Honestidade rima com talento e bom gosto nas apresentações das Chicas, banda carioca que lança o primeiro DVD "Em Tempo de Crise Nasceu a Canção" (Biscoito Fino, R$ 32, em média). Gravado no Teatro Rival, no Rio de Janeiro, o vídeo é o registro da maturidade do grupo, formado pelas cantoras, instrumentistas e arranjadoras Isadora Medella, Paula Leal, Fernanda Gonzaga e Amora Pêra.

As duas últimas são filhas do cantor e compositor Gonzaguinha (morto em acidente de carro em 1991), homenageado nas belas interpretações de pepitas como "Geraldinos" e "Arquibaldos" e "Moleque".

O caráter heterogêneo do repertório - em que se misturam samba, pop, baião e hip hop - é um dos trunfos do show. Na abertura, o quarteto revisita "Divino Maravilhoso", estandarte tropicalista escrito por Caetano Veloso e Gilberto Gil.

As intérpretes conseguem imprimir personalidade artística em todos os arranjos que elaboram, seja recordando a obra dos compositores baianos ou produzindo uma versão de Rap do Silva. "A escolha das músicas se dá muito em função do discurso e do momento que a gente está vivendo. Cantamos Divino porque todas somos muito fãs do Caetano e apresentamos no programa Som Brasil, da Globo, dedicado a ele", conta Isadora.

Os atrativos cênicos do espetáculo, com direção assinada por Pedro Von Krüger, são fundamentais na performance das Chicas, que lançaram o primeiro CD "Quem Vai Comprar Nosso Barulho", há cerca de três anos. Elas declamam versos do poeta Cacaso, de Pedro Rocha e do uruguaio Eduardo Galeano.

"Nós temos formação teatral, em que a poesia está muito presente e o texto é muito importante", frisa Isadora.

NOVELA E SUCESSO - O DVD traz imagens da banda no estúdio gravando Caras & Bocas, tema de abertura da novela global das 19h. Apesar da natural visibilidade proporcionada pelo folhetim, as Chicas não dão sinais de deslumbramento e fazem questão de manter a coerência.

Entre as boas composições do quarteto estão a irônica "Você" e a balada "Ter que Esperar". "No sentido musical, não nos preocupamos com o que os outros vão pensar. Fazemos arranjos para a gente, não para o público. Não há nenhuma preocupação comercial", explica a cantora.