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Livro traz primórdios da loira burra
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
21/01/2001 | 18:52
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A TV brasileira criou a tecnologia das louras chinfrins, sempre sorridentes, a desfilar suas madeixas e manequins na apresentação de programas infantis. Na mesma TV tupiniquim, desfilam louras em grupos de axé, ou ao lado de cantores de pagode. Mas a piada de loura burra não é privilégio nacional? Será verdade que os homens preferem as louras, mas se casam com as morenas? Quase oitenta anos atrás, estas respostas já haviam sido dadas pela escritora, morena, Anita Loos (1888-1981) em Os Homens Preferem as Louras (Record, 176 págs., R$ 18). Lançado pela primeira vez no Brasil, este livro determinou um gênero feminino com a personagem Lorelei Lee: a loura estonteante e gostosa, mas uma porta cerebral completa.

A partir deste livro, publicado primeiro em capítulos na revista Harperás Bazaar e depois editado em 1925 repleto de um humor irônico e sarcástico com as lourinhas, os cabelos amarelos em Hollywood viraram sinônimo de sex appeal. James Joyce, já mal da visão, se esforçava para ler Lorelei. George Santayanna disse que era o melhor livro de filosofia americana publicado.

A obra rendeu dois filmes, de títulos homônimos, sendo o primeiro, de 1928, mais fiel ao livro. Já o segundo, de 1953, baseado em musical da Broadway da própria Anita, deu o apelo sexual definitivo para a loura e tapadinha Lorelei com a performance de Marilyn Monroe cantando Diamonds are Girls Best Friendás. Na verdade, ela nasceu morena e se chamava Norma Jean.

O fato é que Lorelei, ingênua, bobinha, burrinha de dar dó, encanta os gentis cavalheiros que a cercam de galanteios para apreciar seus dotes mais pronunciados. Anita Loos teve a idéia do livro ao perceber que ela, jovem, bonita, corpo bem feito, mas morena, não recebia a mesma atenção que uma contrapartida loura, porém menos esperta. Foi assim quando ia para Hollywood junto com uma candidata a atriz, que recebia toda atenção dos cavalheiros quando deixava cair um romance no chão da estação de trem, enquanto ela se atrapalhava para carregar as bagagens.

Fato científico comprovado, começa a saga de Lorelei, que escreve em um diário a “pretenssão” de se tornar romancista. Ela comenta o assédio dos homens enquanto narra suas perambulantes viagens com a amiga morena Dorothy por Nova York e pela Europa. Algumas passagens são ótimas, como o ramo de móveis de um certo Luís na França, que os franceses, “devinos”, tem mania de numerar. Lorelei passa de mão em mão entre predadores de plantão até voltar aos Estados Unidos e se casar com um milionário, e passar a ajudar a amiga a conseguir marido na alta sociedade. Mas isso é uma outra história, que aliás, também virou livro, Mas os Homens se Casam com as Morenas (Record, 176 págs., R$ 18), continuação que também rendeu um filme homônimo em 1955, um caça-níquel atrás do sucesso do anterior.




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