Cultura & Lazer Titulo
Pierre Verger em documentário
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
23/12/2000 | 14:54
Compartilhar notícia


Pierre Verger renasce mais uma vez. O fotógrafo e etnógrafo francês, que adotou a Bahia como lar em 1946 e o nome iorubá Fatumbi, é tema de um documentário em cartaz no Top Cine, em Sao Paulo. Dirigido por Lula Buarque de Hollanda, primo do cantor e compositor Chico Buarque, Verger - Mensageiro Entre Dois Mundos (1998, Brasil), produzido pela Conspiraçao Filmes, é sua estréia em longa-metragem (antes, dirigiu os musicais Tempo Rei, A Sede do Peixe e Barulhinho Bom, e o documentário Filhos de Gandhy).

Após ter cumprido carreira em festivais nacionais (melhor produçao cultural de TV no Grande Prêmio Cinema Brasil) e internacionais (medalha de bronze no New York TV Festival) e ter sido exibido em 1998 no canal por assinatura GNT em dois episódios, Verger é também o primeiro filme nacional da distribuidora carioca Filmes do Estaçao.

Gilberto Gil apresenta e narra o filme como uma espécie de detetive que segue os passos de Verger, e fala como o próprio Fatumbi, que significa "aquele que renasceu na graça do Ifa". Ifa, deus da adivinhaçao, é a versao africana do jogo de búzios no Brasil.

O cantor joga, em nome de Fatumbi, no mesmo terreiro na República do Benin onde Verger foi iniciado na religiao iorubá. Pierre Fatumbi Verger, um "idiota racionalista francês", como ele chamou a si mesmo na entrevista que deu a Gil um dia antes de morrer em 11 de fevereiro de 1996, mostrou os laços entre Brasil e Africa, e adotou costumes e simbologias iorubás.

Essa contradiçao entre a crença nos orixás e a "despoetizante" crença na razao é mostrada por Gil ao percorrer os mesmos caminhos de Verger em Salvador, no Benin e em Paris. Verger concluiu, em 1966, Fluxo e Refluxo, publicado em 1987 no Brasil, mostrando os caminhos que historiadores percorreriam depois para pesquisar o tráfico de escravos da Africa para o Brasil e as experiências de levar famílias de negros brasileiros de volta para o continente africano, no Benin, uma colonizaçao ao contrário.

Destino - Gil conversa com Mae Stella, substituta de Mae Senhora no terreiro Axé Opô Afonjá, em Salvador. Mae Senhora foi quem, em 1948, iniciou Verger no candomblé, proclamando-o Oju-Obá, "os olhos de Xangô", "aquele que tudo vê e tudo sabe". Os búzios de Mae Senhora também previram que Verger teria destino de mensageiro, que ele seguiu, registrando suas visoes de dois mundos. No Benin, ele se tornou babalaô, onde recebeu o nome Fatumbi.

"Desde a entrevista que ele deu a Gil, Verger falava que nao acreditava nos orixás. Colocamos isso para os amigos dele que entrevistamos e cada qual tem uma opiniao diferente. Até hoje, eu mesmo tenho dúvida", diz Lula Buarque de Hollanda.

Foi o trabalho do fotógrafo que chamou atençao de Lula Buarque. "Seu olhar transcendia a pobreza, mostrando a grandeza de personagens que nao eram valorizados. Isso foi inovador em sua época. Tanto Verger quanto Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Hollanda contribuíram para mudar um pouco a visao padrao européia de que ser de origem africana era coisa menor", explica.

O documentário traz depoimentos dos escritores Jorge Amado e Zélia Gattai, do historiador Cid Teixeira, do documentarista etnográfico francês Jean Rouch, do antropólogo Milton Guran, do pai-de-santo Balbino, e outros amigos e admiradores de Verger.

O filme continuará sendo exibido na sala 2 do Top Cine pelo menos até a próxima quinta-feira, nos seguintes horários: 17h, 18h40, 20h20 e 22h. O cinema fica na av. Paulista, 854 (tel.: 287-3761) e o ingresso custa R$ 8.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;