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Fim das guloseimas?

Projeto de lei pretende acabar com os alimentos
que não são saudáveis nas cantinas das escolas

Juliana Ravelli
Do Diário do Grande ABC
15/09/2013 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


As guloseimas podem estar com os dias contados nas cantinas das escolas. Recentemente, o Senado aprovou projeto de lei que proíbe a venda de alimentos não saudáveis (com muita gordura, sal e açúcar) em colégios públicos e particulares. O objetivo é diminuir a obesidade infantil no Brasil. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) a cada 100 crianças, cerca de 33 estão acima do peso e 14 obesas. O projeto de lei ainda precisa passar por votação na Câmara dos Deputados e ser sancionado (aceito) pela presidente Dilma Rousseff (PT).

No entanto, especialistas defendem que só a proibição não acabará com o problema, pois pode-se trazer guloseimas de casa ou comprá-las no comércio próximo à escola. O mais importante, na verdade, é ensinar todo mundo (alunos, família, professores) a comer direito, além de incentivar a prática de atividades físicas.

Luiz Henrique da Silva Oliveira, 10 anos, está acostumado a comer frutas no recreio. “Comecei a gostar de carambola aqui.” Há cerca de dois anos a cantina do Colégio Stocco, em Santo André, mudou o cardápio e passou a oferecer alimentos saudáveis; nada de salgadinhos, frituras, refrigerante e balas.

No início, teve quem não gostou da transformação e parou de comprar no lugar. Levou tempo, mas hoje grande parte dos alunos curte os sucos naturais, bolos caseiros, iogurtes, cereais e frutas oferecidos.

Em casa, Luiz Henrique também tem o hábito de se alimentar corretamente. “Amo suco de abacaxi com hortelã. Refrigerante só às vezes, no fim de semana.” No lar de Giovanna Santos Costa, 10, acontece o mesmo. “Quase nunca fazem fritura. Tem muita salada, fruta e cereais. Meu pai vai todo domingo na feira comprar verduras.”

Apenas ingerir alimentos saudáveis não garante o fim da obesidade infantil. “Não adianta ficar na frente da TV e do computador. Tem de brincar e se exercitar”, diz Lucas Garcia Laia Franco, 9.

Também não precisa parar totalmente de consumir guloseima. “Tem gente que come chocolate todos os dias. Mas se for só uma vez por semana não engorda”, afirma Matheus Iellini Calaça, 10. Brigadeiro, pizza, coxinha, refrigerante e outros alimentos podem ser ingeridos, porém, na quantidade e momentos certos.


Adultos precisam ajudar

A gente aprende a comer com os exemplos que temos, principalmente em casa. Por isso, os adultos são responsáveis pelos hábitos alimentares das crianças. Não adianta os mais velhos não consumirem verduras, legumes, cereais e frutas, mas obrigar os mais novos a ingeri-los.

“Tem pai que dá salgadinho e refrigerante todos os dias para os filhos. Se acostumar desde pequeno a comer besteira vai querer sempre aquilo”, afirma Lyvia dos Passos Mazziero, 11 anos.

Que tal propor uma experiência para sua família? Você pode sugerir que, em vez de passearem sempre no shopping e comer fast-food, todos vão ao parque da cidade para brincar e se exercitar juntos.


Publicidade incentiva o consumo

Victória Vaz de Andrade, 10 anos, acha que comercial de fast-food dá vontade de experimentar a guloseima exibida. “Quando vê na TV, tem gente que implora para os pais comprarem. Daí, come, gosta e vai querer sempre”, diz a menina.

A publicidade é mesmo feita para convencer as pessoas de que determinado produto é bom e, assim, aumentar a venda dele. Por isso, especialistas defendem que não deva ser dirigida ao público infantil, somente para os adultos.

É que na infância nem sempre percebemos o que é ou não publicidade, principalmente quando ela está relacionada aos personagens que gostamos. Desse modo, corremos o risco de acreditar em informações falsas, como a de que fast-food não faz mal à saúde e que precisamos de tal produto para sermos realmente felizes.

Por isso, os adultos devem estar atentos ao que o público infantil assiste. Em várias partes do mundo há regras sobre a publicidade voltada para crianças. Na Província de Quebec, no Canadá, e na Noruega, por exemplo, é proibida. Já na Itália não pode aparecer nos desenhos animados.


Doenças estão ficando comuns na infância

Os alunos do Colégio Caminhar, em Santo André, perceberam que a maioria dos colegas comia mal no recreio. “A gente via muito salgadinho, refrigerante e alimento industrializado”, conta Paulo Mitsuo Sakaguchi, 11 anos. Por isso, sugeriram para a professora transformar as doenças causadas pela má alimentação em tema da feira cultural da escola no ano passado.

Pesquisaram muito o assunto e ficaram impressionados com as descobertas. “Esses alimentos estão fazendo com que as crianças tenham problemas que aparecem nos adultos, como hipertensão (pressão alta), obesidade, colesterol alto e diabetes. Isso vai impedir que desfrutem de muitas coisas”, diz Lyvia dos Passos Mazziero, 11 anos.

Após o trabalho do colégio, Victória Vaz de Andrade, 10, ficou com vontade de mudar os hábitos. Diminuiu o consumo de guloseimas e também incentivou a irmã a ingerir alimentos saudáveis. “Ela não comia salada e fruta. Ensinei e percebeu que é gostoso”, diz a menina.

Nos Estados Unidos, a obesidade infantil é problema grave. Cientistas afirmam que, se nada for feito, as novas gerações poderão viver menos do que seus pais. Desde 2010, a primeira-dama, Michelle Obama, está à frente da campanha Let’s Move! (Vamos nos Mexer!, www.letsmove.gov). O projeto incentiva a combinação entre alimentação saudável e exercícios físicos.


Ficção pode virar realidade?

Na animação Wall-E (2008), os humanos abandonaram a Terra cheia de lixo – produzido pelo consumo excessivo – para viver numa imensa nave espacial. Todos são obesos e não fazem nada (nem andar) sem o auxílio de máquinas. Também passam a maior parte do tempo comendo guloseimas na frente da TV, pela qual se comunicam com outras pessoas. Há publicidade de alimentos não saudáveis por toda parte. Mas ninguém percebe que algo muito estranho esteja acontecendo. Na opinião de Vinicius Milanelo Massocato, 11 anos, se não mudarmos os hábitos o mesmo pode acontecer no mundo real. “A gente come muita coisa ruim e aumenta a quantidade de resíduos sólidos. Quando faz lanche em casa, produz menos lixo.”

Consultoria de Tarsia Tormena, nutricionista e mestre em Educação e Saúde pela Infância e Adolescência pela Unifesp; Fábio Ancona Lopez, pediatra, nutrólogo e professor da Unifesp; Ekaterine Karageorgiadis, advogada do Instituto Alana e integrante do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional; Débora Moura de Almeida, professora do Colégio Caminhar; Georgia Magri Gomes, nutricionista representante da regional ABC da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo; Daniella Azevedo Agatte, nutricionista responsável pela cantina do Colégio Stocco; e Inácio Borges Morais, proprietário da cantina.
 




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