Setecidades Titulo
'Meus dois filhos se entregaram às drogas'
Do Diário do Grande ABC
08/02/2011 | 07:21
Compartilhar notícia


A experiência de ter dois filhos envolvidos com drogas fez com que a advogada Lauret Pimentel se tornasse a presidente da clínica terapêutica SantaFé. Localizada em Bragança Paulista, no interior do Estado, atende casos de dependência química e tem como meta diminuir o uso de medicamentos. A proposta, segundo Lauret, é garantir a mudança interior do paciente, a fim de reduzir o número de recaídas. "Eles precisam voltar a planejar o futuro e sonhar", destacou. Leia abaixo a entrevista concedida ao Diário.

DIÁRIO: Como você chegou à presidência da clínica SantaFé?

LAURET PIMENTEL: Meus dois filhos se envolveram com drogas após os 30 anos. Fui cliente das clínicas para dependentes químicos durante muito tempo, observando os erros e acertos a cada recaída. Assim, criei meu próprio método de desintoxicação. Hoje atendo 79 pessoas, que pagam R$ 30 mil por seis meses de tratamento. Cerca de 20% das vagas, porém, são para famílias de baixa renda. Para elas, o período é totalmente de graça.

DIÁRIO: Qual o método utilizado pela clínica para combater a dependência?

LAURET PIMENTEL: Na SantaFé trabalhamos com terapia multidisciplinar. O dependente é acompanhado diariamente por psicólogos e também faz atividades como artes cênicas, informática, esportes, entre outros. Também há enfermaria e médicos disponíveis 24 horas. Nossa intenção é promover a recuperação da psique da pessoa, pois a droga não é apenas uma doença, mas também um desvio de comportamento.

DIÁRIO: Há um tempo pré-determinado para o tratamento começar a fazer efeito?

LAURET PIMENTEL: O dependente químico precisa de pelo menos 60 dias para que a droga deixe de circular pela corrente sanguínea. Mas a desintoxicação não é só isso, porque há dependência física e psicológica. São três os estágios: a abstinência, que é a fatal da droga; a frustração, que é o momento em que o dependente coloca os bichos para fora; e a reconstrução da pessoa.

DIÁRIO: As drogas atingem apenas os mais jovens?

LAURET PIMENTEL: Pelas observações que tenho feito na clínica, esse perfil vem mudando. Muitos homens feitos, profissionais com certa estabilidade, estão se envolvendo com drogas por brincadeira ou em momentos de desespero, e acabam perdendo tudo o que têm. Tenho vários pacientes da clínica nesta situação.

DIÁRIO: Qual o papel da família no combate às drogas?

LAURET PIMENTEL: Muitas vezes os pais custam a assumir que o filho é dependente. É preciso mudar essa cultura da sociedade de ter vergonha do viciado. O dependente só se cura quando joga o lixo que tem dentro dele para fora, e a família é quem precisa ajudá-lo a abrir a tampa da lixeira. A sociedade também tem seu papel. Tenho parcerias com empresas da região para disponibilizar vagas para ex-dependentes que concluíram o tratamento. Mas o preconceito, infelizmente, ainda existe e precisa ser combatido.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;