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Paraty, uma lição de história
Gislaine Gutierre
Enviada a Paraty
08/12/2005 | 08:32
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Ela já foi a cidade do ouro, do café e da cachaça. Hoje, Paraty é destino imperdível para quem deseja conhecer um pouco mais da história do Brasil colonial. Seu Centro Histórico, com uma considerável quantidade de casas bem preservadas e calçamento de pedras, faz o visitante viajar pelo tempo. Mas não é só isso. Paraty está próxima de belas praias e, durante o ano todo, tem um atraente calendário de eventos, que inclui, por exemplo, a Flip (Festa Internacional Literária de Paraty), em sua terceira edição e já considerada um sucesso.

A transformação de Paraty em destino turístico é algo relativamente recente. Começou precariamente com a declaração, em 1945, da cidade como Monumento Histórico Estadual e, nos anos 50, com a criação da estrada Paraty-Cunha, interligada à via Dutra, que só era boa para tráfego nos períodos de estiagem. Apenas depois de inaugurada a rodovia BR-101, a Rio-Santos, em 1976, é que a cidade ganhou impulso definitivo para consolidar-se como pólo turístico.

A história de Paraty é fascinante e cheia de reviravoltas. Ninguém sabe ao certo o dia de sua fundação, mas acredita-se que tenha sido em 16 de agosto de 1531, dia de São Roque. O nome Paraty é derivado de Pirati, que em tupi significa “peixe branco”, uma espécie abundante nas redondezas e apreciada pelos índios Goianás, um dos primeiros habitantes do local.

O primeiro núcleo urbano de que se tem notícia ficava no Morro do Forte, onde há o Forte Defensor Perpétuo, construído em 1703. A mudança para a parte baixa se deu por conta da concessão, por parte de Maria Jacome de Mello, de parte de sua sesmaria, entre os rios Perequê-Açu e Patitiba, para a criação da futura Vila de Paraty. A seu pedido, foi construída em 1646 a primeira capela de Nossa Senhora dos Remédios.

Ouro – Cerca de 20 anos depois, a pacata vila, com suas casas cobertas de palha, teria sua paisagem alterada radicalmente. O ouro havia sido descoberto em Minas Gerais, e Paraty, por situar-se em local estratégico – do ponto de vista geográfico e da segurança –, passou a ser o principal ponto de escoamento de toda a riqueza para Portugal. No caminho inverso, exploradores e tropas com mantimentos tinham a cidade como porta de entrada.

Foi nessa fase de explosão demográfica e econômica que foram construídas as casas e boa parte dos edifícios hoje tidos como pontos turísticos. A mais antiga construção religiosa de Paraty é a Igreja de Santa Rita, construída em 1722 por negros libertos e finalizada com recursos da elite branca. Um pouco mais recente, a Igreja Nossa Senhora do Rosário foi erguida em 1757 com a força da mão-de-obra escrava e funcionava como templo católico dos negros da colônia.

A atual Igreja da Matriz, ou Nossa Senhora dos Remédios, só não é a mais antiga porque foi construída em 1873 (as obras começaram em 1787), no mesmo lugar onde existiram duas capelas – de 1646 e 1712 – demolidas por serem consideradas muito pequenas. A igreja, na sua forma atual, foi o ponto de convergência da segregacionista burguesia local, branca. Outra igreja freqüentada pela elite foi a de Nossa Senhora das Dores, de 1800, que fica próxima ao cais do porto.

É interessante, ainda, o conjunto de três Passos da Paixão, que restaram entre os sete existentes originalmente. Não se sabe exatamente quando foram construídos. Por fora, parecem apenas imensas portas ou janelas, mas dentro há oratórios, abertos somente na Sexta-feira Santa, durante a Procissão dos Passos do Senhor.

Outro detalhe curioso nas construções, que vale ser observado, é a presença de traços maçônicos nas fachadas. Algumas casas possuem, sobre cunhais de pedra, em colunas de massa que vão até o telhado, quadrados em branco e azul, cores da maçonaria. Nos pilares, figuram símbolos típicos, como compasso e esquadro, pentagrama, Cruz de Malta, Estrela de Davi e outros.

Esses maçons teriam vindo ao Brasil para fugir da Inquisição na Europa e os desenhos nas fachadas serviriam para identificar que ali residia um colega da organização. Um maçom não poderia ser empregado, daí acabaram se estabelecendo em profissões autônomas, como alfaiates, sapateiros e engenheiros.

Toda essa era de ouro – que inclusive gerou a criação da Casa de Registro do Ouro, para controlar o fluxo do metal – teria fim em meados do século XVIII, com a abertura do Caminho Novo, uma estrada ligando Minas ao porto do Rio. Então, Paraty volta a investir essencialmente na produção de cachaça, açúcar e gêneros alimentícios. Funciona assim até a primeira metade do século XIX, quando novamente experimenta a euforia econômica gerada pelo escoamento da produção cafeeira das fazendas do Vale do Paraíba.

Um novo golpe, que parecia definitivo para enterrar a cidade, ocorreu em 1870, com a construção da linha férrea ligando São Paulo ao Rio, pelo vale do Paraíba. O tráfico de escravos pelo antigo Caminho do Ouro também foi estancado com a abolição da escravatura, em 1888. Paraty ficou isolada. De 1810 a 1910, a população despenca de 12 mil para 2 mil habitantes.

Se por um lado isso representou tempos difíceis para os paratienses, por outro foi fator preponderante na preservação do conjunto arquitetônico que atualmente atrai tanta gente e garante a entrada de recursos vultosos na cidade. Hoje, é possível não só ver esse patrimônio histórico como senti-lo, tocá-lo. As casas que funcionam como bares, restaurantes, hotéis e lojas conservam traços originais que ajudam a dar uma dimensão do que foi a vida nessas construções.

Caminhar pelas ruas de Paraty é também uma experiência sui generis. As enormes pedras que formam o calçamento – por onde é proibido o tráfego de automóveis – obrigam o visitante a ter cuidado redobrado e andar cabisbaixo para não tropeçar. Tênis são indispensáveis no passeio. Dá para imaginar perfeitamente a dificuldade que era transportar tanto ouro, café e outras riquezas por aquelas ruas. Visitar Paraty é, sem dúvida, oportunidade única de unir descanso, lazer e boa gastronomia e ainda se tornar um pouco mais conhecedor de sua própria história e de seu país.

A jornalista viajou a convite da Pousada Porto Imperial e do Hotel Portobello Resort & Safari.

Como chegar
De carro:

Opção 1: De São Paulo até São José dos Campos pela Dutra (ou Ayrton Senna). Em São José, pegar a rodovia dos Tamoios para Caraguatatuba. Em Caraguatatuba, pegar a Rio-Santos para Paraty. Total: 290 km.

Opção 2: De São Paulo para Taubaté pela Dutra (ou Ayrton Senna). Em Taubaté, pegar a rodovia Osvaldo Cruz para Ubatuba. Em Ubatuba, pegar a Rio-Santos para Paraty. Total: 300 km

De ônibus:
Viação Reunidas (0xx24) 3371-1196.

De avião:
A Team Transporte Aéreo Público dispõe da vôos diretos até Paraty, em uma aeronave para até 19 passageiros. É o mesmo avião que transportou convidados para a Ilha de Caras, em Angra dos Reis. Um pouco barulhento, compensa mais pela comodidade de pousar em Paraty, depois de aproximadamente uma hora após a decolagem em São Paulo. Há vôos aos domingos, quartas e sextas (e às quintas, só para ida), todos com saída de Congonhas. Telefax.: (0xx21) 3328-1616.

Onde comer:
Che Bar – Rua Marechal Deodoro, 241. Tel.: (0xx24) 3371-8663.

Dinho’s Bar – Rua da Matriz, s/nº. Tel.: (0xx24) 3371-1790.

Paraty 33 – Rua Maria Jácome de Mello, 357, Paraty. Tel.: (0xx24) 3371-7311. www.paraty33.com.br

Ristorante Pizzaria Punto Divino – Rua Marechal Deodoro, 129. Tel.: (0xx24) 3371-1348. www.puntodivino.paraty.com

Villa Verde Restaurante Bar – Estrada Paraty-Cunha, Km 7, Paraty. Tel.: (0xx24) 3371-7808. www.villaverdeparaty.com.br

Onde ficar:
Pousada Porto Imperial – rua Tenente Francisco Antonio, s/nº, Paraty. Tel.: (0xx24) 3371-2323. Localizada em um casarão histórico bem ao lado da Igreja da Matriz, o hotel combina a sofisticação de serviços e decoração com a rusticidade do prédio secular. Nas épocas de cheia da maré – geralmente em agosto –, as ruas nos arredores ficam alagadas. www.pousadaportoimperial.com.br

Hotel Portobello Resort & Safari – Rodovia Rio-Santos, Km 438 (antigo Km 47), Mangaratiba. Toll free: 0800-701-0868. www.hotelportobello.com.br.




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