Setecidades Titulo Saúde Mental
Protesto pede fim
do Hospital Lacan

Manifestantes querem política de humanização no atendimento de transtornos

Por Camila Galvez
Do Diário do Grande ABC
15/05/2013 | 07:00
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Orlando Filho/DGABC


Com faixas, cartazes e até bateria, familiares e pacientes da rede de Saúde mental do Grande ABC fizeram ontem protesto em frente ao Hospital Lacan, em São Bernardo, considerado o último manicômio ativo da região. À frente dos manifestantes, o Fórum Popular de Saúde mental do ABCDMRR pede o fechamento da unidade, conforme previsto pela lei federal 10216, de 2001. O ato integra a Semana de Luta Antimanicomial.

Entre os manifestantes estava o auxiliar administrativo Albano Felipe, 51 anos, que ficou internado no Lacan por dois anos após perder pai, mãe e irmão gêmeo. "Tive quadro de esquizofrenia por conta da depressão e fiquei agressivo. No entanto, não acredito na internação como alternativa. A medicalização não é o caminho, e o paciente não é criminoso para ficar preso entre quatro paredes. Temos de garantir nosso direito de ir e vir."

A história de Júlio Bonifácio Correia, 61, é ainda mais triste. Por 16 anos transtornos mentais o encerraram detrás dos muros do Lacan. "Só tomava remédio, era ruim. Hoje estou melhor", diz ele, que vive em uma das cinco residências terapêuticas de São Bernardo e aprendeu a fazer pastéis em oficina de geração de renda.

A humanização no tratamento dos transtornos psiquiátricos e do abuso de álcool e drogas é defendida por Marcelo Melinski, 40, que hoje faz tratamento no Caps AD (Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas), mas perdeu a conta de quantas vezes foi internado no Lacan. "Era um horror. Não tinha respeito dos funcionários, e cheguei a tomar 43 medicamentos diferentes todos os dias, estava sempre dopado", relembra ele, que há nove anos atua no jornal Vozes, que divulga notícias relacionadas à Saúde mental em todo o País. Comprimidos diários hoje são ‘apenas' cinco.

Para Rodrigo Severo, 41, que por três vezes foi internado no Lacan, o despreparo dos funcionários para lidar com os pacientes é preocupante. "A família também acaba largando porque não sabe o que fazer com a pessoa, não recebe orientação adequada do serviço de Saúde."

O sonho de João Nicador, 57, que dá oficinas no Caps da cidade, é mudar a cara do Lacan. "Quero que isso aqui vire centro cultural de arte mental. Porque a arte transforma."

OUTRO LADO

Responsável por 146 leitos na unidade filantrópica para atendimento de pacientes em tratamento de dependência química, a Secretaria de Estado da Saúde garante que, como previsto na reforma psiquiátrica brasileira, a internação é alternativa ao tratamento ambulatorial solicitada somente para casos mais graves e severos, quando há risco ao paciente ou à sociedade.

A Pasta destaca ainda que o plano terapêutico do Lacan consiste em internação para desintoxicação e controle de abstinência por meio de medicamentos e equipe de multiprofissionais. O prazo de internação varia de caso a caso, no entanto, a secretaria diz ser responsabilidade do hospital, que pertence ao Grupo Bandeirantes, informar detalhes sobre o tipo de tratamento oferecido, duração máxima e se há processos de humanização.

Procurado, o hospital se recusou a fornecer informações, alegando que a responsabilidade é do Estado.




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