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Diretor do Netuno traz novas ideias para o futebol do País

Federspiel trabalhou 20 anos como observador
no Bayer Leverkusen e compartilha experiência

Felipe Simões
25/01/2016 | 07:00
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Celso Luiz/DGABC


Não fosse o sobrenome, Thomas Federspiel passaria, ao menos na aparência, como um diretor de futebol comum, que trabalha desde o ano passado no Água Santa. No entanto, algumas interjeições e a troca de gênero de algumas palavras o entregam como estrangeiro. Mas não é só isso: as ideias que traz ao clube têm como principal objetivo incorporar tudo o que aprendeu trabalhando para o Bayer Leverkusen ao redor do mundo para o jeito de atuar no esporte no Brasil.

Aos 49 anos, Thomas tem vasta experiência. Natural de Colônia, no oeste da Alemanha, ele foi jogador profissional da Segunda Divisão, mas uma lesão no tendão de Aquiles freou sua carreira aos 25. Pouco depois, recebeu proposta para trabalhar nas categorias de base do Colônia. Estudou Educação Física e tirou a licença para ser treinador. O sucesso no clube da cidade natal foi notado pelo Bayer Leverkusen, equipe de cidade próxima, que o contratou também para formar jogadores. Ao mesmo tempo em que treinava o sub-19, ele começou a desenvolver trabalho de observação de jogadores para a equipe profissional.

“Chegou o tempo em que não podia combinar mais as duas funções, e me foquei na captação, com foco nos mercados brasileiro e sul-americano”, conta o alemão.

Entre idas e vindas, em 2001 o Bayer Leverkusen decidiu deixá-lo fixo no Brasil. A expectativa era ficar dois anos, que acabaram virando 11 – e bastante frutíferos: ele participou das transferências dos zagueiros Lúcio e Roque Júnior, dos volantes Zé Roberto e Émerson, do meia Renato Augusto e do atacante França para o clube. Como as condições econômicas do futebol sul-americano estavam se alterando, o Leverkusen decidiu transferi-lo para o Japão, onde passou a observar atletas do mercado asiático até o ano passado, quando recebeu o convite do Água Santa pelo diretor das categorias de base, Wilson Farias, este que antes atuava como empresário.

“Eu já estava pensando em fazer algo diferente, mais do que correr atrás de novos jogadores. Queria algo em que teria a possibilidade de juntar todas as diferentes experiências que tive em três mercados do futebol”, afirma Thomas. “No meio do ano passado ele (Wilson Farias) me mandou um email dizendo que tinha uma nova função e queria apresentar um projeto. Na resposta, falei brincando: ‘Um dia vocês contratam um alemão para fazer algo diferente’. Nem estava falando sério. Dois dias depois recebi o convite do presidente Paulo (Sirqueira) para conhecer o clube e acabei ficando”, narra. “Eu já conhecia a realidade brasileira, não ia me aventurar porque não tenho mais idade para isso, eram 20 anos de trabalho em um clube estabelecido na Europa. Mas vi a forma que eles pensavam, é diferente do que eu tinha conhecido no Brasil”, diz.

Apesar de ter ideias diferentes, o diretor do Netuno não acredita que fará milagres no futebol brasileiro. “Jamais viria aqui porque quero implementar um sistema do futebol alemão. O que quero na base, no talento natural do futebol brasileiro, é acrescentar métodos que deram certo em outros lugares. Em termos de organização do clube, de treinar um pouco diferente, de qualificar o treinador”, destaca ele, que ajudou na preparação da equipe na Copa São Paulo de Futebol Júnior.

Um dos objetivos de Thomas é mudar a cabeça dos técnicos das categorias de base dos clubes. “Temos de qualificar as comissões técnicas, como é feito na Alemanha. Um problema que vejo é que o trabalho do técnico da base não é muito reconhecido. Os técnicos da base se definem através do número de títulos, não pelos jogadores que preparam para entregar ao time profissional. Sou realista, não é fácil mudar. Temos de falar que o bom trabalho deles é o maior número de atletas no profissional. É um processo pelo qual passamos na Alemanha. Hoje o trabalho de base é muito mais reconhecido. Muitos técnicos da Primeira Divisão de lá vêm da base. O Brasil tem aquele rodízio de nomes”, compara.

Thomas aponta essa mudança como fundamental no processo que transformou a Alemanha em campeã mundial em 2014. Mas a alteração foi lenta e começou a ser feita a partir de 2000, quando, na Eurocopa realizada na Bélgica e na Holanda, a seleção foi eliminada ainda na primeira fase. “(A Copa do Mundo de) 2002 foi um acidente de trabalho. Não tínhamos muito talento, mas tem aquele nome da Alemanha e chegaram do jeito que foi, ganhando com gol chorado. O caminho foi percorrido e hoje o resultado está aí”, comenta.

Como está trabalhando mais com as categorias de base, Thomas teve pouca influência na montagem do elenco profissional. Nas próximas temporadas, ele promete que estará mais antenado no mercado para indicar e contratar atletas. “Como estava fora do Brasil, não estou tão bem informado para ajudar, isso vai acontecer durante este ano, quando vou conhecer o mercado de novo. Seria errado forçar algo agora”, diz.

O resultado, como Thomas projeta, aparecerá em dois ou três anos. Bagagem existe de sobra, resta saber se a prática dará certo no Brasil. 




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