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Aumento de até 40% do álcool faz cair procura pelo combustível
Por Hugo Cilo
Do Diário do Grande ABC
15/03/2006 | 07:48
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O susto que os produtores de cana-de-açúcar deram no consumidor ao reajustar em até 40% o valor do álcool hidratado começa a fazer o caminho inverso. Desiludidos com os altos preços nas bombas, clientes deixam o combustível vegetal em segundo plano e retornam à gasolina – que apesar de ter o litro mais caro, compensa se o valor não ultrapassar 30%. O contra-ataque dos clientes – aliado ao início da safra – deve pressionar os preços para baixo a partir do fim deste mês.

Essa resposta do consumidor – grande parte garantida por veículos bicombustíveis – fez com que a demanda pelo álcool nesse começo de mês ficasse entre 25% a 30% menor em comparação ao período anterior à onda de aumentos. E a rejeição deve continuar. A queda no consumo chegará a 40% até o começo de abril, prevê a Fecombustíveis (Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes).

Segundo cálculos do presidente da Unica (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo), Eduardo Pereira de Carvalho, a redução da mistura de álcool anidro à gasolina reduziu o consumo em cerca de 100 milhões de litros, além dos 150 milhões de litros que deixaram de ser vendidos em razão dos altos preços. Diante desse cenário, o consumo médio de álcool no país vai cair bem abaixo de 1 bilhão de litros. Antes, oscilava de 1,1 bilhão a 1,2 bilhão de litros por mês.

Preços – No entanto, a combinação de fatores que deverá reduzir os preços do álcool – tanto o anidro (puro, adicionado à gasolina) quanto o hidratado (vendido nas bombas) – dependerá da disposição dos produtores em vender mais ao mercado interno. “Os usineiros estão com a mentalidade de donos-de-engenho. Eles (os usineiros) ainda não perceberam que o álcool está incorporado à matriz energética do país e que exerce papel fundamental”, diz o presidente da Fecombustíveis, Giu Siuffo.

Para ele, a política de reajustes de preços precisará ter controle do governo. “É essencial controlar as exportações, já que os usineiros deverão ser forçados a cumprir o acordo de priorizar o abastecimento do mercado interno, que é de 15 bilhões de litros por ano, para só depois vender para fora”, completa Siuffo.

A esperada queda nos preços, no entanto, não reduzirá o valor do álcool aos índices anteriores, segundo avaliação do diretor técnico da Fecombustíveis, Aldo Guarda. “Já existe um excesso de álcool no mercado por conta da redução de 25% para 20% da mistura da gasolina e da queda no consumo. Porém, ainda estamos num período de tendência de alta. Ao contrário do que acontece em outros setores, há o risco de os usineiros aumentarem ainda mais os preços a fim de manter a rentabilidade”, analisa.

As projeções da Fecombustíveis têm o aval do Regran (Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo do Grande ABC). Porém, o assessor geral da entidade, Roberto Rodrigues, avalia que a queda no índice de fraudes – resultado da intensificação das fiscalizações – e intervenções do governo forçarão a queda nos preços nas usinas e distribuidoras.



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