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Sam Peckinpah na melhor forma é a dica em TV
Por Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
01/01/2002 | 17:09
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  Falou em Sam Peckinpah, não vem outra idéia à cabeça senão a de classificá-lo como o esteta da violência no cinema moderno. Desde que passou a autenticar visualmente a brutalidade e o derramamento de sangue (no sentido literal) como características-chave do progresso humano, o cineasta californiano professou para aprendizes dedicados, como Quentin Tarantino e Guy Ritchie no Ocidente, para colegas do outro lado do mundo, como John Woo e Takeshi Kitano, e até para Stanley Kubrick (vide a machadada em O Iluminado e o tiroteio sobre latrinas em Nascido para Matar).

Trata-se desse mesmo Peckinpah, em plena forma, a exibição do filme Os Implacáveis, nesta quarta, à 0h, na Bandeirantes. Vale perder o sono para assistir ao longa-metragem lançado em 1972? Não só vale pela obra em si, mas para entender como o diretor de Meu Ódio Será Tua Herança e Sob o Domínio do Medo maquinou a sua influência entre descendentes e até contemporâneos.

Os Implacáveis é a versão revista e atualizada de Bonnie & Clyde – Uma Rajada de Balas, aquela fita de Arthur Penn que causou torpor geral no fim dos anos 60. Bonnie & Clyde tinha a depressão econômica dos anos 30 como nuance do motim criminoso promovido pelo casal do título. Às suas costas, o par central de Os Implacáveis tem a consolidação dos impérios petrolíferos nos 70.

Para fazer Doc McCoy, o marido, foi escalado Steve McQueen, o herói cujo charme era derivado de sua maneira surrada, puída. O papel de Carol, a mulher, parou nas mãos de Ali MacGraw, a meiga morena que, dois anos antes, motivara os lucros da indústria de lenços ao protagonizar Love Story.

Tudo pronto para começar o mosaico de Peckinpah, incumbido de contar a história de um ladrão de bancos que depende de um corrupto milionário para deixar a prisão. Mal sai do xadrez, McCoy recebe a missão de roubar uma quantia considerável de uma instituição bancária, auxiliado pela própria mulher e por comparsas indignos de confiança. O roubo corre como previsto até o momento em que os cúmplices viram a casaca e McCoy começa a desconfiar que Carol foi para a cama com o tal milionário em uma troca de favores para tirá-lo do xilindró.

Há cenas de mérito, como a inicial, em que desesperança e burocratização são transmitidas nos closes em McQueen e no balé sincopado das máquinas do presídio. Outra memorável é aquela em que McQueen estapeia a mulher no acostamento de uma auto-estrada. E há algumas que se ocupam em mostrar o elástico limite dos protagonistas para ficar com a grana – eles chegam a se esconder dentro de um caminhão de lixo em funcionamento. Assassinatos mostrados em câmera lenta, paisagens urbanas e humanas ilhadas no árido deserto e um sem-fim de crueldades tratadas a pão-de-ló fazem da obra febril de Peckinpah algo mais do que blablablá sanguinolento.




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