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Para ir além do palco
Por Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
04/07/2010 | 07:00
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Andréa Iseki/DGABC


Onde está o espectador de teatro no Grande ABC? Formação de público é uma das questões mais pertinentes do teatro atual. Inúmeras questões são levantadas. Muitas respostas são dadas. O fato é que os teatro continuam vazios, cada vez mais.

No ABCena, projeto do Sesc Santo André de discussão do teatro regional - encerrado domingo - esse tema foi o que mais chamou atenção e gerou debate. O Diário, com série de reportagens sobre a arte dos palcos, propõe compartilhar alguns dos pontos de vista sobre esse problema, que não encontrará solução de um dia para o outro, mas que não pode mais fugir da pauta de debate.

Preço de ingresso, centralização das produções, falta de programação fixa que consolide o costume do ir ao teatro, outras opções do que fazer e a pouca aceitação do grande público ao que se distancia do entretenimento, tudo isso entra em discussão. A primeira e mais importante de todas questões é a falta de políticas de educação para cultura. Não a educação do bê-á-bá.

"Educação em arte é vital para que o público adquira repertório através do qual possa estabelecer diálogo com a linguagem artística", afirma Thiago Freire, da equipe de programação do Sesc Santo André.

"De repente, parece que o teatro ficou uma coisa difícil de entender. As pessoas querem brincadeirinha, diversão igual a da televisão. Não querem refletir, que é a proposta original do teatro", diz o ator Antonio Petrin.

"A gente não pode esquecer que cada vez menos se lê, se escreve ou se sai de casa. Estamos na época de teclar", entende Juliana Monteiro, coordenadora pedagógica da ELT (Escola Livre de Teatro) de Santo André. Ela complementa dizendo que muita gente tem a visão equivocada a respeito da arte de interpretação: "Há visão simplista, que vem do cinema, da televisão, de que tudo é fama e diversão".

Preço do ingresso, na região, não é o problema. A última peça mais cara que esteve em cartaz foi a Loba de Ray-Ban, com Christiane Torloni, com ingressos a R$ 60, exibida no começo de junho e lotou o Teatro Municipal de Santo André. De lá para cá, entre as muitas opções oferecidas, algumas gratuitas, os ingressos não passaram de R$ 10.

"O teatro precisa procurar maneiras de falar de forma mais concreta com o público, mas ele não pode se empobrecer nessa busca. É um risco quando você se pauta apenas ao que é palatável, ao gosto do público. Você corre o risco de empobrecer e engessar", completa Freire.

"Onde está o público? Está ali, em todos os lugares, nós é que precisamos aprender a nos comunicar com ele, tocar a sua alma", observa Petrin.

Grupo busca espectador na rua

Em outra esfera da conversa, a Cia Grite de Teatro, sediada na USCS (Universidade Municipal de São Caetano), busca chamar a atenção do público de outra forma, indo onde ele está. Exemplo disso é Mauá-Pirituba - O Expresso das Contradições, peça encenada em lugares públicos próximos a linha de trem, partindo da recriação de personagens do universo da linha férrea.

"Para buscar o público, primeiramente, o artista tem de visualizar a sensação de não ser valorizado. As pessoas também passam por isso, querem ser mostradas, ter o seu universo discutido", afirma Kleber di Lázzare, diretor artístico da companhia.

O poder público, junto com o artista, não se exime da tarefa de alancar a relação entre o público e o teatro. "A maioria dos espaços que temos na região estão nas mãos das prefeituras, que julgam a programação de ocupação, em maior parte dos casos, sem critério, pensando apenas em espetáculo com gente famosa para ter visibilidade", diz.

"A multiplicidade é imprescindível. Tem de haver desde o stand-up ao teatro de pesquisa, que reflete e auxilia o ser humano na compreensão de seu caminho", entende.

Os editais de ocupação dos teatros - recente ferramenta das prefeituras de São Caetano e São Bernardo -, para Lázzare, são ação positiva, mas insuficiente. "Você abre as portas para companhias que não têm subvenção nem patrocínio.

O problema é o paternalismo. O poder público tem que sentir o que a sociedade precisa em todos os segmentos e abarcar na máquina as possibilidades de trabalho. É complicado você não ter em uma região como esta uma lei de isenção que permita ao artista fazer o seu trabalho".

A Grite, que tem 16 anos, corre atrás de diversas maneiras. "Fomos aprovados na Lei Rouanet com projeto de montagem de Senhora dos Afogados, de Nelson Rodrigues, e Ópera do Malandro, de Chico Buarque, onde estudamos o painel do teatro brasileiro", adianta.




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