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Uma chance em
100 mil para a vida
Por Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
12/06/2011 | 07:00
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Andrea Iseki/DGABC


Uma em cada 100 mil. Essa é a chance de se encontrar um doador de medula óssea 100% compatível no País. O estudante Lucas Guizzardi, 10 anos, morador de Ribeirão Pires que tem câncer no sangue, conseguiu o seu.

A busca de cinco anos foi encerrada com um telefonema da médica de Lucas, às 7h30 de sexta-feira. "Não acreditei quando ela falou. É a chance de salvar meu filho!", comemorou a mãe, a técnica em gesso Rosimar Guizzardi, 36.

Lucas nasceu e cresceu como uma criança normal até os 5 anos, quando surgiram bolinhas vermelhas por seu corpo, como se fosse uma alergia por comer muito chocolate. Não era. O diagnóstico veio logo: leucemia linfoide aguda. "Quando descobriram o câncer, 88% das células do corpinho dele estavam contaminadas", relembrou a mãe.

O menino fez o único tipo de tratamento para a doença: quimioterapia. Por dois anos, Lucas enfrentou sessões que o deixavam abatido e sem cabelo. Nesta época, ganhou Spike, cãozinho que é seu companheiro até hoje. "Ele não podia ter cachorro por causa da imunidade baixa, mas quis tanto que não tive coragem de negar", afirmou.

Aos 7 anos, a batalha parecia ter terminado. "Tinha que fazer acompanhamento, mas me tranquilizaram dizendo que era muito difícil a doença voltar."

O menino estava com 9 anos quando as bolinhas apareceram de novo e, no começo, a mãe pensou que fosse o lanche que havia mandado para a escola. "Mas era o câncer de novo. E o desespero voltou."

A família recebeu a notícia de que a única chance de Lucas viver seria o transplante. Sua irmã, Rosiane, fez o teste de compatibilidade. "Mas deu só 75%. Fiquei tão triste", contou a jovem.

A tristeza deu lugar à esperança. A família organizou campanha para cadastrar potenciais doadores de medula óssea no Redome (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea), realizada em maio. "Muita gente ajudou, fizeram camisetas e, no fim, 1.726 pessoas se cadastraram. Foi um sucesso", afirmou Rosimar.

Sonho

O transplante ainda não tem data marcada, mas a expectativa da mãe é de que seja feito nos próximos 15 dias. "Deve ser no Hospital das Clínicas, que é referência nesse tipo de cirurgia."

Há um ano o maior desejo de Lucas era encontrar um doador. Mas se você perguntar hoje o que ele mais quer, Lucas vai te responder com um sorriso nos lábios: "Quero ser jogador de futebol".

Prazo para conhecer doador é de um ano

Quem é a pessoa que vai doar a medula óssea para Lucas Guizzardi? "Queria conhecer o doador", disse o menino. Porém, isso só deve acontecer um ano após o transplante.

O hematologista José Carlos de Almeida Barros explicou que esse prazo é necessário porque a cirurgia envolve muitos riscos. "Depende muito do estado de saúde da pessoa, mas é preciso lembrar que a cirurgia é delicada e existe a possibilidade de rejeição."

Se tudo der certo, entre dez e 20 dias após o transplante, Lucas deve começar a produzir células sanguíneas saudáveis. "Por dois meses ele precisa ficar internado, e depois deve permanecer em local esterilizado, para evitar infecções", afirmou Barros.

No Grande ABC, desde 2007, já foram realizadas quatro campanhas para cadastro de potenciais doadores. Três delas foram organizadas por Juliana de Araújo Santos Moura, mãe do menino Breno, que não resistiu à aplasia medular e morreu no ano passado. Mesmo assim, Juliana teve forças para ajudar a mãe de Lucas, Rosimar Guizzardi, a organizar mais uma campanha. "É a única forma de ampliar o cadastro e as chances de quem precisa encontrar um doador compatível", destacou.

Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil tem 1,9 milhão de pessoas registradas no Redome (Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea), o que torna o País o terceiro maior banco de dados do gênero, atrás apenas de Estados Unidos e Alemanha. Mesmo assim, 1.035 pessoas aguardam pelo transplante devido às dificuldades de encontrar um doador compatível.




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