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Casos de suicídio têm alta de 25% em dez anos no Grande ABC

Setembro é dedicado à prevenção do problema; especialista destaca necessidade de debater assunto

Aline Melo
09/09/2018 | 07:00
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O Grande ABC registrou aumento de 25% no número de casos de suicídio em dez anos – as ocorrências passaram de 85, em 2006, para 107, em 2016, conforme os dados mais recentes da Fundação Seade. Tendo em vista o período denominado Setembro Amarelo, quando o mês é dedicado a campanhas de combate ao problema, especialistas destacam a importância de se debater o tema como forma de prevenção.

O assunto é tabu na mídia, nas famílias e até mesmo entre a classe médica, afirma a psiquiatra e integrante da comissão de emergências psiquiátricas da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), Cintia de Azevedo Marques Périco. “Os próprios profissionais que lidam diariamente com essa questão têm muito preconceito e desinformação sobre o tema”, declarou.

A especialista lembrou que apenas a partir de 2011 os casos de suicídio passaram a ser de notificação compulsória, ou seja, os serviços de saúde obrigatoriamente precisam informar a ocorrência. “Isso nos leva a avaliar que pode ter tido subnotificação até esta data e mesmo depois disso. O registro é de lesão autoprovocada. As pessoas evitam falar e até escrever a palavra suicídio”, completou.

A abordagem em relação ao assunto também não é consenso nos meios de comunicação, mas Cíntia destaca que essa é uma parte importante do processo preventivo. “Precisamos falar sobre suicídio, porque existe, ocorre com muita frequência e cada vez mais cedo. Claro, não em abordagens sensacionalistas, mas para informar as pessoas sobre como pedir e oferecer ajuda”, relatou. “A pessoa que tenta ou consegue consumar o suicídio teve, tem ou terá um diagnóstico de transtorno mental. Conversar, estar perto, é uma das formas de se prevenir”, pontuou.

A psiquiatra destacou a importância de o tema ser abordado no período escolar. “Da mesma forma que existem campanhas preventivas para evitar o uso de drogas, a gravidez na adolescência, as doenças sexualmente transmissíveis, as escolas precisam envolver os professores, os alunos e as famílias com essa temática”, citou.
Cíntia afirmou que a questão precisa ser encarada como problema de saúde pública. “Dados do SIM (Sistema de Informação de Mortalidade) do Ministério da Saúde de 2017 apontam que o suicídio é a terceira principal causa de mortalidade entre homens e a oitava entre mulheres. De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), 800 mil pessoas se matam todos os anos e, mundialmente, essa é a segunda maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos”, declarou.

As notificações compulsórias foram passo importante para a classe médica entender melhor o fenômeno, assim como os estudos, que ainda são raros no Brasil, destacou a especialista. “Está em curso um estudo com uma droga que teria efeito sobre a ideação suicida. Tem mostrado resultados positivos e é um dos muitos caminhos a seguir”, considerou.

A especialista lembrou, ainda, a importância do diálogo dentro da família. “Estar atento às mudanças de comportamento, seja de pessoas jovens ou de pessoas mais velhas (ajuda). Pessoas que mudam de humor muito drasticamente, que se isolam, que são avessas à conversa. É preciso retomar o olho no olho dentro das casas, sair do ambiente virtual em que a maioria das pessoas vive”, exemplificou.

Outro detalhe, conforme Cintia, é a demora para que o paciente com quadro propício ao suicídio chegue ao sistema de Saúde. “Até a situação chegar ao profissional de saúde leva tempo. É preciso que todos se envolvam”, concluiu.
Setembro foi escolhido como o mês de prevenção ao suicídio desde 2015. As atividades do Setembro Amarelo foram iniciadas no Brasil pelo CVV (Centro de Valorização da Vida), CFM (Conselho Federal de Medicina) e ABP. Na região, Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema e Mauá contam com leis que integram a campanha no calendário oficial.

“Há alguns anos, as pessoas não falavam sobre câncer. Era ‘aquela doença’, no máximo. Com o passar dos anos, esse preconceito foi sendo quebrado. As pessoas começaram a falar e hoje temos índices de cura e de diagnóstico melhores. Claro que isso tem influência de exames mais eficientes, diagnósticos precoces, mas certamente também tem a ver com a quebra do tabu. É um exemplo do por que essas campanhas de prevenção ao suicídio são igualmente importantes”, citou a psiquiatra. 




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