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Trem com dança e música clássica
Por Daniel Gutierrez
Especial para o Diário
02/06/2006 | 08:19
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Música clássica de Tchai-kovsky e coreografia da Escola Livre de Dança de Santo André. Foi assim que parte dos 32 mil passageiros que passam todos os dias pelas plataformas da estação de trem da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), de Santo André, foram recebidos quinta-feira. A apresentação faz parte do projeto Olhe pela Janela, iniciado em 2005, pelo Centro de Dança de Santo André. O tema é Por que eu aceito a violência? O objetivo da intervenção, segundo uma das diretoras do Centro de Dança da cidade, Renata Moré, é "mudar a rotina das pessoas que passam pelos pontos de grande movimento na região" para que o espaço frio e cinza, fique mais alegre e humano.

O projeto já havia sido realizado no Paço Municipal de Santo André, em dezembro do ano passado, com o objetivo de fazer as pessoas olharem pela janela dos escritórios e passarem a enxergar um mundo diferente, menos violento por meio das próprias atitudes no dia-a-dia. Mas os ataques contra policiais ocorridos no Estado de São Paulo comandados por facções criminosas serviram para dar um novo sentido às intervenções das bailarinas. Enquanto fazem a performance, elas interagem com a população perguntando o porquê de elas aceitarem a violência. Os passageiros que aguardam o trem na plataforma reagem de diversas formas à apresentação. "Algumas pessoas nem olham, outras acham que isso não é dança, outras culpam o governo pela violência", conta a bailarina Camila Pires. "Mas a maioria das reações é positiva", pondera Larissa Neri, outra integrante do grupo.

Um dos seguranças da estação, Ivan Madeiro Lima, considera que projetos culturais como este "podem ajudar a conter a violência". Lima disse ainda que ele próprio se sente mais seguro com esse tipo de iniciativa na estação. Em uma das apresentações de quinta-feira, um passageiro interferiu na coreografia. "Ele tentou apartar pensando que era uma briga de verdade", diverte-se Larissa Neri. A interação das pessoas é um dos objetivos do grupo e a reação positiva dos usuários pode ajudar a "despertá-los para um olhar diferente nas relações com os espaços públicos", explica a assessora de comunicação e marketing da CPTM, Maria Salete Zandona.

Para o aposentado Severiano de Lima, usuário dos trens da CPTM, a música e a dança na estação ajudam a distrair o povo e intimida atos violentos. Já a aposentada Ivanir Cassiolato, disse que tudo que é para combater a violência é válido. Ela conta que tem muito medo de andar nas ruas próximas a estação. "Quando eu cheguei aqui, nos anos 70, era muito diferente. Nem à noite eu tinha medo de andar na rua". A estagiária Priscila Laurentino, de 23 anos, considera que ainda há uma esperança. "É bom saber que tem alguém fazendo alguma coisa", disse se referindo à iniciativa da Escola Livre de Dança. Perguntada sobre o que achava da apresentação, a estudante Geiseany Almeida, 13 anos, disse que algumas pessoas "acordam para o problema" com as intervenções na estação.

A CPTM está aberta à participação popular. Pessoas que queiram apresentar algum trabalho artístico nas estações, devem entrar em contato pelo telefone 3293-4657 ou pelo site da companhia. (www.cptm.sp.gov.br)



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