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Bicho de estimação exótico vira atração na Vila América
Por Vanessa de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
21/11/2015 | 07:00
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Anderson Silva/DGABC:


Nos punhos da coordenadora do projeto Empreender da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André), Adriana Pasqualini, 41 anos, moradora da Vila América, em Santo André, a tatuagem de dois cães de estimação, já falecidos, mostra o seu amor pelos animais. Amor esse, que não se limita aos mascotes mais comuns.

Além de outros dois cachorros (um deles, com guarda compartilhada com o namorado), Adriana tem dois ratos, dois passarinhos vindos de maus-tratos e quarenta bichos-pau, insetos que possuem esse nome pela semelhança com um graveto.

“No ano passado, fui ao zoológico e quando vi o bicho-pau falei que tinha que ter um desses. Sou uma pessoa muito curiosa, gosto de coisas que fogem um pouco da rotina”, conta. Duas semanas após a visita, ela foi em busca de como poderia conseguir um exemplar do inseto. “Uma amiga bióloga me deu seis ou sete ovos, que demoraram quase oito meses para eclodir”, lembra.

Adriana, que mora com a mãe e o padastro, reservou um espaço da casa para os insetos. “No início, meu padastro pensava que eram grilos”, fala. “Fiz um terrário e coloquei telas, porque eles necessitam de muita ventilação, mas não pode ter corrente de vento”, explica ela, acrescentando que também há um cantinho para a “maternidade”. “Não coloco os grandes junto com os pequenos, para não machucar. Eles não se mordem, mas um pode voar e acabar machucando a perninha do outro, melhor deixar quando atingir uns cinco, seis centímetros, para levar ao terrário maior.”

Segundo Adriana, uma fêmea pode botar, ao longo da vida – de 14 a 16 meses –, 600 ovos. “Mas nem todos os ovos que colocam eclodem”, salienta. A reprodução entre os bichos-pau é sexuada ou assexuada, através de um processo chamado partenogênese, no qual um embrião é gerado sem que se recorra à fertilização. Muitos dos ovos, Adriana doa para centros ecológicos. Alguns dos que nascem e ficam com ela, ganham nomes, como Elvis, de apenas uma semana.

A distinção de sexo se faz pela estrutura dos insetos. O macho, que vive no máximo 13 meses, tem asas e é mais delgado. “Já a fêmea é mais gordinha e maior. O macho chega a ter 15 centímetros e a fêmea 30 centímetros”, diz Adriana, ressaltando que os insetos não picam e são completamente inofensivos.

A alimentação é baseada em folhas de árvores frutíferas, principalmente goiabeiras, e a cada mês os insetos trocam de pele. “Chegam a trocar a pele da antena e se perdem uma patinha, na troca vem uma outra. A anatomia deles é fora de série. A transformação deles me apaixona.”

O sentimento que Adriana tem pelos bichos-pau é o mesmo que partilha com outras espécies de animais. “Fico triste quando eles morrem e enterro todos. A gente se apega. É o mesmo amor que tenho por qualquer tipo de espécie”, declara. “Menos barata”, conclui, aos risos.

 

Idosos são referência de animação

De domingo a domingo, turma de cerca de 40 idosos tem encontro religiosamente marcado na Praça Benedito Dahy há pelo menos uma década. Os moradores do bairro se reúnem diariamente para jogar dominó, baralho e bater papo. A animação do grupo toma conta do espaço e os tornaram uma das referências da área.

A reunião começa logo após o horário do almoço e, se o clima colaborar, não tem hora para voltar para casa. Mas o que as esposas acham disso? “Elas dão graças a Deus que estamos aqui”, fala, aos risos, José Bispo, 72 anos. “Nosso horário de vir para cá é as 13h30. Quando chega 13h20, a mulher já fala: não está na hora de ir, não?”, completa Narciso Campeol , 66.

Os alegres senhores esbanjam vitalidade. Seu Bernardino Brechani completou ontem 95 anos e é participante fiel dos encontros. “Aqui tem bom papo, todo mundo brincando, é uma maravilha”, ressalta.

Nem a chuva é capaz de estragar a reunião dos amigos. Se São Pedro abrir as torneiras, eles amarram uma lona nas árvores da praça para se protegerem. Uma vez por mês tem um dia reservado para um churrasco. Geraldo Picolo, 68, se encarrega da cantoria para animar o ambiente ainda mais: “Sou o típico cantor de restaurante. Enquanto canto, os outros comem”, diverte-se.

Estarem juntos todos os dias é uma terapia para os idosos. “ É a maior alegria. A gente esquece todos os problemas. Isso ajuda muita gente”, salienta Roberto Prezotto, 82. Nelson Martinho, 73, é um exemplo disso. “Operei a bexiga, por conta de um câncer, 13 vezes. Meu tratamento foi aqui, pois é risada o tempo todo. Fiz muitos amigos e sei que posso contar com eles. Os considero como uma família.”

 

Senhor esbanja talento e criatividade

Uma mente brilhante e sem limites para criar. Essa é a principal característica do aposentado Nelson Alvares, 83 anos. Os pensamentos se transformam em realidade em suas mãos. Da oficina instalada nos fundos de casa, ele faz a alegria de gerações. Os grandes destaques foram os carros artesanais criados para os três netos e, depois, os dois bisnetos.

Alvares sempre atuou na área mecânica e passou por algumas montadoras. Desejava desenvolver um carro para os dois filhos, porém, trabalhava muito e o tempo era escasso. “Saía às 6h e voltava às 20h. Só comecei a fazer depois que me aposentei, para os três netos”, conta.

A primeira criação foi um carrinho de controle remoto. Inquieto, ele resolveu ousar mais: criou um mini-jipe, este possível de pilotar. O veículo era sensação por onde os netos passavam e até participou de apresentações com jipeiros em Ribeirão Pires.

A terceira criação foi um estiloso carrinho rosa com pedal para a bisneta, na época, com cinco anos (hoje ela tem 15). Há três anos, Alvares começou a preparar o modelo YE (em alusão aos nomes dos bisnetos Yasmin e Enzo – este com 8 anos). Os estofados foram confeccionados pela esposa, dona Orlene Itamar Alvares, 77. O veículo atinge, no máximo, 15 km/h. Durante o passeio, o neto, pai dos bisnetos é quem assume a direção. “Fiz estes carrinhos para me distrair e também mostrar aos meus netos e bisnetos o que a gente é capaz de produzir, mesmo com pouco recurso”, fala Alvares.

Agora, o aposentado diz que “pendurou as chuteiras”. No entanto, só na produção de carrinhos, pois as ideias continuam fervilhando em sua cabeça. A mais recente criação foi para atender a uma necessidade própria, mas ele faz questão de compartilhar o projeto para quem, assim, como ele, passe pela mesma situação. Devido a um tumor benigno no intestino, Alvares precisa usar uma bolsa de colostomia afixada no abdômen. Para esvaziar o material que fica contido nessa bolsa (urina ou fezes) de maneira mais confortável, criou uma espécie de funil: cortou o fundo de um galão de água, fez um acabamento emborrachado para tirar as rebarbas cortantes e, quando vai ao banheiro, coloca o garrafão de boca para baixo no vaso sanitário e faz o despejo dos dejetos.

“Penso o tempo todo. É bom para o cérebro funcionar. Quem faz isso tem menos risco de ter Alzheimer”, ressalta.




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