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Afrescos de Pennacchi em Ribeirão estão abandonados
Everaldo Fioravante
Do Diário do Grande ABC
12/04/2005 | 11:14
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“Um crime”. É assim que o padre Pedro Cerantola, da Igreja de São José, em Ribeirão Pires, define o fato de haver buracos de prego, objetos como conduítes e sistema de iluminação improvisado sobre o afresco de Fulvio Pennacchi (1905-1992) intitulado Maria, José e o Menino no Presépio e Fuga Para o Egito, de 1954, realizado na parede que envolve o altar da igreja. Embora as interferências tenham prejudicado a integridade e a visualização da obra, o pároco não cogita uma restauração. Pennacchi foi um dos maiores muralistas e pintores de afrescos do Brasil.

“O que precisa é tirar o material sobreposto à obra e preparar uma iluminação melhor para ela”, afirma Cerantola, há cerca de dois anos responsável pela paróquia. Ele não acredita que ao longo do meio século de existência a cor do trabalho tenha sofrido desgaste considerável: “Acho que uma limpeza feita por um especialista já seria suficiente para reavivar o afresco”.

A respeito das perfurações sobre a composição, o padre prefere deixar como está: “Para mexer na obra, não adianta agir sem fundamento, sem conhecimento. Isso a prejudicaria ainda mais”.

Italiano como o autor do afresco, o pároco demonstra ter sensibilidade em relação à arte: “É preciso preservar, é patrimônio”.

Cerantola afirma que está em estudo um amplo projeto de reforma e ampliação da igreja, parte dele a construção de um anexo que abrigaria a secretaria paroquial, obra que deve se iniciar ainda este semestre.

Por meio do projeto, do qual o término previsto desejado é 2011, ano de centenário da paróquia, a igreja ganharia novos vitrais e o afresco poderia ser também recuperado. As verbas para a concretização da idéia viria dos próprios fiéis. “Não temos dinheiro, mas o povo ajuda”, diz o padre.

Sobre o afresco, o pároco é enfático: “O melhor por enquanto é não mexer. Não adianta qualquer um colocar a mão na pintura, de qualquer jeito, pois acabaria a descaracterizando. Para recuperar o trabalho, tem de ser alguém capacitado, um bom artista ou um bom restaurador”.

Em julho de 2001, o então pároco da Igreja São José, Reinaldo Scrocaro, previa para 2002 uma restauração do afresco, idéia que não vingou. A obra nunca foi restaurada.

Mesmo com as intervenções realizadas de maneira inconseqüente, o afresco não está destruído. Está até que bem conservado e não parece que sua integridade corra riscos, principalmente sob os cuidados do padre Cerantola.

Um bom sinal é de que não há na igreja problemas de infiltração de água, o que é muito prejudicial a trabalhos do gênero.

Pennacchi dedicou-se à técnica do afresco de 1923, ainda na Itália, até 1959. Ele veio para o Brasil em 1929, fugindo do regime fascista. Por aqui, integrou o conhecido Grupo Santa Helena, que reunia outros grandes nomes da arte brasileira como Francisco Rebolo e Alfredo Volpi.

O artista criou outra obra no Grande ABC, trabalho infelizmente destruído. Intitulado O Balão, de 1951, foi coberto com tinta branca. Ficava em Mauá, na residência de um industrial.

Centenário – Este ano celebra-se o centenário de nascimento de Fulvio Pennacchi, italiano de bastante destaque no cenário das artes no Brasil no século XX.

Para preservação e divulgação do trabalho de Pennacchi foi criada recentemente uma comissão para identificar, catalogar e comprovar autenticidade de obras. O grupo é formado por parentes do artista plástico. Uma série de eventos para marcar a data está prevista no decorrer do ano.




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