Política Titulo Entrevista
PT utiliza de chantagem por apoio político, diz Aloysio

Vice de Aécio Neves na corrida presidencial condena atitude do prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT)

Por Fábio Martins
Do Diário do Grande ABC
25/07/2014 | 07:00
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Denis Maciel/DGABC


Candidato a vice-presidente na chapa de Aécio Neves (PSDB), o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) afirmou ontem que o PT “faz chantagem para obter apoio político”. Essa declaração do tucano foi concedida em entrevista exclusiva ao Diário, na qual condenou a prática utilizada pelo prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho (PT), coordenador da campanha da presidente Dilma Rousseff (PT) em São Paulo, que reuniu os prefeitos da região e sugeriu que, caso não haja adesão ao projeto de reeleição da petista, os recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) poderão ficar travados. “Fiquei chocado. É prática coronelista, atrasada. Parte da ideia de que recursos do PAC são de um partido e que devem ser trocados por apoio político”, criticou.

Articulador político da dobrada tucana em São Paulo, Aloysio compareceu à sede do Diário ao lado do secretário estadual de Esporte, Lazer e Juventude, José Auricchio Júnior (PTB), e do deputado estadual Orlando Morando (PSDB). O senador considerou que as condições deste processo eleitoral são mais favoráveis daquelas enfrentadas pelo tucano José Serra em 2010. “O governo é mal avaliado, economia está num momento ruim.”

Aloysio sinalizou que esse desgaste do PT tem levado a desagregação do bloco político da presidenciável. “Hoje temos em muitos Estados alianças com partidos que no plano nacional apoiam a presidente”, disse ele, em referência à mudança conjuntural no Nordeste.

Apesar de enaltecer a força política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Aloysio frisou que a experiência de eleger poste não deu certo na Capital paulista nem em Brasília. “O prefeito Fernando Haddad (PT) faz gestão absolutamente caótica e a Dilma é promessa não realizada.” Para o senador, a gestão no Palácio do Planalto é atabalhoada. “(A presidente) Tem loja de louças portátil. Ela quebra onde vai.”

Como o sr. analisa o cenário eleitoral? Acredita ser possível agregar forças políticas nesta empreitada?
Pertenço a corrente política forte no Grande ABC. Nesta eleição estamos em disputa com vento a favor. O (José) Serra (PSDB, hoje candidato ao Senado) enfrentou eleição presidencial (de 2010) em condições extremamente adversas: com economia bombando, o então presidente Lula (PT) com gestão bem avaliada, mais de 80% de bom e ótimo, e desejo patente de continuidade. Ele apresentou candidata cuja biografia era em grande parte página em branco, mas a qual ele atribuía grande gestora e o povo confiou. Desta vez, as condições são diferentes. O governo é mal avaliado, economia está num momento ruim, evolução do PIB (Produto Interno Bruto) inferior ao crescimento da população, portanto renda per capita diminuindo, infração alta e desejo de mudança veemente. Acrescento também o prestígio do governador Geraldo Alckmin (PSDB, na corrida pela reeleição). Todas as pesquisas apontam em torno de 50% de intenções de voto. A presença do Serra dá consistência à campanha. Temos aliança ampla (nove partidos). E excelente candidato: jovem, com carreira sólida, bem construída. Grande parte atribuída ao esforço dele. Não é poste dirigido por alguém. Ele abriu caminho como deputado federal, presidente da Câmara, governador bem avaliado em dois mandatos consecutivos. Essas condições positivas se manifestam em todo o Estado e aqui na região também. A presidente Dilma Rousseff (PT) está em primeiro lugar ainda, mas há pesquisas de segundo turno que nos coloca em condições favoráveis.

Por esse panorama de dificuldade para o ano que vem, o que próximo presidente pode fazer para reverter esse quadro desenhado?
Precisa executar bom governo. Diminuir os custos da máquina (pública). Assumir determinadas bandeiras como programas de ação e não como slogans. Programas são lançados sem a menor consequência. Promessas são feitas que não se concretizam. Na campanha presidencial, a presidente Dilma disse que os recursos do pré-sal resultariam em milhares de drones (veículos aéreos não tripulados) para vigiar as fronteiras. Em três anos de governo só tem dois voando. E os 250 aeroportos no interior? Nada tem consequência. As desonerações tributárias que são concedidas para estimular o desenvolvimento cujo resultado é nulo. É governo atabalhoado. Dilma tem loja de louças portátil. A presidente quebra onde ela vai. O que ela fez com o setor elétrico é barbaridade. Abriu enorme rombo nas contas públicas, a tarifa de luz vai subir e quebrou a Eletrobras. É preciso muito talento para obter resultado tão ruim.


Apesar da tendência de queda, como justificar então índices consideráveis da presidente nas pesquisas, com cerca de 38%, à frente do PSDB, com margem de 22%?
Essas pesquisas são indicadores. Vemos que Sul e Sudeste a situação dela é difícil. Índice de rejeição é alto. O que chama a atenção é deterioração da imagem do governo. Número de desaprovação é maior que aprovação. Não fico satisfeito. Há consequência perversa que é o desencanto, frustração, perda de energia cívica. Houve investimento grande de esperança e desperdício de capital político. É de desanimar. Pior que o 7 a 1 levado pela Seleção Brasileira contra a Alemanha (em referência à Copa do Mundo).

O Grande ABC é considerado o berço do PT. O sr. acredita que é possível ao PSDB vencer na região? O Lula terá a mesma força nesta campanha de que teve em 2010?
Há desgaste da presidente. Temos forças políticas engajadas. Já ganhamos (prefeituras importantes) do PT várias vezes aqui. Em Santo André, São Bernardo, Diadema. Não é porteira fechada de ninguém. Eleitor está cada vez mais emancipado, não segue chefias políticas incondicionalmente. Não subestimo a força do PT, é bem estruturado, tem gente de valor, adversário respeitável. Encontrei, inclusive, o Lula em campanha em Palmital (interior do Estado). Ele está em plena forma. No século 20 tem dois políticos de grande destaque: Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. Na virada do (século) 20 para o 21 também dois: Lula e Fernando Henrique Cardoso. Já tem lugar na história. O Lula foi entronizado como muita justiça no Pantheon do PT. Se não fosse o Lula não existiria o PT. E temos orgulho do Fernando Henrique nas nossas fileiras. Mas eles não são candidatos. E a experiência do poste não deu certo. Não deu certo na Capital de São Paulo e nem em Brasília. O prefeito Fernando Haddad (PT) faz gestão absolutamente caótica. O grau de rejeição está se aproximando ao índice do Celso Pitta (morto em 2009) em seu pior momento. E a Dilma é promessa não realizada. O Lula vai se esforçar, mas não é candidato. Numa campanha de reeleição, o que tem de ser analisado é se esse candidato deu conta do recado. Ela ficou devendo em todos os setores. Nada aconteceu.

O sr. comenta da rejeição do PT em São Paulo, porém os petistas defendem que o PSDB tem essa mesma desaprovação no Nordeste. Como quebrar essa rejeição e conseguir penetrar nesse eleitorado?
Na eleição passada (em 2010) levamos surra de criar bicho no Nordeste. Todas essas condições da época em que impulsionava a candidatura da Dilma e freavam a do Serra estavam presentes por causa da popularidade do Lula. Mas estão acontecendo mudanças, que ainda estão circunscritas, de partidos e lideranças políticas, que são significativas do desgaste do atual governo naquela região. Esse desgaste leva desagregação do bloco político. A primeira brecha importante foi a candidatura do Eduardo Campos (PSB, ex-ministro de Ciência e Tecnologia). E hoje temos em muitos Estados de lá alianças eleitorais locais com partidos que no plano nacional apoiam a presidente Dilma. Exemplo: no Piauí, o candidato é o atual governador (Zé Filho), do PMDB. O vice é do PSDB (Silvio Mendes). Vamos enfrentar o PT. No Maranhão, o candidato a governador é do PCdoB (Flávio Dino) e o vice é do PSDB (Carlos Brandão), enfrentando o PT e o grupo do José Sarney (PMDB). Na Bahia, a chapa é composta pelo DEM (Paulo Souto), vice do PSDB (Joaci Goes) e senador do PMDB (Geddel Vieira Lima). Há arranjo de forças no Nordeste que seguramente vão nos dar resultado muito melhor do que tivemos quatro anos atrás.

Em evento do PT na semana passada, dirigentes do PT disseram que o senador petista Eduardo Suplicy vai encerrar a carreira política do Serra. No PSDB, há sentimento que o Serra pode aposentar o Suplicy?
Não estamos mobilizados por isso. Não temos raiva do Suplicy. É concorrência. Frase como essa indica a raiva visceral que integra o temperamento político do PT, que é o principal limitador deles. Nós queremos apenas eleger o Serra, estadista, foi grande deputado constituinte, ministro, governador e prefeito.

Como é lidar com o recurso utilizado pelo PT de que o PSDB vai acabar com o Programa Bolsa Família?
Não pega. Esse truque já está vencido. Assim como o da privatização, falando que vai privatizar a Petrobras. É tipo de chantagem que denota que eles não têm nada de novo a propor. A quantidade de mentiras que o PT esparrama é inacreditável.

O sr. comentou de arranjos locais. Aqui no Grande ABC há exemplo claro que o PT se preocupa com isso, quando o prefeito Luiz Marinho (PT), que é coordenador da campanha de Dilma em São Paulo, reuniu os prefeitos da região e sugeriu que os recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) que ainda estão para ser liberados fiquem travados caso não façam campanha para Dilma. Como o sr. avalia o PT usando desse expediente?
Tomei conhecimento disso e fiquei chocado. Acho que é coisa de coronelismo. Prática coronelista, atrasada. Parte da ideia de que recursos do PAC são de um partido e que devem ser trocados por apoio político. Não acredito que isso tenha vida longa. Agora compreendo a situação do prefeito de Rio Grande da Serra, Gabriel Maranhão (PSDB). Ele está sendo submetido a chantagem. O PT está utilizando desse recurso para obter apoio político. É degradante. Prefeituras estão sufocadas com gastos, custeio. E por outro lado ameaçam município estrangulado de não receber verba se não fizer campanha para a presidente Dilma. Isso é coisa do século 19, do sertão, atrasado. Não é coisa de região forte, industrializada, de peso político, cultura como o Grande ABC. É algo condenável. Para mim causou grande decepção. Não imaginava que o Marinho fosse fazer coisa dessa.




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