Política Titulo 60 anos do Diário
‘Venho de uma família de artistas’
Por Vinícius Castelli
19/04/2018 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


Dizer que Ana Bottosso sonha, vive e respira dança não é pouco. Bailarina e coreógrafa, ela está à frente, como diretora, da Companhia de Danças de Diadema há 14 anos, trabalho que antes era feito pela amiga Ivonice Satie, idealizadora do projeto artístico, morta em 2008.

É em uma sala no Centro Cultural de Diadema, ao lado do Teatro Clara Nunes, que a mágica acontece e tudo é criado. Hoje são 26 obras no repertório. Além disso, Ana e o grupo realizam trabalho social com a comunidade da cidade, seja com crianças a partir dos 6 anos, até senhores e senhoras de 80.

Quando teve seu primeiro contato com o universo da dança?
O que me recordo era que, muito pequena, assistia na TV Cultura a programas que exibiam dança e achava aquilo tudo muito maravilhoso.

Quando sentiu que queria viver de arte?
Sempre senti isso. Não sei dizer quando não sentia.

O que fazia antes de se envolver por completo com arte?
Desde muito cedo, com 6 ou 7 anos, já estava envolvida com a arte, praticando aulas de dança, de piano, desenho. Venho de uma família de artistas. Minha mãe, pianista, e, meu pai, artista plástico. O universo das artes esteve sempre presente em meus dias, desde criança.

A dança mudou sua vida de alguma forma?
A dança muda a minha vida a cada vez que me redescubro nela.

Você é diretora da Companhia de Danças de Diadema. Como chegou ao grupo?
Sempre gostei muito de assistir à companhia, quando ela se apresentava em São Paulo. Costumo dizer que era a única companhia que me fazia sair de casa, seja a hora que fosse, para assisti-la. Sua linguagem, sua maneira de abordar a vida por meio da dança me deixava sempre curiosa. Certa vez, fazendo um curso de férias com a fundadora e então diretora da Companhia de Danças de Diadema, a Ivonice Satie, fui convidada por ela para fazer a audição (teste para novos integrantes) da companhia. Lá fui eu, fiz o teste, fui aprovada como bailarina e passei a compor o elenco juntamente com os demais bailarinos da equipe. Dali em diante, por gostar também de trabalhar na produção e nos bastidores de forma em geral, fui me aproximando da função de assistente de direção da Ivonice.

Antes de você, a Companhia de Danças era dirigida por Ivonice Satie (1950-2008). Como era trabalhar com ela?
<EM>Era simplesmente incrível. Satie, como sempre a chamei, era uma pessoa especial. Com ideias avançadas no que se referia ao papel da arte e do artista numa sociedade, conseguia transmitir seus pensamentos num dia a dia divertido, leve, bem-humorado, mas com muita responsabilidade. Aprendi muitíssimo com ela. Acho que ainda aprendo.

De que forma a Companhia de Danças contribuiu para sua vida?
Ela ainda contribui, pois trabalho nela, com ela e para ela intensamente, todos os dias. E é por meio deste trabalho que juntamente com a equipe de artistas podemos expressar nossos pontos de vista sobre o mundo, sobre a vida.

Além das apresentações que faz, a Companhia de Danças desenvolve trabalho social. Fale um pouco disso.
Sim, é uma companhia que tem um duplo perfil, porém, juntos se complementam: um deles trata-se de uma equipe de artistas que cria, desenvolve, apresenta suas coreografias, seja em Diadema, pelo Brasil e Exterior, levando o máximo que puder a difusão da dança por onde passar. E o outro, trata-se de equipe de artistas orientadores que desenvolve na comunidade de Diadema uma ação artístico-social por meio da dança, com crianças a partir de 6 anos, até senhores e senhoras de 80.

Como se sustenta a Companhia de Danças?
A companhia recebe importante apoio da Prefeitura do município de Diadema, por meio da Secretaria de Cultura. É a companhia desta cidade. Porém, para se sustentar, é necessário também que conquiste outras formas de apoio, outras fontes de recursos. Assim, por meio da Associação Projeto Brasileiro de Dança, muitos editais, projetos, propostas, leis de incentivo são desenvolvidos para que gerem maiores recursos para a sobrevivência da nossa trupe.

Recentemente a Companhia de Danças venceu o Prêmio Governador do Estado de São Paulo. Quão importante é isso?
Estamos realmente muito felizes com mais esta conquista. Pela terceira vez indicada, a companhia, neste ano, foi reconhecida pelo júri técnico e muito nos orgulhamos disso. Comemoramos este reconhecimento, claro, pelo nosso árduo trabalho, mas também por elevar o nome de Diadema no cenário das artes e da Cultura dentro do País. O Prêmio Governador do Estado de São Paulo, ao longo de décadas, vem premiando importantes nomes no cenário da Cultura do Estado de São Paulo. Estamos contentes demais por este reconhecimento agora. Além disso, foi um ano que começou com a conquista de importantes prêmios, pois também recebemos, neste ano, o reconhecido Prêmio APCA, pela obra de minha autoria Eu Por Detrás de Mim, o que também muito nos incentivou.

A dança já salvou a vida de alguém que você conheça?
A minha.

Como ela te salvou, e do que?
Quando digo salvar, quero dizer, me influenciou não apenas no aspecto profissional, mas me deu um rumo, um olhar poético à vida e ao ser humano.

Qual seu maior sonho, como bailarina, coreógrafa e arte-educadora?
Hoje, meu maior sonho é continuar a trabalhar com a dança, viver para e da dança por mais uns 50 anos.

Quão importante é o Grande ABC para o cenário nacional da dança?
O Grande ABC ainda tem muito a ser explorado no que se refere à dança. Quando realizamos um de nossos projetos, que é o ABCDança, percebemos isso nitidamente. Não apenas no sentido das manifestações por meio da dança, mas também no que diz respeito ao público que a dança conquistou na região. Reconheço que existem grandes talentos que nasceram na região, mas, por escassez de incentivo, de recurso, de espaço para se manifestarem, acabaram migrando para São Paulo ou outra cidade mais distante, ou mesmo outro país. Isso não pode acontecer. Penso que poderia haver mais investimentos na dança na região, para que estes talentos não necessitem mudar para continuar desenvolvendo sua arte.

Qual a maior dificuldade em trabalhar com dança?
É a dor... a dor da escassez de recursos financeiros e a dor no corpo que nossa profissão acarreta. Porém, a primeira ainda é maior e mais difícil de sanar do que a segunda.

Acha que a dança sofre preconceito no Brasil?
Ainda sofre. Preconceito por ser uma arte do corpo, do movimento, onde o corpo está em evidência. Ainda existem falha e compreensão do que seja se expressar por meio do movimento do corpo.

Que diferença a arte teve no seu crescimento como ser humano?
A presença da arte em meu desenvolvimento como ser humano fez e faz ainda muita diferença. Sinto que é transformação contínua e que muitas das vezes é a partir da arte que vejo e revejo o mundo, as pessoas, comportamentos, meu comportamento. E, assim, possibilita-me rever-me a cada etapa. Isso me faz sentir a vida. A arte nos faz sentir vivos.

Como acha que seria o Brasil se todos tivessem acesso à Cultura e à Educação?
Um País com menos diferença social, uma sociedade mais feliz com indivíduos mais plenos e satisfeitos.

Tem algum profissional do mundo da dança que te inspire?
Existem vários. Desde Mikhail Baryshnikov, Pina Bauch, Maurice Béjart, e meus amados mestres Ivonice Satie, Ilara Lopes, Luis Arrieta. Nossa, e tantos outros que admiro.

O que você sente quando está no palco?
Plenitude e alegria infinita.

Quantas peças a Companhia de Danças tem hoje?
Nosso repertório possui 26 obras.

Entre as obras do repertório da Companhia de Danças, qual te dá mais orgulho e por qual razão?
Nossa, todas são lindas, cada uma tem seu valor no que se refere não apenas à plasticidade, mas também à mensagem, ou ao processo, ou ao momento de sua criação. Toda obra nova transforma o elenco, agrega e enriquece a companhia. Mas em especial, minha última criação, EU por detrás de MIM, é a que mais me toca no momento. Não apenas porque foi premiada algumas vezes, mas porque foi a mais recente obra onde pude me expressar por meio dos corpos e interpretações dos incríveis bailarinos desta companhia.

A senhora se lembra quando teve o primeiro contato com o Diário?
Eu entrei na Companhia em 1998 e me lembro que já neste meu primeiro ano tive contato com o Diário.

Lembra-se quando o Diário publicou a primeira reportagem a seu respeito e do trabalho que realiza?
Puxa. Foi há muito tempo. Lembro-me que, especialmente quando assumi a direção, logo houve uma matéria a respeito. Isso deve ter sido em 2003. Mas com certeza o Diário publicou outras matérias sobre a Companhia de Danças antes dessa data.

Em algum momento da sua carreira artística o Diário lhe foi útil de alguma maneira?
Sempre. Toda divulgação dedicada aos nossos trabalhos é preciosa. Proporciona visibilidade à companhia e às nossas atividades socioculturais.

Acredita que o Diário ajudou ou ajuda a fomentar a arte na região de alguma forma?
Evidente que sim.

Na sua opinião, o que mais o Diário poder fazer para fortalecer a arte na região?
Acredito que fornecer uma agenda bem mais completa contendo as atividades artísticas, de toda e qualquer linguagem, da região. Sobretudo aquelas atividades que acontecem em lugares descentralizados.

Se pudesse realizar qualquer feito no Grande ABC, qual seria?
Uma mostra anual de dança, envolvendo representações, seja de qualquer estilo, da região. E que esta mostra pudesse conter vasta programação de ações formativas, bem como convidados especiais, de outras cidades, Estado ou País.

Que futuro espera para o Grande ABC?
Maior visibilidade no cenário das artes, e mais recursos do Estado para suas ações culturais.

Como e onde você vê a Companhia de Danças daqui a dez anos?
Dando continuidade cada vez mais aos seus projetos, criando outros tantos mais, e atingindo corações com sua energia transformadora.

Quer dizer algo mais?
Parabenizar o Diário por tantos anos de dedicação no Grande ABC e que continue a divulgar a dança e outras linguagens artísticas cada vez mais. 

Ana Bottosso e o Diário

Desde sua chegada à Companhia de Danças de Diadema, em 1998, ainda como bailarina, após convite para audição realizado pela ex-diretora Ivonice Satie, Ana Bottosso se lembra da participação do Diário junto ao projeto artístico. 

Ela recorda-se também que logo que assumiu a direção, o jornal fez uma reportagem a respeito, no ano de 2003. Ana acredita que toda divulgação que o Diário faz aos trabalhos do grupo diademense é preciosa, “proporciona visibilidade à companhia e às nossas atividades socioculturais”, afirma.




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