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Primeiro astronauta brasileiro embarca na 4ª
Por Adriana Ferraz
Especial para o Diário
26/03/2006 | 07:49
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Um projeto científico batizado de MEK e desenvolvido pela FEI (Fundação Educacional Inaciana), de São Bernardo, embarca, literalmente, para o espaço nesta quarta-feira. O estudo do Efeito da Microgravidade na Cinética de Reações Enzimáticas será um dos oito experimentos de biotecnologia, microeletrônica, mecânica e biologia que o tenente-coronel da Força Aérea Marcos César Pontes levará durante a viagem a bordo da Estação Espacial Internacional.

Primeiro astronauta brasileiro, Pontes entrará para a história do país ao participar de uma missão de oito dias na nave russa Soyuz TM-8, a ser lançada do cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, às 8h29 locais (23h29, hora de Brasília).

A viagem tem objetivos científicos e tecnológicos, os quais permitirão que o Brasil tenha maior visibilidade em seu programa espacial. A viagem de um astronauta brasileiro ao espaço foi planejada em 1997, após acordo entre o Brasil e os Estados Unidos. O Brasil teria um tripulante incluído na missão com direito à participação científica e, em contrapartida, ofereceria equipamentos para montagem da estação à Nasa, a agência espacial norte-americana. No entanto, com a suspensão do programa de ônibus espaciais da Nasa, o Brasil aceitou o convite da Roscosmos, a agência espacial russa.

Enzimas - Para que o projeto da FEI fosse selecionado para fazer parte desta missão, foi submetido a um severo cronograma de testes e homologações que teve início ainda em solo brasileiro, no Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), de São José dos Campos, interior de São Paulo.

Segundo o professor responsável, Alessandro La Neve, no ano passado a FEI foi consultada sobre a possibilidade de preparar o experimento. "Na ocasião, havíamos mostrado interesse em participar de testes feitos em foguetes tripulados", afirma. Já em território russo, o projeto passou pela última bateria de testes, sendo aprovado em definitivo no início deste mês. O brasileiro, encarregado de fazer os testes foi, então, devidamente treinado.

Constituído de um dispositivo mecânico, o MEK é um minilaboratório desenvolvido para estudar os efeitos sofridos, em microgravidade, pelas enzimas lipase e invertase, amplamente utilizadas nas indústrias química, farmacêutica e de alimentos. Para La Neve, o sucesso do projeto poderá contribuir para uma melhor atuação do setor, tendo em vista que as enzimas utilizadas na indústria nacional são importadas. "Nosso esforço não visa apenas matar uma curiosidade. Tem como objetivo a utilização prática", garante.

A escolha pelo tema enzimas não surgiu por acaso. Segundo a coordenadora científica do MEK, professora Adriana Lucarini, este assunto merece atenção especial da universidade há alguns anos. "Temos vários estudos a respeito e esta será mais uma oportunidade de entender melhor os mecanismos que envolvem as enzimas", diz.

Segundo os coordenadores do projeto, as enzimas estão presentes em todas as células vivas. Agem como catalisadores biológicos e permitem que as reações aconteçam. "A digestão humana é um exemplo da sua ação", comenta Adriana.

A expectativa dos cientistas é que durante os dias em que Marcos César Pontes estiver em microgravidade muitas questões possam ser resolvidas. "Nossa ansiedade é grande. O resultado a ser obtido poderá gerar novas tecnologias."

Missão espacial

O escolhido
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Pela primeira vez na história, um astronauta brasileiro participará de uma missão espacial. O escolhido é Marcos César Pontes, nascido em Bauru, interior do Estado, e selecionado pela Nasa, em 1998, para participar de projetos espaciais.

- Para conseguir uma vaga na missão, o brasileiro foi submetido a um treinamento rigoroso, que incluiu atividades básicas de operação e manutenção de um ônibus espacial, bem como operação de experimentos científicos.

- O treinamento pessoal, planejado exclusivamente para Marcos, contou com aulas específicas sobre utilização de trajes especiais, equipamentos de emergência, alimentação e cuidados pessoais no espaço, operação de rádio amador e conhecimento da língua russa, entre outros.

A missão
- O foguete partirá no próximo dia 29 de março, às 23h30 (horário de Brasília), do Centro de Lançamento de Baikonour, no Cazaquistão. A nave Soyuz TMM-8 é uma Estação Espacial Internacional desenvolvida por 15 países; o Brasil é um deles.

- A espaçonave é composta de módulos laboratoriais científicos e operacionais para a realização de experimentos importantes. Nesta viagem, além do MEK, o brasileiro comandará mais sete testes nacionais.

- A missão conta com cinco objetivos científicos: desenvolver um laboratório orbital para a condução de pesquisas, fornecer acesso aos recursos de microgravidade, desenvolver habilidade para viver e trabalhar no espaço por longos períodos, criar uma efetiva cooperação internacional e, ainda, fornecer um ambiente adequado para o desenvolvimento de novas tecnologias.

MEK
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Desenvolvido pela FEI, o MEK visa entender melhor o comportamento das reações enzimáticas em microgravidade. Os coordenadores do projeto esperam obter resultados que ajudem a criar novas tecnologias para o setor.

- Composto de um minilaboratório, o projeto fará, no espaço, misturas envolvendo dois tipos de enzimas muito utilizadas na indústria nacional: lipase e invertase. Segundo os especialistas, o estudo ainda poderá otimizar custos na área e, assim, baratear produtos ao consumidor final.




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