e ressuscitou a faixa de programação que tinha amargado 27 pontos com Bang Bang. Mas, com A Favorita, João Emanuel não tem dado a mesma sorte.

Sua transição para o horário nobre tem sido marcada por uma audiência insatisfatória. A produção registra 37 pontos de média com 54% de participação. É um resultado bem aquém do razoável para a emissora.

João Emanuel traz um frescor que é bom. Mas, se levado ao exagero, não se encaixa no horário das oito, que pede mais drama, histórias sólidas e muito romance. Uma trama com comédia leve e tom farsesco, como retratar a falsa e caricata homossexualidade de Halley, de Cauã Reymond, por exemplo, só se encaixaria num horário das sete, apropriado ao gênero.

A relação entre o jornalista Zé Bob, de Carmo Dalla Vecchia, e a perua Donatela, de Cláudia Raia, também é um exemplo de trama muito ingênua para o horário. Os dois brigam como gato e rato toda vez que se encontram. Dessa forma, poucos capítulos depois da novela ter começado, a história já passou de engraçada a cansativa.

Romance água-com-açúcar cheio de desencontros pode até funcionar no horário das sete. Mas, às oito, ou melhor, às nove, pede-se paixões ardentes e noites de amor. Até agora, os dois, no máximo, beijaram-se voluptuosamente. Lentidão incoerente para personagens que não são, nem de longe, puros ou inocentes. Parece mais namorico de adolescentes. E esse é só o caso mais descarado, mas não é o único.

O núcleo mais explícito, que quase beira a comédia pastelão, é mesmo dos personagens Halley e Orlandinho, de Cauã Reymond e Iran Malfitano, respectivamente. Os dois descambam para a comédia e discutem o homossexualismo de maneira totalmente grotesca, bem diferente do que foi feito em absolutamente todas as novelas das oito anteriores, que se propunham a um enfoque mais sério e construtivo.

Nas tramas que envolvem também a agência de publicidade, encabeçada por Mário Gomes no papel de Gurgel, o excesso de graça beira o inverossímil. Fica claro que o personagem tem o intuito de mostrar a pilantragem que muitas vezes envolve o mundo da política.
Mas já é fantasia demais acreditar que um deputado precavido como o Romildo Rosa, de Milton Gonçalves, se deixe levar por um profissional tão atrapalhado. Dava para diminuir o tom nesse caso.

Exceto Cauã Reymond, que carrega nas tintas em sua interpretação e tem uma parcela de culpa nos exageros, em nenhum dos outros casos o desmérito é dos atores. Todos estão seguros em suas performances. O problema é que colocados em diversas situações, ficam ridículos. E vale destacar aqui que Cláudia Raia é o melhor nome para comprovar essa tese.

Nas cenas em que Donatela não aparece com Zé Bob, a atriz consegue transmitir com perfeição o estilo das novas ricas do interior que, mesmo depois de endinheiradas, não perdem os trejeitos espalhafatosos e exagerados de quando não eram habituadas ao luxo.

A composição corporal de Cláudia é brilhante nesse papel. Só continua sendo difícil não ter a certeza de que ela é a vilã da história. João Emanuel, aliás, foi ousado ao desenvolver uma história que não tem heroína e vilã predeterminadas. Pois esses são pontos de apoio para o público mergulhar na história e ter prazer em acompanhá-la.

Já que ele preferiu inovar com uma estratégia diferente - o que é sempre bom -, não pode temer mudar um pouco, só um pouco, o estilo que o consagrou em outra faixa de horário. Sua novela é dinâmica, tem bons personagens de peso e coadjuvantes que fazem a diferença. É fácil se divertir com A Favorita. Mas, de tão leve, o folhetim parece frágil, porque permite que a atenção escape. A novela de João Emanuel está longe de ser ruim. Há tempo para ajustes.




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