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Livros para que te quero

Brasileiro não gosta de ler? Quem ‘devora’
até 100 obras por ano foge desta realidade

Miriam Gimenes
11/01/2016 | 07:45
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Marina Brandão/DGABC


Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga, foi o primeiro livro impresso no País, em 1812. Passados mais de dois séculos, milhares de publicações circularam por aqui, brasileiras e estrangeiras. E pelo que as pesquisas apontam, ainda que a oferta seja grande, o brasileiro lê cada vez menos. Carlos Drummond de Andrade disse certa vez: “A leitura é uma fonte inesgotável de prazer, mas por incrível que pareça, a quase totalidade, não sente esta sede”.

Ele tinha razão. Segundo a última pesquisa Retratos da Leitura no Brasil 3, realizada pelo Instituto Pró-Livro e publicada em 2012, o brasileiro lê, em média, quatro livros por ano, entre literatura, contos, romances, livros religiosos e didáticos. Deste total, são 2,1 livros inteiros e dois em partes. “A grande maioria não gosta de livros. Temos uma juventude voltada para o mundo digital. A comunicação ligeira ocupa todo tempo das pessoas, que não conversam mais, não leem mais, estão rendidas à tecnologia”, afirma a socióloga Zoara Failla, coordenadora da pesquisa.

Levantamento mais recente, feito pela Fecomércio-RJ em 2014, mostrou que sete em cada dez brasileiros não pegou sequer um livro durante 12 meses. “Não temos dentro da escola práticas de leitura que sejam cativantes, que despertem na criança o interesse pela leitura. Quando chega na vida adulta, notamos a deficiência na formação deste hábito. Os próprios professores que responderam a pesquisa confessaram também não ler”, justifica a socióloga. Além do fator escolar, ela destaca a falta de pais leitores.

Isso não ocorria, no entanto, na casa de Alba Marchesini Milena, 38 anos, de Santo André. Por incentivo da mãe, que lia todos os dias para ela e as duas irmãs, ganhou gosto pelos livros. “Comecei a ter vontade de aprender logo a ler. Queria saber que mágica era aquela que as pessoas conseguiam entrar em outro mundo pelas letras.” Conseguiu concluir o primeiro livro aos 8 anos e não parou mais, tanto que tomou o hábito por profissão e virou agente literária. Até por conta disso, no ano passado chegou a ‘devorar’ 140 obras. “Leio de tudo, para mim e pelo trabalho, só não curto autoajuda”, confessa. E como encontra tempo? “Ao invés de assistir à televisão, eu leio. Quando meu filho está na escola ou está brincando, leio. É meu trabalho e meu lazer.” E, para incentivo, fez o Livro de Marcar Livros – Diário de Aventuras Literárias, espécie de agenda de leituras. Nele é possível anotar todos as obras que leu e separá-las por categorias.

ESPERANÇA

Zoara Failla diz que existe luz no fim do túnel. “Há um fenômeno interessante com a literatura juvenil. Temos cerca de 24 milhões de jovens, de 5 a 17 anos. E neste número, temos 4 milhões de jovens que leem espontaneamente, o que é um numero considerável.”

A publicitária Bianca Nunes Peixoto, 22, de Santo André, está entre eles. Desde que leu o primeiro livro da saga Harry Potter – um divisor de águas no mercado literário – ainda adolescente, não parou mais. “No ano passado queria chegar a 100 títulos, mas só consegui 77.” A leitura a segue todos os dias, tanto que criou o blog maisumleitor.com, em que coloca resenhas de obras, filmes e séries.

Renata Guimarães, 29, professora, que leu quase 40 livros ano passado, diz que não separa uma verba específica para comprá-los. "Quando passo por uma livraria e vejo algo que gosto eu levo. Mas na ''''''''''''''''black friday'''''''''''''''' eu,  minha irmã e minha mãe piramos, compramos mais de 30 livros." 

Como é notável, não há desculpa para não ler. Que tal aproveitar o início de ano e colocar mais esta entre as resoluções dos próximos onze meses? Ainda há tempo de contrariar Drummond.  

Publicações virtuais são práticas e ganham adeptos 

A jornalista Paula Cabrera, 31, de Mauá, atingiu a marca de 123 livros no ano passado. A maioria deles virtual. “Leio à noite, antes de dormir e o livro físico era terrível para isso. O abajur não era suficiente, o marido reclamava da luz forte, um transtorno. Com o virtual dispensei o abajur e leio sem problemas direto no tablet ou no celular. Também facilita quando estou fora de casa. Viajei ano passado e levei 10 livros virtuais no meu celular que pegariam um espaço enorme na minha mala.”

Segundo ela, há opções de bibliotecas on-line, algumas feitas por amadores, que disponibilizam autores pouco publicados no Brasil. “ Prefiro ler no formato ePUB (parecido com o livro físico, que permite aumentar a letra conforme a necessidade).” 

Ainda que a leitura virtual tenha conquistado Paula, a prática ainda é pequena entre os brasileiros – na pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, apenas 5% dos entrevistados (9,5 milhões) têm essa opção. 

Independentemente da forma como as letras são absorvidas, o importante é encontrar tempo. “Carrego um livro sempre comigo! No ônibus, metrô, manicure. Se vou de táxi para algum lugar também levo. E se estou em casa, deixo no criado-mudo. Assim todas as noites consigo ler mais um pouco”, conta Nayara Furlan, 29, de São Bernardo, que para este ano quer chegar a 16 títulos.

NÚMEROS

Segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil 3, o País é composto por 50% de leitores ou cerca de 88,2 milhões de pessoas. Destes, 53% são mulheres e 43% homens. 

 A maioria dos entrevistados (71%) afirmou que considera a biblioteca um lugar para estudar; para 61% é um lugar para pesquisa; em seguida, aparece como ambiente voltado para estudantes para 28% dos entrevistados, e, em quarto, com 17%, a biblioteca é apontada como local para emprestar livros de literatura. Poucos se encorajam, no entanto, a buscar livros para lazer.

Os Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo concentram 47% dos leitores de e-book. As compras na região Sudeste representam 50% do acesso às obras.

O Nordeste está lendo mais. Os moradores da região leem em média 4,3 livros por ano, maior que a média brasileira, de quatro livros.

Ao optar por ler um livro, a maioria da população do Nordeste revela que a motivação vem da atualização cultural e de conhecimentos gerais, apontado por 51% dos entrevistados. Em seguida, com 48%, é o prazer, gosto ou necessidade espontânea e um pouco abaixo, com 45%, exigência escolar ou acadêmica. Também aparecem na lista motivos religiosos (29%), atualização profissional (25%) e exigência do trabalho (8%).

No ano passado, segundo levantamento feito pelo site Publishnews, portal especializado em notícias e informações sobre a indústria do livro, despontam como mais vendidos os livros direcionados para pintura, de Johanna Basford (Jardim Secreto e Floresta Encantada). O clássico O Pequeno Príncipe ficou em 8º lugar, com 152.276 cópias vendidas. 

Fontes: Instituto Pró-Livro e Publishnews




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