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Pinacoteca de São Bernardo vive 'de favor'
Cássio Gomes Neves e Everaldo Fioravante
Do Diário do Grande ABC
22/03/2005 | 12:11
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Raramente foi tão difícil concluir o capítulo final de uma novela como a que ronda o acervo da Pinacoteca de São Bernardo, instituição que fica no Espaço Henfil de Cultura em edifício no qual funcionam ainda a Biblioteca de Arte e uma gráfica da Prefeitura. A reserva técnica do museu quase deixou a condição de sem-teto em ao menos duas oportunidades, em 2001 e em 2004.

Fundada em 1980 e desde 1994 funcionando no Espaço Henfil, quando a Pinacoteca alcançou os 20 anos de existência havia a esperança de celebrar a efeméride com a entrega de uma sede própria. Correram os anos e nada vingou.

No ano passado, nova possibilidade de abrigo surgiu com o projeto que levaria o acervo para o centro cultural que seria construído no entorno das antigas dependências da Cia. Cinematográfica Vera Cruz, sob a administração do artista plástico Odamar Versolato.

O plano não foi adiante, ao menos até então, e as cerca de mil obras do acervo, assinadas por artistas plástico como Antonio Henrique Amaral, Regina Silveira, Carybé, Arcangelo Ianelli e Luiz Sacilotto, continuam a viver de favor.

E agora começa um novo capítulo: “A Pinacoteca merece um espaço maior e mais apropriado para acomodar as obras de arte. Temos um projeto de reforma e adequação do prédio (abandonado) do antigo Fórum de São Bernardo. Logo, logo deve sair um edital para realizarmos isso”, disse Neide Felicidade, responsável pela Secretaria de Educação e Cultura. Segundo ela, o espaço se chamaria Museu de Artes e contaria também com atividades como oficinas culturais.

Salinha – Desde 1994 as obras de arte da Pinacoteca ficam espremidas em uma salinha de cerca de 40m² em condições para lá de inadequadas. “Fico até constrangido de mostrar a situação do acervo”, diz João Delijaicov Filho, curador da Pinacoteca.

Os trabalhos artísticos, a maioria pinturas, ficam em estantes de madeira. Um quadro fica encostado no outro, o que compromete a integridade física dos mesmos. Os dois desumidificadores utilizados na sala formam um sistema de climatização precário.

As pinturas em grandes formatos ‘moram’ no chão mesmo, em pé, sobre ripas. Tapeçarias são guardadas dobradas – sofrem desgaste com o tempo. Como na sala não há espaço sequer para mais uma obra, com composições para todos os lados, tem de se tomar muito cuidado para entrar lá. Só Delijaicov e outro funcionário da Pinacoteca têm acesso à reserva técnica. É uma verdadeira armadilha.

Colada ao acervo está uma cozinha e a gráfica, onde gasolina é utilizada na limpeza de maquinário. Na gráfica, é óbvio, há muito papel, e fogão de cozinha funciona a base de gás. É uma mistura explosiva cercando as obras de arte. E ainda tem mais: a salinha foi feita com divisórias de madeira e fórmica, também inflamáveis.

A situação é lamentável, um exemplo de como não cuidar do patrimônio público, desrespeito com os munícipes e também com os artistas representados no acervo.

A reserva técnica funciona no esquema do improviso. Para a entrada de obras de grande porte foi feito um buraco na porta, o que garante entrada e saída delas. Em alguns casos, material plástico é utilizado entre uma e outra pintura, para que elas não se ‘machuquem’. Problemas são resolvidos à base de medidas caseiras.



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