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Matheus Nachtergaele celebra Mazzaropi em 'Tapete Vermelho'
Por Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
13/04/2006 | 11:19
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A estrutura deriva da mais velha e conhecida narrativa do Ocidente, e o gênero já não é um dos prediletos do cinema nacional. Com Tapete Vermelho, o cineasta Luís Alberto Pereira rima Homero com comédia caipira, Odisséia com Mazzaropi, Ulisses com roça. Foneticamente, rimas impossíveis; audiovisualmente, combinações curiosas, embora não exatamente felizes. E por obra do feriado, o filme estréia nesta quinta no circuito paulistano e somente sexta-feira em Santo André (na sala 3 do ABC Plaza).

Luís Alberto Pereira (na intimidade simplesmente Gal) é diretor imprevisível, ao menos no que concerne à temática de seus filmes. Guardadas algumas proporções, pode-se até considerá-lo pioneiro em algumas abordagens. Por exemplo, Jânio a 24 Quadros (1981), seu filme de estréia. Obra irreverente (no sentido mais primário do termo) que documentava parte da vida política do ex-presidente que sucumbiu às tais “forças ocultas” e pode ser encarada como um preâmbulo para as anomalias documentais de um Michael Moore. Ou mesmo Efeito Ilha (1994), filme que vandalizava os reality shows (e de forma tão aguda) antes mesmo de eles existirem e se consolidarem na TV.

Filmes em que era sensível uma certa libertinagem dramatúrgica, a qual Gal carrega para Tapete Vermelho. Falta a naturalidade de outros tempos e outros temas.

Uma das particularidades (e talvez uma das agravantes) de Tapete Vermelho é clara: fazer de Quinzinho (Matheus Nachtergaele) um extrato de Mazzaropi, senão uma réplica. Postura curvada, cotovelos em guarda, feição amarrotada a cada frase terminada, o sotaque que apela aos erres. Nachtergaele executa o esforço dramático que convém ao filme, de um fã obcecado de Amácio Mazzaropi que promete ao filho uma ida ao cinema para assistir a umfilme do ídolo. Deixa o rincão rural que habita, com mulher, filho e burro como escudeiros da viagem, para encontrar uma sala que exiba um Jeca Tatu ou um O Corintiano que seja.

Tem início a Odisséia do jeca- século XXI: primeiro encontrar um cinema de rua que não tenha virado loja de departamentos ou igreja evangélica; uma vez achada a sala, persuadi-la a exibir um filme que já não está na bossa há pelo menos 26 anos – Jeca e a Égua Milagrosa, última obra de Mazza, é de 1980.

Na busca pela película perdida, Quinzinho topa com um golpista, com uma cobra “mamífera”, com um acampamento de trabalhadores sem-terra, com um caminhoneiro e um punhado de outras figuras. Tapete Vermelho deixa nu o propósito de, decorado pela preservação do patrimônio cômico- heróico (Mazzaropi), comentar a trama social brasileira, sobretudo no episódio que envolve os sem-terra.

Gal faz um filme-noticiárioenciclopédico. Ao mesmo tempo que lamenta o extravio da ingenuidade com a figura de Quinzinho, pretende orquestrar uma crônica sobre o Brasil que vive à beira das estradas e da propriedade. Sem uma abordagem mais íntima, limita-se a umretrato de rodapé. Faz um cinema de detecção, que não consegue mais do que reproduzir uma idéia geral e generalizada.

Permanece o registro das tristezas do jeca e do cinéfilo, este por um cinema hoje inviabilizado, seja na tela ou na rua. Mas a libertinagem, no fogo cruzado entre nostalgia e denúncia, já não tem aquele vigor de roceiro.

TAPETE VERMELHO (Brasil, 2006). Dir.: Luís Alberto Pereira. Com Matheus Nachtergaele, Gorette Milagres, Ailton Graça, Paulo Betti, Cássia Kiss, Paulo Goulart, Cacá Rosset. Nesta quinta no HSBC Belas Artes 4 e Unibanco Arteplex 4; estréia sexta no ABC Plaza 3. Duração: 100 min. Censura: 10 anos.




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