Machado de Assis (1839-1908) é um dos maiores escritores brasileiros. O centenário de sua morte neste ano foi tema de exposições e discussões literárias, mas o fato é que as novas gerações ainda o encaram como ‘leitura obrigatória'. A TV, por que não, pode devolver-lhe a popularidade experimentada em vida.

Uma parceria entre a Rede Record e a produtora carioca Contém Conteúdo levará à TV aberta a adaptação do conto machadiano Os Óculos de Pedro Antão. O especial de fim de ano, batizado de 200 Anos de História trará também um capítulo em homenagem aos 100 anos de nascimento de João Guimarães Rosa. Ambos vão ao ar no dia 29 de dezembro, às 23h.

"Queremos fazer a experiência de trazer uma linguagem cinematográfica para a televisão", explicou o diretor Adolfo Rosenthal, em coletiva de imprensa no Rio, na última quarta-feira. "Machado de Assis é conhecido pelos romances, não pelos contos. Vamos levar à tela um Machado novo".

Gravado com equipamentos de cinema digital, o especial é uma aposta em todos os sentidos. O projeto ousa na linguagem cênica, no elenco principal quase todo desconhecido, e na preservação de praticamente todo diálogo original. "Eu conservei o ponto de vista do narrador. Lapidei somente o diálogo que já existia. As frases passam muito bem, só alteramos uma palavra ou outra que não são mais atuais", conta Rosenthal, que também assina o roteiro adaptado.

Na história, Mendonça (Bruno Mello) herda de seu tio, Pedro Antão, um casarão. Dez meses depois, o rapaz convida o amigo Pedro (Michel Bercovitch) a visitar o local, ainda fechado por desejo do morto. Lá, na presença de alguns objetos encontrados - inclusive um par de óculos com a lente trincada -, a dupla cria uma trama para explicar o mistério que pode envolver morte do velho homem.

Também estão no elenco Karen Marinho, Roberto Pirillo, Luiza Tomé, Ana Cristina e César Mayko.

Locação - Diferentemente do que costuma acontecer em produções mais longas, Os Óculos de Pedro Antão é gravado em duas locações reais, não em estúdio. Uma das casas fica no bairro Alto da Boa Vista, no Rio de Janeiro, e foi construída em 1890. Paredes um pouco escuras pela intensa umidade no local, móveis e piso desgastado foram mantidos para garantir a áurea fúnebre do conto. Algumas cenas serão gravadas em um pequeno castelo histórico, construído também no século 19, localizado no bairro de Santa Tereza.

Futuro - "Nossa idéia é que sejam adaptados cinco contos de Machado, que depois se transformariam em uma minissérie e, enfim, em um longa-metragem", revela o produtor executivo Aguinaldo de Fiori Filho.

Além da exibição da produção na Record Internacional - daí a preocupação da emissora com a extrema qualidade nas imagens -, o projeto, que já está na casa dos R$ 600 mil, firma parceria com o MEC para exibir os capítulos nas escolas e bibliotecas públicas brasileiras a partir do ano que vem.