Economia Titulo Automotivo
Rota 2030 deve passar por período de transição

Governo deve liberar incentivo por 3 anos e, depois, apenas para quem gerar lucro, o que desagrada setor

Yara Ferraz
Do Diário do Grande ABC
04/04/2018 | 07:26
Compartilhar notícia
EBC


Solução encontrada pelo governo para conceder incentivos à indústria automobilística pelo programa Rota 2030, por meio de transição ao longo de três anos, preocupa o setor. Informações de bastidores sinalizam que em reunião esperada para o dia 12 o presidente Michel Temer (MDB) deve anunciar a concessão de créditos tributários de até R$ 1,5 bilhão para montadoras que realizarem investimentos em P&D (Pesquisa & Desenvolvimento), a serem abatidos em qualquer imposto federal. Porém, isso duraria por três anos. Após o período, a dedução seria prevista apenas no IR (Imposto de Renda) e na CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido).

Em outras palavras, a medida é paliativa, avaliam especialistas, e, no médio prazo, haverá benefício só se for gerado lucro. Pela proposta anterior, do Inovar-Auto, encerrado em dezembro, a partir do momento em que houvesse a produção local, o benefício era concedido, por meio de desconto no IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados).

O Rota 2030 era esperado para entrar em vigor até o fim de fevereiro. E a expectativa era a de que houvesse a continuidade dos incentivos fiscais de R$ 1,5 bilhão para o IPI, como propunha o Inovar-Auto, além de serem contemplados também estímulos para o desenvolvimento de veículos elétricos e mais seguros. No entanto, queda de braço entre o MDIC (Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços) e o Ministério da Fazenda tem sido entrave para a definição da iniciativa, segundo fontes do setor.

Caso a proposta dos três anos de transição para a implantação efetiva do Rota 2030 seja aprovada, passado esse período as montadoras seriam incluídas na Lei do Bem, criada em 2005 para incentivar o desenvolvimento de tecnologia nacional.

“Existem alguns critérios para que as empresas estejam incluídas na Lei do Bem. A empresa precisa ter lucro, tem que recolher o Imposto de Renda e a CSLL pelo lucro real e precisa ter certidão negativa de débitos, além de seguir os critérios de P&D”, explica o advogado Morvan Meirelles, especialista em Direito Tributário e Empresarial do escritório Meirelles Milaré Advogados. Conforme o especialista, o governo federal pode incluir na legislação políticas específicas destinadas ao setor automotivo para a inclusão da medida no Rota 2030.

O diretor de relações públicas e governamentais da Toyota, Ricardo Bastos, avalia que a implantação efetiva do incentivo, e não somente por um período, seria o ideal. Porém, mesmo que o texto aprovado esteja nestes moldes, a montadora deve apoiar. “O sistema de incentivo com créditos no IPI nos permite ter previsibilidade, que é muito importante, porque sabemos, a partir do montante que vamos investir, o percentual que teremos de volta. A Lei do Bem, por sua vez, não é tão clara sobre os investimentos em P&D, o que vemos com insegurança. Além disso, também não sabemos se a companhia terá lucro para compensar os recursos”, analisa. “A proposta nesses moldes não é o ideal mas, se baterem o martelo que este é o acordo, o importante é o Rota 2030 ser publicado o quanto antes”, completa o diretor, que também acredita na inclusão das metas de eficiência energética e de segurança dos veículos no programa.

EFEITO EM CADEIA - Para o diretor executivo do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wellington Messias Damasceno, nesse formato de incentivo maior por três anos e, depois disso, redução para desconto tributário atrelado ao lucro, o programa perde a robustez. Discutido em diversas reuniões desde 2017, a entidade tinha como bandeira a criação de órgãos independentes para realizar testes em veículos (para medir a segurança e a efetividade energética) e também para fiscalizar o nível de nacionalização dos veículos produzidos dentro do Rota. Questões como a capacitação dos trabalhadores também estavam na pauta.

“No longo prazo, o Brasil corre o risco de ficar fora da disputa global dos elétricos e da indústria 4.0. Corremos o risco de nos tornarmos produtores com tecnologia inferior a europeia, americana e japonesa. Se continuássemos na toada do Inovar-Auto, teríamos condições de sermos plataforma global. Mas, sem o programa, corremos o risco de, no longo prazo, nos tornarmos apenas montadoras de CKD (partes de veículos), e não desenvolvedoras de tecnologia. E isso atinge o Grande ABC em cheio, porque não estimula o desenvolvimento da cadeia automotiva.”

A expectativa é que reunião entre montadoras e governo federal, em Brasília, no dia 12, apresente o formato final do Rota 2030 ou defina quando isso será feito. Questionada pelo Diário, a Casa Civil afirmou que o tema ainda está em análise, sem previsão de data para conclusão, e que não há confirmação de agenda ou cronograma. O Ministério da Fazenda e o MDIC não se manifestaram sobre o assunto.


Indefinição do programa influencia vendas

A indefinição do Rota 2030 gera impacto até mesmo na projeção das vendas de veículos. Conforme divulgado ontem pela Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), a expectativa é a de que o crescimento do mercado chegue a 13% neste ano no setor. “Esse projeto já deveria ter sido aprovado anteriormente. No fim do ano passado, quando o Inovar-Auto expirou, o Rota 2030 seria o complemento ou a modificação dele. E sua implantação impacta no volume licenciado. Afinal, temos a importação de veículos que, embora seja em percentual menor, sem o programa ela ganha espaço e influencia nos emplacamentos domésticos (com mais incentivos, as unidades nacionais terão mais atrativos, e serão mais comercializadas). Em razão, disso chegamos neste número, e estamos na expectativa de que poderá ser aprovado, mesmo que parcialmente”, assinala o presidente da entidade Alarico Assumpção Junior.

Com a implantação do Rota 2030, a entidade acredita que as vendas e a qualidade dos veículos devem crescer. “Há expectativa dos produtores, dos quais somos distribuidores. Eles têm projeção de melhoria, por exemplo, na eficiência energética dos veículos, que no Inovar-Auto aumentou de 15% a 20%. Em virtude disso, acreditamos que as montadoras tenham mais segurança para investir, o que consequentemente reflete no aumento do volume de veículos produzidos e que serão distribuídos no mercado interno”, afirmou.

RECUPERAÇÃO - No primeiro trimestre deste ano, foram emplacados 545.515 veículos em todo o País. O número é 9,66% maior do que no mesmo período do ano passado, quando as vendas, que chegaram a 471.954, amargavam o pior resultado para o período em 11 anos. No Grande ABC foram licenciadas 10.826 unidades no período, sendo o mês de março – com 4.300 exemplares comercializados – o melhor resultado do ano.

Conforme o presidente, os dados são sólidos e mostram que a recuperação nas vendas está acontecendo. Além disso, março teve melhor desempenho que fevereiro, também por ter maior número de dias úteis. 




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;