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Tom Zé vem para dinamitar
Thiago Mariano
Do Diário do Grande ABC
18/02/2010 | 07:00
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Tom Zé, um dos mais profícuos experimentalistas da canção popular brasileira, joga uma dinamite sobre a bossa-nova, sábado, às 21h, no Sesc Santo André, com a apresentação do espetáculo "Estudando a Bossa".

Precede ao show a exibição do documentário "Tom Zé ou Quem Irá Colocar Uma Dinamite na Cabeça do Século?" (2000), que integra o projeto "Toca o Filme", da Rede Sesc, A ideia é casar a música à apresentação do universo e da obra do artista por meio de material cinematográfico.

No show, o cantor explora, anarquicamente, os clichês melódicos, estéticos e temáticos da turma do ‘amor, do sorriso e da flor' sob o prisma bem-humorado de sua inventividade tropicalista. Brinca até com as mudanças que o País viveu através da harmonia sincopada e reverente ao feminino do ritmo, como quando diz que a bossa-nova inspirou a construção da Ponte Rio-Niterói.

"É uma tese que eu tenho desde os anos 1970, de que a engenharia brasileira se inspirou na bossa-nova para resolver o problema de ligar o Rio de Janeiro a Niterói. Usaram com ferro, concreto e aço o mesmo procedimento que a bossa-nova fez com o tempo musical, criando plataformas flutuantes, boiando ao sabor das ondas", filosofa Tom.

Em faixas como "Rio Arrepio" (Badá-Badi)," Barquinho Herói e Brazil", "Capital Buenos Aires", o cantor ironiza os reflexos da cultura bossa-novista na vida do brasileiro. Como quando entoa em "Outra Insensatez", Poe! os versos "No amor meu amor me deixou na porta da rua / Ô ai de mim / era noite era frio a cidade nua / ai, Dindi", em que rasga em ‘catapora', ‘sarampo' e ‘arame farpado', o ‘delicado amor' destratado por um ‘coração mais sem cuidado' da composição de Tom Jobim e Vinicius de Moraes.

"Lá nos Estados Unidos, um acontecimento musical grandioso permanece eternamente vivo. O Brasil sempre conservou a bossa-nova em seu estado de pureza. Eu, como sou filho ilegítimo da música, tudo que toco é para profanar. Quando um acontecimento musical sacode as estruturas da arte, sempre deve ser rebuscado e modificado, tendo seu desenvolvimento constante e eterno", diz.

O cantor, a partir da década de 1960, quando a bossa-nova entrou em declínio, foi um dos propositores das quebras às formalidades musicais no movimento tropicalista (ao lado, entre outros, de Caetano Veloso e Gilberto Gil), que redefiniu os parâmetros da MPB por meio da pluralidade, utilização de elementos diversos, do antigo e do novo, em uma salada que misturava o popular ao clássico na música.

Esquecido pela mídia e público durante um longo período, voltou aos holofotes através do cantor e compositor escocês David Byrne, responsável pela revalorização da obra de Tom Zé no Brasil e Exterior.

DOCUMENTADO - No documentário, a jovem diretora Carla Gallo realiza um retrato estético do cantor e compositor, que revela, em depoimento e performances, sua formação e musicalidade polivalente, tirando sons de objetos como maçaricos e furadeiras.

"Para o público, vai ser uma delícia. O filme permite um aprofundamento. Joga um anzol no cognitivo da plateia e o público vai para o show com um discernimento crítico melhor".

Tom Zé Sesc Santo André - Rua Tamarutaca, 302. Tel.: 4469-1200. Sábado, às 20h (exibição do documentário); e às 21h (show). Ingr.: R$ 5 a R$ 20.




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