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Os vampiros da madrugada

Repetiu-se o velho esquema, agora com os sinais trocados: no final da madrugada, a Polícia Federal bate à porta de alguém e apreende documentos e bens

Carlos Brickmann
09/11/2008 | 00:00
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Repetiu-se o velho esquema, agora com os sinais trocados: no final da madrugada, a Polícia Federal bate à porta de alguém e apreende documentos e bens, que serão prova num processo que o atingido nem sabe que existe. Desta vez, em que a vítima de hoje foi o algoz de ontem - o delegado Protógenes Queiroz - houve dois avanços: ninguém chamou a TV, para expor ao público a ação policial, nem houve decretação de prisões apenas para a prestação de depoimentos.

Que é briga de facções, parece não haver dúvida; que os amigos do banqueiro Daniel Dantas tomaram a ofensiva contra seus inimigos também parece claro. Infelizmente, nenhuma das facções trabalha pelo Estado de Direito. Mas há um fato mais importante do que estes: o uso ilegal da quebra do sigilo telefônico. Pelo jeito, não importa qual seja o grupo de policiais, o modo de operar é o mesmo: a tentativa de violar o princípio constitucional de princípio da fonte, o desprezo pelas garantias individuais. A polícia tem de obedecer à Justiça; este princípio básico existe onde há democracia. Quando a polícia quer mandar, é ditadura.

Que ninguém se espante com a briga de facções. Isto é conseqüência da falta de disciplina, e acontece sempre que o poder das polícias cresce. Há um livro clássico sobre o assunto: O Zero e o Infinito, de Arthur Koestler. Ali, um alto agente da repressão (o caso é tão adequado para o Brasil que seu nome é Roubatchof) vai preso. Era tão fiel ao governo que mandou para a tortura e a morte até sua amante. E aquilo que fez com suas vítimas é aplicado a ele. O livro é ótimo.

LULA LÁ
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva viaja hoje para a Itália, para encontros com o papa Bento 16, o primeiro-ministro Sílvio Berlusconi e empresários que podem se interessar em investir no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Da Itália, segue para os Estados Unidos, para uma reunião de cúpula sobre economia mundial, marcada para os dias 14 e 15. Domingo que vem está de volta.

BALÊ ELEITORAL
Aécio Neves foi convidado para trocar o PSDB pelo PMDB, com garantia de que será candidato à Presidência. Aécio não tem demonstrado entusiasmo (até porque não seria o primeiro: Itamar foi para o PMDB com a garantia de que seria candidato, em 1998, e o partido preferiu Fernando Henrique). Ele prefere repetir, com Serra, o balê que seu avô Tancredo e Ulysses promoveram em 1985: ambos são candidatos. E o que tiver mais chances ganha o apoio do outro.

PAU QUE DÁ EM CHICO...
O delegado Protógenes Queiroz se queixou da operação de busca e apreensão da Polícia Federal nos dois imóveis em que reside, em Brasília e São Paulo, e no apartamento do filho, no Rio. "Levaram meu computador, meus celulares, meus pen-drives", lamentou. Exigiu que o Judiciário condene Daniel Dantas: "Se ele não for condenado e preso, a Justiça estará desacreditada. Será um estímulo à corrupção no país". Queiroz já tinha dito que Dantas merece prisão perpétua. É normal que o delegado defenda a condenação: acredita que os acusados sejam culpados, tanto que os indiciou, tanto que solicitou sua prisão. Mas, se obriga a Justiça a obedecê-lo, sob pena de desmoralização, para que existem juízes?

...DÁ EM FRANCISCO
Protógenes, irritado porque, em suas palavras, "os investigadores é que estão sendo investigados", criticou duramente o Supremo Tribunal Federal, que confirmou os habeas corpus concedidos a Dantas, e ligou o julgamento à busca e apreensão em suas residências: "Isso faz parte da patranha armada pelo Supremo".

CADÊ A CONCORRÊNCIA?
O governador paulista José Serra acertou com o governo Federal a venda, para o Banco do Brasil, da Caixa Econômica Estadual (Nossa Caixa). Tudo muito simples, tudo muito informal: o valor fica entre R$ 6 bilhões e R$ 7 bilhões, e pronto. E a concorrência, governador Serra? Por que não permitir que outros bancos façam suas ofertas pela Nossa Caixa, e que ganhe quem pagar mais? Se a Nossa Caixa é um bem público, que seja vendida pelo melhor preço possível. Não se pode dispor de um banco estatal como se fosse propriedade privada: sem concorrência, leilão ou outra forma de disputa, todo o processo fica manchado.

A COR DA PELE
A eleição de Barack Obama tem o mesmo significado simbólico que, há quase 50 anos, teve a vitória de John Kennedy: a ruptura de uma barreira antidemocrática. No caso de Kennedy, a barreira religiosa: foi o primeiro católico na Presidência. No caso de Obama, a barreira étnica. E, algum dia, uma mulher comandará a Casa Branca. Mas religião, sexo e cor da pele não são suficientes para resolver os problemas americanos. Condoleeza Rice é mulher, negra e teve grande poder, e a diplomacia americana não chegou a andar bem. Obama terá de mostrar, como presidente, a extraordinária competência que exibiu como candidato.




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