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Aumenta o número de pessoas que vivem sozinhas
Por Willian Novaes
Do Diário do Grande ABC
25/07/2011 | 07:00
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O número de pessoas que optam por viver sozinhas no Grande ABC cresceu 38% nos últimos dez anos, segundo dados do Censo 2010 do IBGE. No total existem 90.464 moradores que não dividem o teto com ninguém nas sete cidades. A média nacional de crescimento foi de 33%.

Os "solitários" do Grande ABC são jovens, profissionais liberais ou idosos que por algum motivo preferem viver nessa condição. Para os especialistas ouvidos pelo Diário, essa mudança tem diversos fatores, mas dois argumentos foram repetidos por eles.

O primeiro foram as condições do mercado de trabalho na região, que exige profissionais qualificados. Muitos acabam vindo de outras cidades e não trazem a família, ou ainda são jovens e solteiros. O segundo condicionante é a transformação do núcleo familiar, com o crescimento no número de separações e a individualidade das pessoas.

Para o chefe do posto do IBGE em São Caetano, José Antonio Fontes, outro fator importante é o aumento da longevidade da população.

Esse é o caso da aposentada Neusa Dantas de Araújo, 81 anos, viúva há 28 e cujo único filho mora no Rio Grande do Norte. A senhora de cabelos brancos não se incomoda com a vida só e aproveita a boa renda mensal para viver bem.

"Não gosto de cozinhar, almoço todo dia fora e quando a tristeza aparece saio para andar. Assim passa rapidinho", brinca Neusa.

Uma característica dessa parte da população é o consumo excessivo de serviços específicos, como compra de supermercado pela internet, refeições fast food e contratação de diaristas, entre outros.

A supervisora de atendimento Andrea Piccolotto, 40 anos, vive em Santo André, sem companhia de outras pessoas, há cerca de cinco anos. O apartamento ainda não foi mobiliado por completo. Ela passa a maior parte do dia fora de casa. "Do trabalho vou para a academia e volto tarde da noite. Venho aqui mais para dormir", comenta. "A vida me levou a morar sozinha, acabei ficando para trás." Ela terminou um relacionamento de cinco anos, depois o pai casou novamente e os irmãos também saíram da antiga casa.

O ator Augusto Batoco, 37 anos, mora sozinho há seis meses. A sua casa no bairro Santa Terezinha, em Santo André, é simples e ele não sente solidão ou tristeza por não dividir o espaço com ninguém. "É um exercício de autoconhecimento diário. Quando alguma coisa parecida com solidão aparece, vou dar uma volta na rua", comenta.

Segundo Marcelo Carvalho, coordenador do curso de pós-graduação em Filosofia na Unifesp, casar não é mais papel social imposto às pessoas, e o controle de natalidade também é fator decisivo nesta população. "As mulheres conseguiram a independência financeira e muitas optam por casar mais tarde", explica.


Individualismo também tem seu preço
A liberdade de fazer o que quer e não dar satisfação a ninguém tem um preço, tanto financeiro quanto psicológico. E não é barato encarar todas as contas no fim do mês sem dividir e também não ter um ombro amigo depois de um dia tenso de trabalho.

Para o engenheiro José Maria Graner, 41 anos, esses não são os empecilhos para não ter outra pessoa fixa nos 50 metros quadrados do seu apartamento, no Centro de Santo André.

Ele é o verdadeiro individualista convicto. Mora sozinho há dez anos, não pretende ter filhos e atualmente apenas pensa em morar junto com a companheira, mas isso pode ocorrer só no fim do próximo ano, quando outro apartamento maior ficará pronto.

"No passado já avisava as namoradas que não rolaria morar comigo. Algumas pularam fora e outras entendiam", comenta. Graner também é triatleta, tem dias que sai de casa por volta das 4h e só volta no fim da noite. "Esse lugar é apenas para dormir e guardar os meus equipamentos. Adoro essa condição de ficar tranquilo em casa. Solidão ou tristeza nunca aconteceu comigo, ainda bem", diz.
Outros jovens ouvidos pela equipe do Diário também afirmam que a solidão é bem presente, e uma forma de amenizá-la é por meio dos meios de comunicação.

"Quando chego em casa, tem dias que sinto falta de conversar com alguém. Nesses momentos fico na internet ou pendurada no celular; e nos dias mais terríveis vou dormir", diz uma jovem de 30 anos que pediu para não ser identificada.

Para o professor e pesquisador Oswaldo de Oliveira Santos Júnior, do núcleo de educação e direitos humanos da Universidade Metodista, viver sozinho está mais vinculado às pessoas com rendimentos mais elevados. "Morar nas grandes metrópoles custa caro, e no Grande ABC não seria diferente. Por isso é mais comum encontrar pessoas das classes A, B e C, além de idosos", avalia. WN


Idosos são maioria entre os ‘solitários'

A maioria das pessoas que vive sozinhas no Grande ABC tem mais de 50 anos. Essa faixa etária representa 60,9% dos "solitários" na região.

A aposentada Sonia Monforte, 67 anos, ficou viúva há sete anos e ainda precisa se adaptar à nova rotina. A primeira troca providenciada foi a mudança de uma casa grande para um apartamento mais aconchegante, em Santo André.

Sonia diz, de bate-pronto, que "infelizmente" vive sozinha. Ainda não superou a perda do marido, com quem passou 37 anos. O casal teve uma filha.
"Tive depressão, e é uma coisa complicada. Sei que passou, mas tem horas que a tristeza chega. A saudade ainda é grande", conta. A aposentada não vive absolutamente sozinha, pois a filha lhe deu de presente uma cachorrinha que passou a ser sua companhia nos últimos quatro anos.

Na semana passada, a tranquilidade do apartamento foi deixada de lado. Não pelos latidos da pequena Lana, mas sim dos choros e sorrisos da pequena Beatriz, de três meses. Ela é a neta mais nova de Sonia e passará os dias da semana sob os cuidados da avó enquanto a mãe trabalha.

"Essa menina é uma alegria. Nem parece que é tão novinha", comenta.

Normalmente, a rotina de Sonia é tranquila, em dias tristes a senhora calma vai ao supermercado para fazer compras ou caminhar com a cachorrinha pelas ruas do bairro com a única proposta de se distrair.

"A solidão é uma forma de pensar a vida, mas sei aproveitar a parte boa com as minhas amigas e também cozinhar, que mais adoro fazer. Os sábados ainda são os dias mais difíceis de se passar, ainda bem que depois chega o domingo e todo mundo vem almoçar aqui em casa", explica.

FAIXA ETÁRIA
Segundo os resultados do Censo 2010 do IBGE, a população com até 19 anos representa 0,8% dos que moram sozinhos, enquanto na faixa entre 20 e 29 anos sobe para 10,2%, de 30 a 39 anos fica em 12,6% e entre o público de 40 a 49 - segunda maior - sobe para 15,6%.WN

 




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